"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 6 de janeiro de 2013

FHC, O MARQUETEIRO DE AÉCIO


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tornou-se o principal operador político da pré-campanha do senador Aécio Neves à Presidência da República pelo PSDB em 2014.
 
Desde o segundo semestre de 2012, FHC, que lançou o senador candidato em dezembro, e Aécio cumprem juntos agenda de almoços e cafés com empresários e integrantes do mercado financeiro no eixo Rio-São Paulo. Em alguns encontros, aproveitaram para pedir ajuda financeira aos candidatos do PSDB na eleição municipal - o desempenho nas urnas era visto como determinante na montagem da candidatura para o Planalto em 2014.

A ação de FHC em prol de Aécio começou a se formatar após uma conversa entre os dois no apartamento do ex-presidente, em São Paulo, no começo de 2012. No encontro, os dois traçaram os principais movimentos para construir a candidatura não só no partido, mas em setores da sociedade. Por meio da ação de FHC, Aécio passou a se encontrar com ex-integrantes da equipe econômica do tucano para formatar um discurso econômico. Oficialmente, as reuniões são para discutir conjuntura nacional e internacional e orientar o partido, num momento em que o PSDB fala em rediscutir seu programa. Mas o pano de fundo é formatar o discurso para a campanha de 2014.

No último dia 26, FHC e Aécio se reuniram pela manhã no apartamento do senador no Rio com Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, formulador do Plano Real. A agenda, que se estendeu até o almoço e contou, depois, com a presença do ex-jogador Ronaldo, foi mais uma da série de encontros com os economistas. Desde a campanha presidencial de 2002, FHC viu o PSDB esconder atos da sua gestão, sob a alegação de que a população não aprovara a era tucana. A derrota na disputa presidencial de 2010 levou a um resgate da herança FHC, inclusive em temas mais polêmicos como privatizações e reforma do Estado.

A partir desse resgate, FHC passou a atuar mais na vida partidária - o tucano costuma parafrasear o ex-líder espanhol socialista Felipe González, segundo o qual ex-presidentes são como vasos chineses, grandes e bonitos, mas que ninguém sabe onde pôr. Passou, então, a defender a renovação do partido. No iFHC, núcleo de memória e centro de estudos que montou, criou agenda com jovens economistas e de outros setores da sociedade. Começou a ajudar na procura de um marqueteiro, o "João Santana do PSDB", como brincam tucanos, numa referência ao responsável pela comunicação do PT e pela imagem da presidente Dilma Rousseff.

A ação de FHC pró Aécio tem ainda um viés político. Ajuda a agregar setores do PSDB paulista, principalmente a ala sob a influência do ex-governador José Serra, no projeto do senador. "Os dois sempre foram muito próximos. O partido tentou se afastar da nossa herança. O grande pensador do PSDB é FHC", declarou o presidente do PSDB mineiro, Marcos Pestana.

Em movimento ensaiado, FHC lançou Aécio ao Planalto com o apoio do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Também no final do ano, em outro encontro em seu apartamento com Guerra, o ex-senador Tasso Jereissati (CE) e o secretário-geral do partido, Rodrigo de Castro (MG), decidiu-se que a estratégia presidencial do PSDB passava pela indicação do senador como presidente do partido.

No início, Aécio resistiu. Argumentou que causaria desgaste se tornar porta-voz das críticas a quase dois anos da eleição. Também disse que a liderança do PSDB afastaria potenciais legendas aliadas que hoje estão na órbita do governo. O mineiro tentou articular uma segunda opção, mas a tendência é que assuma a função de presidente do PSDB, até como forma de mostrar comprometimento com 2014.

"Ele gostaria que Aécio fosse mais arrojado. Mas esse também é o perfil do Aécio", afirmou um interlocutor de FHC, comentando o que muitos paulistas falam nos bastidores: Aécio parece titubear em relação à candidatura ao Planalto. "Aécio está se movimentando, sim. Principalmente no campo das ideias", diz o deputado mineiro Paulo Abi-Ackel.

Economia. O discurso do senador para 2014 será pautado pelo baixo crescimento do PIB, que deve fechar 2012 em torno de 1%. Para os tucanos, se a economia "patinar", o debate sobre o PIB será central em 2014, quando Dilma tentará se reeleger. Aécio desenha um discurso no qual mostra o Brasil na lanterna do crescimento entre os emergentes e aponta os dois primeiros anos de Dilma como "tempo perdido" para a economia - entre os países da América do Sul, o Brasil pode fechar 2012 com crescimento apenas maior que o do Paraguai.

O time de economistas da era FHC passou a municiar Aécio com análises sobre a conjuntura econômica nacional e internacional. As ponderações abordam o enfoque crítico na dobradinha inflação alta com crescimento baixo. "A rigor, a Europa está em crise. Os Estados Unidos estão se recuperando. O mundo em desenvolvimento cresce mais que o Brasil e com inflação menor. Estamos no final da linha na América Latina. O problema não está lá fora", disse Bacha, em palestra para a bancada do PSDB no Congresso mês passado.

No governo FHC, Malan e Armínio eram vistos como monetaristas, por defenderem o controle rígido da política monetária em contraposição aos desenvolvimentistas, mais favoráveis a políticas de incentivo ao crescimento. Durante a era FHC, (1995-2002), marcada pela estabilidade econômica, reformas do Estado e privatização, o País cresceu uma média anual de 2,48%. Nos dois mandatos de Lula (2003-2010), o índice foi de 4,65%. No primeiro ano de governo Dilma, o PIB cresceu 2,7%.
 
(Estadão)
 
06 de janeiro de 2013

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