Integrantes das Mesas Diretoras e dirigentes partidários têm em seus currículos listas de processos
Os novos integrantes dos comandos da Câmara e do Senado passaram pelo filtro da Lei da Ficha Limpa, em muitos casos, porque o Judiciário não foi ágil para julgar uma enxurrada de processos que tramita em várias instâncias. Nem todos têm um currículo exemplar para apresentar.
O time de dirigentes e líderes partidários escolhidos por seus pares dá à opinião pública a sensação de que o Parlamento desdenhou de quesitos como ética, moralidade e idoneidade. Está com as cartas nas mãos a partir de hoje um grupo de políticos polêmicos, muitos com processos no Supremo Tribunal Federal.
A presidente Dilma Rousseff vai sofrer, dizem políticos experientes. Abaixo dela, na linha sucessória da Presidência, só há integrantes do PMDB, alguns com problemas na Justiça: o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Henrique Alves, e o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Outros nomes polêmicos figuram ainda em outros cargos das duas Mesas Diretoras e na liderança dos principais partidos — como Eduardo Cunha (RJ) no PMDB; José Guimarães (CE) no PT; e Anthony Garotinho (RJ) no PR.
Eles foram eleitos pelo voto popular e, internamente, mereceram a confiança de seus pares para assumir postos de comando, mas respondem a processos no STF ou já foram personagens de grandes escândalos. Não aceitam, porém, ter seus nomes questionados.
— O Parlamento aprovou a Lei da Ficha Limpa para ter pessoas dentro desses critérios. Logo, todos que aqui estão são aptos a ocupar qualquer cargo — disse Eduardo Cunha, investigado em dois inquéritos no Supremo.
No caso de Renan, além da denúncia da Procuradoria Geral da República, que o acusa de usar notas frias para provar patrimônio, ele responde a outros dois processos no STF: um por tráfico de influência e outro por crime ambiental. Todos em segredo de Justiça.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) discorda de um colega do PMDB, que nesta segunda-feira considerou a situação constrangedora.
— Constrangimento deve ter o STF, essa sigla que deve ter entre seus processados o maior número de deputados e senadores e não os julga. Deveria ter maior presteza e celeridade, para evitar situações como a de uma reunião (recente) sobre reforma do Código Penal, em que tinha ao meu lado o João Paulo Cunha (condenado no mensalão).
Vossas Excelências devem prestar mais atenção nos constrangimentos a que estão nos submetendo — disse Miro, criticando a morosidade da Justiça.
Sem prazo para caso Renan no STF
Presente nesta segunda-feira no Congresso, para a abertura do ano legislativo, o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, disse que a análise do caso de Renan na Corte não tem prazo, e vai depender da prioridade dada pelo relator, ministro Ricardo Lewandowski:
— Qualquer ação criminal passa por ritos que não podem ser desobedecidos, têm que ser observados. Não há perspectiva de julgamento nestes dois próximos meses, porque há prazos. Pode demorar um pouquinho, depende da prioridade que o relator der ao caso.
Na Câmara, o novo presidente, Henrique Alves, não responde a nada no STF, mas foi condenado por improbidade administrativa na Justiça de primeira instância do Rio Grande do Norte.
Tem sido citado em denúncias de desvios de apadrinhados políticos em cargos federais, e sobre destinação de emendas parlamentares para um ex-assessor.
— Aqui as falhas são enaltecidas. A opinião pública que hoje protesta vai votar em 2014 e, provavelmente, vai reeleger quase todos de volta — disse o deputado Esperidião Amim (PP-SC), ressaltando que processos e escândalos não têm repercussão no colégio eleitoral do Congresso.
— Querida! Processo não é julgamento! Trezentas mil pessoas assinaram contra a eleição de Renan. Mas somos 192 milhões de brasileiros! Churchill disse: “There is no public opinion. There is published opinion (“Não há opinião pública, há opinião publicada”)”.
E o que O GLOBO e outros jornais escreveram sobre Henrique não me convenceram, votei nele — afirmou, em outro canto, o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), ele mesmo um caso da morosidade da Justiça.
05 de fevereiro de 2013
Maria Lima e André de Souza - O Globo
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