"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 10 de fevereiro de 2013

A DOUTORA PROMETE E O MEC PODE NÃO ENTREGAR

 

Depois que as escolas de samba passarem, a doutora Dilma poderá chamar o comissário Aloizio Mercadante para afinar o discurso do governo em relação à promessa de que seriam realizados dois exames do Enem neste ano.

Quando essa iniciativa nasceu, em 2009, esse era o projeto e nisso estaria a sua maior virtude. Em vez de jogarem um ano de suas vidas numa só prova, os estudantes teriam duas oportunidades. (A garotada americana tem sete.) A cada ano, o governo prometeu que o segundo exame seria realizado no vindouro. Nada.

Em janeiro de 2012, a doutora disse o seguinte:

“No ano que vem, [serão] duas edições”.

Um mês depois, Mercadante acrescentou: “Estamos trabalhando nessa possibilidade”.

Em janeiro passado, o jogo virou. O ministro Mercadante disse ao repórter Demetrio Weber que “não temos, neste momento, a necessidade de um novo exame. O problema não é o risco, o problema é o custo. Nós dobraríamos os custos do Enem”.

Tudo bem, mas quem precisa de dois Enem são os estudantes, não o comissariado, e quem prometeu dois testes foram seus dois ministros da Educação e a doutora Dilma.

Enem Fortaleza - 2012 - Foto: André Teixeira/G1

O último exame custou R$ 271 milhões, e Mercadante argumenta: “quantas creches eu construo?”. Se é para fazer conta de padaria, o ministro poderia perguntar quantas creches construiria com o dinheiro que seus companheiros recebem, acima do teto de R$ 26 mil mensais, vindo de conselhos e auxílios-moradia. Coisa de uns R$ 2 milhões anuais.

Ademais, tendo prometido entregar seis mil creches até o fim de 2014, em dezembro de 2012 a doutora entregara apenas 20. Cabe a pergunta: o MEC tem um banco de questões capaz de aguentar dois testes do Enem?

Quem acreditou nas promessas de Fernando Haddad enquanto ele esteve no Ministério da Educação fez papel de bobo. Inclusive o signatário, que não acreditou na promessa da doutora, por escaldado.

10 de janeiro de 2013
Elio Gaspari é jornalista

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