Congresso, Assembleias e Câmaras em recesso, ministros de Estado em férias ─ e há até quem note que não estão trabalhando (ainda bem: sai mais barato). Os condenados estão soltos, alguns subindo na vida, assumindo seus carguinhos bem remunerados. Mês morno, este janeiro. Há tanta falta de notícia que estão até descobrindo que Henrique Alves e Renan Calheiros, futuros comandantes do Congresso Nacional, dificilmente poderiam ser candidatos à canonização.
Mas as coisas podem mudar de uma hora para outra: o homem que sabe tudo, Geovani Pereira da Silva, foragido há quase um ano, condenado a 13 anos de cadeia, contador do bicheiro Carlinhos Cachoeira, de repente resolveu se entregar.
Geovani tinha sido o único a escapar da prisão na Operação Monte Carlo e, de lá para cá, ninguém foi capaz de encontrá-lo. Mas quem sabe os sentimentos que se escondem no coração humano? Segundo seu advogado, ele decidiu se entregar “porque ninguém consegue viver escondido”. Preferiu viver preso. Então, tá.
Mas imaginemos que ele tenha chegado a um acordo para contar o que sabe. Será um terremoto: o relacionamento legal ou ilegal de Carlinhos Cachoeira passa pela gigantesca empreiteira Delta e seu dono Fernando Cavendish (companheiro do governador fluminense Sérgio Cabral naquela grotesca Noite dos Guardanapos e dos Sapatos Vermelhos, em Paris), pelo governador goiano Marconi Perillo, por tudo o que se possa imaginar, envolvendo partidos diversos e dinheiro à vontade.
Haverá quem tenha saudades dos dias mornos de até agora.
Só ele?
Geovani Pereira da Silva disse que passou todo esse tempo foragido “porque tinha medo”. Quem sabe o que se imagina que ele saiba certamente terá medo.
E medo mesmo devem ter aqueles que gostariam que Geovani continuasse sumido.
Bandidos com voto
Um dos melhores repórteres do país, Eduardo Faustini, da Rede Globo, num trabalho excepcional, mostra o Brasil de verdade: aquele em que os prefeitos que deixam os cargos devastam o que podem para prejudicar seus sucessores, e o cidadão que se dane.
Em doze cidades distribuídas pelo país, Faustini encontrou a luz desligada por falta de pagamento, computadores com informações essenciais desaparecidos, abastecimento de água cortado (e só R$ 2,10 nos cofres municipais para todas as despesas, inclusive aluguel de caminhões-pipa).
Arquivos? Sumiram. Uma prefeita levou o computador e os móveis para casa, alegando que eram dela. Em outros municípios, os computadores estavam no lugar, mas os discos rígidos tinham sido formatados, apagando toda e qualquer informação. Levaram até o aparelho de raios-X do hospital e o motor de um carro oficial.
16 de janeiro de 2013
CARLOS BRICKMANN
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