"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 26 de junho de 2012

BRASIL CONSUMISTA! CLASSE MÉDIA LASCADA: CALOTE AVANÇA NA NOVA CLASSE MÉDIA


O alto nível de endividamento das famílias está derrubando o otimismo entre os consumidores e minando o já fraco crescimento da economia. Foi o que constatou a Fundação Getulio Vargas (FGV), ao promover pesquisa com mais de 2 mil domicílios em todo o país.

É entre os integrantes da nova classe média, com renda mensal de até R$ 4,8 mil, que se registra o maior pessimismo. Não sem razão:
muitos já devem mais da metade do que ganham e enfrentam o maior nível de endividamento em sete anos.

Pelas contas da FGV, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) tombou 2,8% em junho ante o mês anterior. Foi a segunda queda consecutiva, refletindo a dificuldade maior das famílias em manter as contas em dia.

Entre os entrevistados com rendimentos mensais de até R$ 2,1 mil, 23,4% devem mais de 51% do salário e 19,1% já recorreram ao calote por total falta de recursos.

No grupo com renda entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil, 24,1% estão com mais da metade da renda comprometida com endividamento e 8,8% se tornaram inadimplentes.

Entre os que ganham mais de R$ 9,6 mil por mês, apenas 12,5% devem mais de 51% dos salários e 3,6% se dizem incapacitados para quitar as prestações assumidas.

Apesar desse quadro assustador, o governo não para de dar incentivos ao consumo e ao endividamento. A alegação é de que as dívidas das famílias são de curto prazo e há a possibilidade de se renegociar os débitos a juros menores. A coordenadora de sondagens de expectativa do consumidor da FGV, Viviane Seda, não endossa essa visão otimista.

Infelizmente, não se pode dizer que essas dívidas se resolverão na curto prazo, disse. A tendência, portanto, é de a inadimplência continuar apontando para cima, inibindo a retomada do crescimento econômico.

Não à toa, vários economistas apontam para alta de, no máximo, 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Os indicadores de confiança da FGV são preocupantes, pois mostram que as medidas recentes do governo para estimular o consumo (como corte do Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI, de veículos) devem não surtir o efeito desejado de acelerar o PIB, afirmou o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro.

O professor de economia do Insper Otto Nogami foi além:
Pacotes de estímulos à economia baseados no consumo das famílias estão esgotados. A seu ver, o cenário internacional conturbado e sem perspectivas de melhora deve aumentar a insegurança do consumidor. A tendência é que o pessimismo e a inadimplência continuem crescentes nos próximos meses, apostou.


ROSANA HESSEL, Correio Braziliense
26 de junho de 2012

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