A reunião de suposto congraçamento entre a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac, versão latina da Organização dos Estados Americanos sem os EUA e o Canadá) e a União Europeia, ocorrida em Santiago do Chile no fim de janeiro, revelou o velho anacronismo existente em boa parte dos países da região dirigidos sob uma visão terceiromundista.
Inútil encontro porque restou apenas a constatação de que a “estratégica associação transatlântica” pretendida jamais se solidificará frente à existência da brecha político-ideológica que separa países latino-americanos com visões planetárias da outra metade que ainda cultuam gestões político-econômicas do passado.
O pior da história é que o Brasil parece situar-se no lado errado, ainda preso à “Doutrina Garcia” (esplendidamente destrinchada em magistral artigo do sociólogo Demétrio Magnoli).
Como principal conselheiro presidencial para assuntos externos, suas opiniões conduziram a política externa brasileira nos últimos dez anos a um estrondoso fracasso. Logrou destronar o Ministério das Relações Exteriores de seu encargo constitucional ao induzir os dirigentes do país a seguir os ditames “lulopetistas”, “chavistas” e “kirchneristas” de integração regional e aversão aos países capitalistas.
Não é por outra razão que o Brasil, supostamente o líder econômico continental, aceita e até apoia toda sorte de subversões comerciais praticadas pela Argentina no último decênio. Outro feito importante da dita “doutrina” foi orientar o governo a participar do conhecido plano para ingressar a Venezuela no Mercosul pela janela.
Em matéria de relacionamento extrarregional, o bloco dispõe apenas de dois insípidos acordos vigentes com a Índia e Israel e três outros com a União Aduaneira da África Austral (Sacu, na sigla em inglês), Egito e Palestina à espera de aprovações parlamentares.
Os (des)entendimentos com a União Europeia estão próximos de completar vinte anos e, a julgar pela Argentina, jamais serão finalizados enquanto perdurar a atual postura Kirchner, enquanto o Brasil, preso às amarras da Decisão do Conselho do Mercado Comum do Mercosul 32/00, não tem outro papel a não ser ir dourando a pílula.
Enquanto isso, os países da Aliança Atlântica (Colômbia, Chile, Peru e México) — contando com crescentes observadores (Panamá, Costa Rica, Uruguai e mais recentemente o Paraguai) — estão voando à velocidade do som para recuperar décadas perdidas de atrasos e demagogias.
E nós? Como estamos no período de carnaval, só nos resta cantar o conhecido samba-enredo da União da Ilha:
“O que será o amanhã?
Descubra quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será o que Deus quiser...”
10 de fevereiro de 2013
Mauro Laviola é vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil
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