O venezuelano Hugo Chávez pode — a exemplo do que aconteceu com seu ídolo Fidel Castro tempos atrás — aparecer em público qualquer dia desses e voltar a Caracas caminhando com suas próprias pernas, para espanto de todos os que o julgavam acabado.
Pode estar sobrevivendo à custa dos mesmos aparelhos que ajudaram a manter Fidel vivo e permanecer em estado vegetativo por muitos e muitos anos. Pode, a despeito de todo esforço feito ao longo de sua carreira para aproximar-se dos irmãos Fidel e Raul, estar neste momento mais próximo de outra personagem de sobrenome idêntico – a portuguesa Inês de Castro, a que foi rainha depois de morta.
Sim, Chávez pode passar à história por já estar morto no dia em que foi empossado para seu quarto mandato na presidência da Venezuela. Qualquer hipótese é possível. Afinal, sempre que falta clareza sobram especulações.
O mais espantoso de tudo é a intensa romaria de políticos a Havana, convertida de uma hora para outra numa espécie de Meca do neopopulismo latino-americano. Um a um, eles chegam, ficam algum tempo e vão embora sem acrescentar uma vírgula ao enredo macabro que vem sendo encenado nos últimos dias.
O destino de Chávez, seja ele qual for, terá um impacto formidável sobre a política e, por consequência, a economia da América do Sul. Por mais que ele tenha escolhido a dedo seus sucessores, é provável que o tal regime “bolivariano” que ele concebeu tenha as entranhas corroídas por disputas internas e abra espaço para outras forças políticas.
Será difícil a manutenção do mesmo nível de ajuda a Cuba e aos outros governos patrocinados por Chávez – entre os quais encontra-se, evidentemente, o da Argentina.
O fim da injeção de recursos nos países “aliados” além da desmoralização completa e definitiva do Mercosul certamente produzirão algum impacto na ordem econômica regional.
Depois de condenar o Paraguai por tomar uma decisão política prevista em sua Constituição e de ter acolhido a suciata “bolivariana” que deu posse a Chávez, só resta ao Mercosul apagar as luzes, trancar as portas e nunca mais aparecer.
Quanto ao Brasil, o melhor a fazer é esperar pelo desfecho dessa ópera bufa. A despeito da insistência de Nicolás Maduro, “sucessor” de Chávez, de que a presidente Dilma Rousseff aprova a patuscada venezuelana, o país tem se comportado com uma discrição positiva diante do problema.
Se com a saída de Chávez da cena a América do Sul vai optar pelo caminho virtuoso da Colômbia e do Peru ou vai mergulhar de vez no populismo sem rumo são outros quinhentos.
O melhor a fazer seria aproveitar a oportunidade e romper os vínculos com o neopopulismo que fez boa parte do continente andar para trás nos últimos anos. Mas com os vínculos ideológicos que prendem a Venezuela ao petismo histórico, talvez essa oportunidade seja desperdiçada.
16 de janeiro de 2013
Ricardo Galuppo
Fonte: Brasil Econômico, 14/01/2013
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