Dos três níveis do Legislativo, a Câmara de Vereadores ganha por larga diferença o título de mais desmoralizada., Estou falando do Rio, mas o fenômeno é nacional.
Pouco importa se ex-vereadores subam, com mérito e aplauso, os demais degraus do Poder Legislativo. Ou que outros tenham longa carreira em outros mandatos, estaduais e federais.
Nada disso interessa: a Gaiola de Ouro, como dizia um apelido hoje esquecido, tem sido sempre a casa do Legislativo vista com mais desconfiança pelo respeitável eleitorado. O qual, curiosamente, jamais se lembra que foi obra sua a eleição dos engaiolados.
Talvez não fosse exagero dizer que temos, no Rio como em incontáveis municípios, um dos principais motivos para o nível de desconfiança, ou coisa pior, com que muitos cidadãos (talvez muitíssimos seja a expressão correta) tenham pouco respeito por uma fatia considerável da classe política.
E o pior é que o cidadão que não admira, ou ao menos respeita os seus representantes pode ter reduzido entusiasmo pelo cumprimento do direito (e obrigação) de votar em todos os níveis.
Deve-se incluir no rol dos responsáveis por esse desagradável estado de coisas os dirigentes partidários que escolhem os candidatos. O eleitor tem todo o direito de acreditar que os seus futuros representantes são escolhidos principalmente pelos currais eleitorais que representam — com atenção reduzida por suas virtudes como cidadãos.
Tudo isso sabemos, de muito longa data. Mas vale a pena lembrá-lo a propósito de episódio desta semana: Na mesma sessão, foram eleitos os membros da Mesa Diretora. A escolha do presidente da Casa demorou minutos.
Curiosamente — ou curiosamente coisa nenhuma — a eleição do primeiro-secretário quase que deu em briga de foice (em sentido figurado, deve-se lembrar, por razões históricas, alguns poderiam dizer).
Houve mais de uma hora de dura discussão, até a escolha de Dr. Jairinho (esse é o seu, digamos assim, nome parlamentar; gosto não se discute). O motivo da briga de foice — em sentido figurado, sempre é bom lembrar — era a primeira-secretaria.
Por uma singela razão: o primeiro-secretário cuida da administração e da movimentação financeira da casa.
É inevitável concluir que cuidar do dinheiro da Casa é função com mais força e prestígio do que conduzir a tramitação de projetos que interessam ao povo carioca.
Não me atrevo a especular por que será que isso acontece.
04 de janeiro de 2013
Luiz Garcia, O Globo
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