Não adianta. Sai governo, entra governo e o Judiciário continua o mesmo: “imexível”, inoperante, negligente e corrupto. Nem todos, é claro. Não estou falando do Supremo que, com essa reviravolta muito mais devida à obstinação de um homem e ao clamor popular por justiça, se superou. Mas foi episódico e único.
É no dia-a-dia que ocorrem as piores barbaridades causadoras de tragédias como a de Santa Maria, ontem.
Fiquei pasmo com o chefe dos
bombeiros da cidade dando entrevista à Globo durante horas, todo engomadinho,
quando o maior culpado é ele mesmo, por, primeiro, autorizar o funcionamento de
uma espelunca revestida com material altamente combustível e tóxico (isopor);
segundo que a tal licença estava vencida em agosto e o engomadinho apenas disse
que tinha notificado a casa quando deveria tê-la fechado até que as exigências
fossem cumpridas e, terceiro, que todos sabem que com qualquer dez merréis se
suborna um “chefe de bombeiros” para obter uma autorização de funcionamento até
de um açougue no meio de um lixão. E não adianta chiar. Todo mundo sabe
disso!
Já
tive três pequenas lojas cujos alvarás dos bombeiros foram dados sem que ninguém
da corporação fosse lá, fiscalizá-las. Isso sem suborno. Imaginem o que eles são
capazes com uma grana na mão!
Mas
não são só eles. Quando eu trabalhava em arquitetura havia um engenheiro em
Niterói cuja especialidade era assinar projetos para quem se propusesse a pagar.
Com sua banquinha literalmente no meio da rua, cobrava uma merreca e botava lá
seu jamegão e seu carimbo em qualquer porcaria. E o Conselho Regional de
Engenharia e Arquitetura (CREA) nada fazia. Nem estranhava o fato de um
engenheiro apresentar trocentos projetos por dia. Segundo eu soube, nada
mudou.
E
os médicos fraudadores de atestados de saúde e óbito, e os advogados que não só
defendem bandidos como se tornam membros de suas quadrilhas, e os contadores
manipuladores de números, todos igualmente corruptos que atuam com desenvoltura
em seus métiers sem que ninguém faça nada?
Quem se vale desses “serviços”
também é culpado. Não existe corrupto sem corruptor, se bem que haja atenuantes.
A “burrocracia” é um deles. Ninguém aguenta a morosidade proposital e criminosa
do serviço público, onde também há subornos aos montes. Existe até um suborno
institucional chamado de “taxa de urgência”: se um documento qualquer demorar um
mês para ser expedido, é só pagar o triplo, o quádruplo, sei lá, que ele sai no
dia seguinte. Isso é uma afronta oficial às Leis!
E a
nossa Justiça, o que faz? Nada além de participar também dessa orgia de
corrupção, seja por omissão ou interesse e, pelo andar da carruagem, pelos
poucos gatos pingados que lutam conta o que aí está, sempre ameaçados pelo
corporativismo criminoso quando ousam alguma medida moralizadora, a solução está
longe ainda. Infelizmente.
Prédios vão continuar a cair,
boates vão continuar pegando fogo, doentes vão continuar a morrer por falta de
médicos e as “autoridades” vão continuar se vendendo barato. E impunes todos vão
permanecer, apesar do autêntico genocídio pelo qual são
responsáveis.
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