- Dura esta conversa de Primavera Árabe, né? Dura, pois é repetitiva e dura pela sensação de que a encrenca anda em círculos. Onde tudo começou há pouco mais de dois anos, a Tunísia, parece que a coisa voltou ao ponto de partida, com o assassinato do líder oposicionista (e secular) Chokri Belaid na quarta-feira.
- A moçada foi às ruas para protestar, com os salafistas na espreita ou atuando como vigilantes, muitas vezes com a conivência do partido islâmico Nahda (versão local da Irmandade Muçulmana), que lidera a coalizão de governo.
- Duro ver o dia-a-dia da história, se a gente acompanha os eventos freneticamente minuto a minuto e não através do arco mais amplo, ao estilo da “longue durée” do historiador Fernand Braudel. Duro diferenciar entre tendências a longo prazo e pressões momentâneas. Sempre mais cômodo e bombástico, pinçar um fato do dia e determinar o destino das coisas ali no ato. Eu que o diga, beneficiado profissionalmente pela era do blog.
- Nossa, que papo-cabeca, que folia intelectual. Mas não vamos mudar de enredo, em homenagem ao carnaval. E especialmente para quem não dá bola para os folguedos (gente da minha escola sem sambistas) e terá tempo de folga, deixo aqui dois textos de fôlego para leitura até domingo sobre este enredo da Primavera Árabe.
- Digamos que são dois blocos na avenida. Um é o da Promessa e o outro, da Miragem. O patrocínio do desfile é da revista Foreign Affairs e as duas expressões estão nos títulos de dois ensaios.
- Porta-estandarte (ok, autor, mas vamos continuar carnavalescos) do bloco Promessa é Sheri Berman, professora da Columbia University.
- Ela viaja na história (é especialista em Europa) para argumentar que o pessimismo disseminado sobre o destino da Primavera Árabe é “quase certamente” fora de lugar.
- Com as típicas ressalvas acadêmicas, tipo que a caminhada será penosa e o Oriente Médio tem seus próprios atributos, Berman diz que o mundo árabe não será uma exceção permanente às regras de desenvolvimento político. Para ela, os críticos conservadores da democracia estarão errados desta vez, como estiveram sobre outros paises que supostamente estavam em melhores condições sob a tirania.
- Já o porta-estandarte do bloco Miragem é Seth G. Jones, professor da John Hopkins University e diretor-associado da Rand Corporation. Ele alerta para “lidarmos com a região que temos e não com a que queremos”. Esperança é uma armadilha analítica.
- Para Jones, as insurrreições dos últimos dois anos representam um “desafio significativo” para o domínio autoritário no mundo árabe. Mas, ele arremata que as “condições estruturais” parecem impedir uma liberalização política na região. Ademais, corrupção e estagnação econômica devem minar progressos adicionais.
- Leitores podem pedir passagem e avançar na avenida com suas reflexões.
Veja
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