Ontem, logo cedo, deu início ao cumprimento das duas. Telefonou pessoalmente para Eduardo Cunha, eleito líder do PMDB (“o nosso partido”, fez questão de ressaltar) consagradora e “unânime” votação de 56 parlamentares em 78. Fez questão de dizer, nada de bajulação mas excesso de carinho: “Gosto de ser senador, mas neste momento queria ser deputado para votar em você”.
O polêmico Eduardo Cunha (todos o chamam assim) quase chorou e agradeceu: “Valeu a pena ter chegado até aqui, para ter a honra de ouvir essas palavras de um homem como você”.
A transparência, Renan tem exercido e demonstrado com os 55 companheiros (teve 56 votos, mas 1 foi dele mesmo), não pratica a oposição, a não ser que os atingidos por ele, já tenham sido atingidos pela desgraça e estejam caídos no chão.
CONSELHOS E ADVERTÊNCIAS
Esses dedicados companheiros e parceiros têm dito a Renan: “Você não pode se descuidar do Supremo, os processos lá, agora estão tramitando em alta velocidade”.
Renan riu, agradeceu e respondeu em duas partes, usando clareza e aparente conhecimento dos processos e de pessoas.
Sobre o ministro Lewandowski, relator da denúncia contra ele:
“O ministro é dos nossos, está com excesso de processos, provavelmente não relatará esse caso até o fim do ano, e assim mesmo para mandar arquivar essas acusações perseguidoras”.
Sobre o Procurador-Geral, foi cáustico, duro, e falou às gargalhadas: “Esse Roberto Gurgel não tem o menor prestígio ou seguidores no Supremo. Além do mais, seu mandato termina em maio (é em junho), não pode ser reconduzido. “Aliás, foi um equívoco ter dado mais 2 anos de mandato a esse senhor”.
Alguém perguntou, os companheiros são sempre solícitos e preocupados, “você vai responder às injúrias do jornalista Ricardo Noblat, no Globo e no blog?”. Renan fingiu atendeu o celular, não respondeu.
O que disse Noblat? Deu conselhos “úteis-inúteis” a Renan como comportamento público: não ir a supermercados, não dar a caminhada matinal (cheia de políticos e jornalistas) na beira do Paranoá, e por aí em diante. Não foi injúria, cautela com o que pode acontecer com o presidente do Senado.
A DESPEDIDA DO BRAVATEIRO MARCO MAIA
Na Câmara a sessão começou às 10 em ponto, mas a consagração de Henrique Eduardo Alves muito mais tarde. O presidente Marco Maia leu um volumoso relatório sobre as atividades do que chamou de “meu biênio”. Fez a mesma auto-apologia e idolatria de Sarney, só que em tempos diferentes.
Sarney falou depois da vitória (que República) de Renan. Maia preferiu falar antes, com o plenário quase vazio.
Maia fez o mesmo que Renan, “discurso histórico e quase presidencial”. Só que Renan está em ascensão, Marco Maia em queda livre. Quer um cargo qualquer, Dona Dilma não o ouve ou nomeia. Esse apanhado de tolices e inverdades, durou 63 minutos, o plenário já estava quase lotado.
Não podia deixar de agredir o Supremo. Disse textualmente que “cabe ao Supremo respeitar a Constituição e não ocupar espaço que pertence ao Legislativo, e que vem sendo feito pelo Judiciário. Manifesto minha total preocupação com esse fato”.
Agradeceu a Sarney “o ótimo comportarmento comigo”. Naturalmente queria se referir aos 3 mil vetos não apreciados, isso só poderia ter acontecido com a parceria Maia-Sarney.
Terminando: “Quero agradecer aos jornalistas, sempre respeitosos com ESSE presidente”. Erro crasso de português, deveria ter dito: “Respeitosos
com ESTE presidente”.
A VEZ, ÀS VEZES SOTURNA, DOS VÁRIOS CANDIDATOS
Rose de Freitas, uma revelação presidindo a Câmara, mesmo interinamente, usou um tom simples mas emocional. Nenhuma restrição à sua candidatura. Só que pela atuação correta, desagradou muita gente, principalmente a cúpula do seu partido, o PMDB.
O deputado dos 42 anos de mandato (que lembrava a todo momento) começou pedindo uma salva de palmas para Marco Maia, o silêncio continuou o mesmo. Também usou à vontade as palavras honra, orgulho, coerência, caráter, dignidade, e foi por essa larga avenida, totalmente necessitando de asfalto. E não é o deputado que conseguirá consolidar alguma coisa.
Perguntinha que ele não colocou nem respondeu: Por que só depois de 42 anos (onze mandatos, como gostava de lembrar) resolveu ser presidente da Câmara? A resposta é óbvia e irrefutável: nunca na distância dos tempos a corrupção é tão visível e poderosa.
Julio Delgado, o mais gritador de todos, afirmou: “Eu sou do Partido Socialista”. Teoricamente é mesmo. Mas então por que não é nem foi apoiado pelo presidente e dono do PSB, governador Eduardo Campos? Não há resposta, existe contradição em excesso.
Chico Alencar foi o mais realista, falando em desalento e desânimo com tudo o que está acontecendo. E ressaltou registrando, “não apenas nesta Câmara”. Foi sincero, era candidato de protesto, sem chance de vencer. Mas candidatura importante.
ÀS 14,16 DE ONTEM À TARDE, EDUARDO ALVES SENTAVA NA CADEIRA DE PRESIDENTE DA CÂMARA
Estava ansioso, ofegante, esperando que Marco Maia acabasse de se elogiar, para ele assumir. Depois dos 42 anos que tanto lembrou, passava a ser presidente, dono de tudo. Inclusive o direito de repetir as bobagens de antes.
Votaram 497 deputados, o vencedor precisava de metade mais um desse número e não dos 513 da totalidade da Casa.
Para vencer no primeiro turno, seriam necessários 249 votos. O corruptíssimo Henrique Eduardo Alves teve 271 votos, 22 a mais do que o necessário. E sem nenhuma explicação sobre as denúncias, que ele chamou de “coisa pequena”.
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PS – Surpresa foi o candidato do PSB, que teve 166 votos. O dono do partido e de toda a ambição acumulada, Eduardo Campos, deve estar constatando o enorme erro de apreciação.
PS2 – E na certa estará refletindo: “Se eu tivesse apoiado o Julio Delgado, e fizesse o trabalho que fiz para levar minha mãe ao Tribunal de Contas, estaria agora com o presidente da Câmara”. Ou será que ele não queria um correligionário crescendo?
05 de fevereiro de 2013
Helio Fernandes
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