Exatamente o que
parece estar acontecendo aqui na política de nossa pátria santa. Ninguém vê mais
nada e nada de mais, e a impressão é que as coisas estão sendo feitas no escuro,
na maciota, nas negociações, por entre névoas.
Que apagão que nada!
Liguem as luzes para
que a maquiagem dos números e contas públicas não saia torta - maquiagem no
escuro é uma roubada.
Fica toda
borrada.
Valhei-nos,
lanternas, velas, palitos de fósforo, lampiões, tochas e luzinhas de LED de
todas as cores! Valhei-nos! Janeiro dá passagem ao mês de fevereiro na avenida,
e os blocos já estão nas ruas - e não são os blocos de pré-sal, que esse Zinho
aí anda esquecido no enredo.
E porque essa música
que soa nos faz - aos que estão alertas - lembrar daquela velha analogia, a da
galinha, do ovo, de contar com os dois não sei onde. Contenha-se.
No mundo real, aquele
que a gente acorda cedo para ir trabalhar, ou se está lento, ou vagaroso,
periclitante. Primeiro, porque era o verão, as posses de prefeitos, as chuvas, a
chapinha do cabelo, a preguiça, e aí para que começar uma coisa tão próxima do
Carnaval?
Produção, que é
produção mesmo, novos negócios, aquecimento econômico, dinheiro circulando,
gente comprando, neca de pitibiriba.
No acender das luzes
desse próximo mês os-que-tinham-ido voltarão para nos assombrar lá no mundo
imaginário, lá no Planalto Central, naqueles prédios de enormes corredores
internos e que parecem uma cuia dividida.
Lá retornarão ao
poder os (poupe-me de nomeá-los, por favor) novosvelhos, que manterão a
iluminação do abajur lilás e da luz vermelha na porta - e lá não é bem um
estúdio de gravação.
Lá, onde não tem
apagão, não sinhô, seus pessimistas de plantão, imprensa ignara! Lá onde se
decidem as nossas coisas.
Onde eles estão se
juntando num bolinho só, para fazer a tal base de sustentação.
A massa pobre, que
vai pra batedeira, nem preciso descrever, não?
Lá.
Onde baixam nossas
contas de luz, mas é o dinheiro público que vai pagar a parte restante da
bondade. Entendeu?
Lá onde baixam uma
energia e elevarão a outra, que também tem impacto direto e enorme na inflação,
na alta dos preços que não param de subir nem no escuro.
Lá onde a chefe é
maquiada para aparecer bonita e simpática no quadradinho mágico da sala de todos
os brasileiros, anunciando que a luz não será apagada e poderá ser paga. O que,
portanto, não precisa ser muito inteligente para ver, poderá fazer aumentar o
consumo.
Mas lá garantem que,
como Deus é brasileiro, encherá os reservatórios, afastando - fiquem sossegados,
Mãe Dilmah dos Lobões sabe das coisas!- o perigo de faltar luz, de apagões, de
apaguinhos.
Inclusive na Copa. E
nas Olimpíadas.
O pibinho vai crescer
forte.
Lula, finalmente
iluminado, poderá saber mais das coisas, senão lendo, talvez ouvindo a rádio no
box do chuveiro, de água quente, para cozinhar nosso galo em banho-maria.
Estranho, reparou que
agora ele só aparece sempre pelos cantos, como se estivesse à espreita de algo,
esperando algo, como um chamado; que algo dê errado para ele palpitar; que
apareça mais algum inimigo para ele controlar, exterminar, jurar, como fez com o
DEM, como fez com a oposição.
A valsa até que
transcorreria sem deslizes, já que a essas coisas todas, no fundo no fundo
estamos até acostumados.
O que perturba,
novidade, pelo menos do meu ponto de vista, é que também se está apagando a
iluminação que vinha dos cérebros nacionais, as ideias luminosas, a energia para
modificar o percurso.
Que cabeças outrora
pensantes e olhos outrora atentos estão se acomodando no escuro, saindo à luz do
dia apenas em bandos para atacar os rebanhos dispersos à procura de um pastor,
que no caso não seria um cão.
Nem um clarão. Fiat
Lux!
São Paulo, 2013. O
poste já está instalado.
Marli Gonçalves é
jornalista - - Não podemos tocar a energia e nem vê-la, mas é ela que forma e
molda tudo o que conhecemos. É bom lembrar que ela não se perde nem se cria;
apenas se transforma.
28 de janeiro de 2013
Marli Gonçalves
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