Absolvido no julgamento do mensalão, o publicitário Duda Mendonça faz festa de Réveillon em sua mansão no litoral baiano, diz que 'tudo indica' que voltará a fazer campanhas e quer 'curtir o momento' em 2013
No jardim de sua propriedade de cerca de um milhão de metros quadrados em Taipus de Fora, na península de Maraú, no sul da Bahia, o publicitário Duda Mendonça comemorou a passagem do ano ao lado de seis de seus sete filhos, das três mulheres (as duas ex com seus maridos e a atual) e mais de 300 convidados. Entre eles, os advogados Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e Luciano Feldens, que o defenderam no julgamento do mensalão, em que foi absolvido.
O baiano recebe o repórter Morris Kachani inicialmente no gazebo que fica no lado esquerdo da casa, na linha de 300 metros que dá de frente para as piscinas naturais que fazem a fama da região. A conversa só é interrompida pelo ir e vir de um dos dois helicópteros de Duda no heliponto.
O encontro começa com um café, evolui para um chope (Duda lembra que havia encomendado seis barris, mas já haviam acabado; vieram mais 12) e termina com champanhe Moët & Chandon, que ele abre à moda dos generais franceses -com um facão que faz voar o bico da garrafa, junto com a rolha.
Em um tour pela propriedade, Duda mostra os pirarucus importados da Amazônia que cria em um lago artificial, o horto com árvores nativas como o dendê, e a cachaça exclusiva envelhecida em carvalho, produzida e presenteada por Emílio Odebrecht. Conta que também tem cinco cavalos e duas vacas: "Para as crianças tirarem leite. Quem mora em São Paulo não faz ideia de o que é isso".
Algumas horas mais tarde aconteceria a festa de Réveillon, que teve como ponto alto o banho de champanhe dado pelos filhos em Duda, em Kakay e em Luciano, ao som da canção das vitórias de Ayrton Senna na Rede Globo. A banda do novo gênero musical arrocha universitário Kart Love animou a noite.
Os funcionários da casa, segundo Duda, participaram da festa como convidados. Ele conta que presenteia os que têm mais de dez anos de trabalho para a família com uma casa. "Já paguei umas dez", afirma.
Duda faz questão de exibir a tatuagem da letra "Ç" estilizado, no tórax. "É nossa marca registrada e está tatuada em todos meus filhos homens", diz. A cauda de seu helicóptero e canecos de chope também levam a espécie de monograma da família.
Quando a conversa envereda pelas campanhas políticas, o publicitário que criou o slogan do "Lula paz e amor" em 2002 levanta o que parece ser sua bandeira atual -a de que os custos precisam ser barateados, coibindo o caixa dois ou qualquer tipo de doação ilícita. "Fazer TV é muito caro. É preciso acabar com esse horrível formato do horário eleitoral. Deveria haver um debate semanal no horário nobre. A interferência do marketing diminuiria."
"O marqueteiro aumenta o potencial do candidato, mas não faz nenhum milagre. Você pode passar detalhes técnicos a ele, mas não ensina o cara a debater. Isso depende do repertório de cada pessoa. E o marqueteiro só conhece as coisas de forma superficial -a gente vende leite, cerveja, sabão em pó."
Em 2014, Duda acha que se Dilma Rousseff for candidata, será reeleita, em condições normais. "O governador Eduardo Campos [PSB-PE] é um candidato forte, mas Dilma demonstrou personalidade. E o povo, que é quem elege, quer é comida na mesa. Não tá nem aí para uma revista como a 'The Economist' [que criticou a política econômica brasileira]. Isso é conversa para intelectual."
Aos 68 anos se define politicamente como "mais de esquerda". "Hoje o eleitor é pragmático. Só quer saber qual voto pode melhorar sua vida. Não quer saber quem é mais ou menos correto, se é de direita ou esquerda."
Esse pensamento, segundo ele, faz com que hoje "você não encontre diferença entre os partidos. As alianças são feitas por interesses políticos". E quanto ao PT? "Quando chegou ao governo foi obrigado a cair na real. Aí, o discurso muda. Mas ninguém pode deixar de dizer que depois de Lula o Brasil melhorou", diz.
A certa altura o advogado Kakay, de óculos escuros e sunga vermelha, interrompe a conversa para lembrar que seu cliente está orientado a não falar sobre o julgamento do mensalão.
Duda e sua sócia Zilmar Fernandes foram acusados de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Parte dos
R$ 11 milhões que os dois receberam pela campanha de Lula em 2002 foi paga em um paraíso fiscal.
Kakay assume as rédeas da conversa quando o tema é mensalão. E critica a transmissão do julgamento feita pela TV Justiça, ao vivo. "Nenhuma TV no mundo transmite um julgamento penal feito pela corte suprema. Essa superexposição precisa ser revista", diz.
Sobre a teoria do domínio do fato, citada no julgamento, o advogado brinca: "Com a ampliação de seu alcance, de fato faltou o domínio da teoria".
Para ele, o caso mostrou uma sobreposição de prioridades. "Na medida em que o STF ficou paralisado por cinco meses, por conta de um processo penal, outros julgamentos importantes acabaram sendo adiados, inclusive com réus presos."
Kakay dá o último gole em seu chope. Avisa que precisa ir ao encontro da mulher e de seu filho de sete anos que estão na praia. "A pior coisa do mensalão foi a Globo não ter ganho [o direito de transmitir] as Olimpíadas. Isso deu mais espaço para o julgamento", conclui, antes de sair.
Duda busca a garrafa de champanhe. Aliviado com a absolvição do STF, afirma que em 2013 "quer curtir o momento" e levar adiante a agência Blackninja em parceria com o sócio, o sociólogo Antônio Lavareda.
"Tudo indica", diz, que voltará a fazer campanha política em 2014. Afirma que "pode até ser" junto com João Santana (marqueteiro das campanhas de Dilma e Fernando Haddad), com quem já trabalhou em parceria. "Somos complementares."
Quem quiser tê-lo no comando de uma campanha terá que desembolsar muito dinheiro. "Sou um cara caro. Mas ninguém pode se enganar: quando aparece que o custo de uma campanha foi de 20 ou 30 milhões, é preciso lembrar que só 10% ou 15% vão para o marqueteiro."
Com as contas bloqueadas há seis anos no Brasil, Duda abriu fronteiras e hoje atende a maior rede varejista portuguesa, o Pingo Doce. Recentemente, inaugurou uma agência na Polônia, por conta da expansão das atividades do grupo português. "Criar campanha em polonês é loucura. Na música, a métrica é completamente diferente, imagine rimar três cês com acento", ri.
"No final você percebe que o mundo é igual e o ser humano quer as mesmas coisas em todos os cantos."
06 de janeiro de 2013
Mônica Bergamo
Folha de São Paulo
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