"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

SEMELHANÇAS ENTRE O IMPÉRIO ROMANO E A UE

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União Europeia não pode permitir que a crise do euro afaste países membros     (Reprodução/Internet)
O “antigo império” oferece lições surpreendentes para a União Europeia de hoje em dia
Os congressos eram mais divertidos antigamente. Quando Ferdinando III, o monarca Habsburgo do Sacro Império Romando, chegou a Regensburgo, a Bruxelas daquela época, ao fim de 1652, trazia 60 músicos e 3 anões. Havia passeios de trenó, fogos de artifício e a primeira ópera italiana encenada em território germânico.
 
Além disso, o Reichstag (assembleia imperial) se parecia bastante com o Conselho Europeu (a reunião dos líderes dos estados membros) de hoje em dia. O imperador chegava com um séquito de 3.000 pessoas para se encontrar com os príncipes, bispos, margraves e outras pessoas importantes do império.
Eles negociaram por mais de um ano.
 
Quando Ferdinando retornou a Viena, com 164 navios deslizando pelo Danúbio, muita coisa havia acontecido.

No entanto, o teor exato desses acontecimentos tem sido discutido com entusiasmo por historiadores desde então, e hoje em dia essa discussão se tornou especialmente relevante. A visão tradicional é a de que a Europa Central, exausta devido à crise (a Guerra dos Trinta Anos, a qual havia acabado em 1648), fracassava novamente em se organizar para formar uma união propriamente dita – isto é, estados centralizados.

Portanto, ao longo dos 150 anos seguintes, o “antigo império” se decompôs devido à fragmentação até se tornar geopoliticamente irrelevante. Conforme o historiador prussiano Heinrich von Treitschke descreveu no século XIX, a região se tornou “uma mixórdia de formas imperiais decadentes e territórios inacabados”, até que o fim de sua existência em 1806 foi marcado por um soluço que mal pode ser ouvido.

Tal leitura serviria como alerta para que os líderes da UE de hoje não repitam a história: Vós não deveis permitir que a crise do euro transforme forças centrípetas ("união cada vez mais próxima) em forças centrífugas, com países membros saindo da zona do euro ou mesmo da UE.

Isso geraria uma dissolução gradual da UE semelhante à dissolução do império romano, a qual exporia o continente à sua antiga maldição de Kleinstaaterei (estatismo diminuto) em um mundo de gigantes como EUA, China e Índia. Na pior das hipóteses, as antigas energias nacionalistas voltariam à tona, do mesmo modo que saíram do controle um século após 1806.

Contudo, há uma visão revisionista que se originou na Alemanha em décadas recentes, mas que é cada vez mais aceita em círculos acadêmicos de outros lugares, que encara a estrutura institucional do império que emergiu do Reichstag de 1653 como um protótipo da UE moderna.
No entanto, seus proponentes afirmam isso de maneira positiva. Peter Claus Hartmann, historiador da Universidade de Mainz, afirma que o antigo império, embora não fosse politicamente ou militarmente poderoso, era extraordinariamente diverso e livre de acordo com os padrões da Europa da época. Como um de seus súdito, JohannWolfgang von Goethe, escreveu, o continente era uma lugar "em que, emtempo de paz, todos podem prosperar".

De acordo com essa leitura, os líderes da EU de hoje não precisam temer uma "união mais folgada". Eles poderiam saudar a crise como uma oportunidade, como em 1653, de refinar e consertar as estruturas federalistas da UE.

Isso significaria aceitar a ideia de soberania dual (isto é, ambígua), outrora dividida entre o imperador e os príncipes, hoje em diaentre Bruxelas e os estados membros. Com o princípio da "subsidiariedade", o qual organizar tanto o império quanto a UE, a Europa pode permanecer livre e feliz, afirma Hartmann.
04 de janeiro de 2013

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