Eduardo Suplicy, de contestador a soldado do PT. Com a candidatura à reeleição ameaçada, senador muda de postura
Já não é mais o mesmo o velho e conhecido senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que nos últimos dez anos criou inúmeros constrangimentos para o PT ao não concordar em sacrificar a defesa da ética em nome da governabilidade.
Desde que foi comunicado que o partido pretende ceder, nas eleições do ano que vem, sua vaga no Senado para uma sigla aliada, ele mudou de comportamento e agora parece se esforçar para agradar à cúpula do PT. Mudou o partido? Mudou Suplicy? Ou mudaram muito os dois? Ao que parece, tudo mudou.
Na semana passada ele compareceu, em Brasília, em ato de solidariedade ao ex-ministro José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão no julgamento do mensalão, o que dificilmente ocorreria em seus tempos de petista questionador. Dias antes surpreendeu até mesmo colegas de bancada ao concordar, da tribuna, em votar no senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado, mesmo salientando que preferia que o PMDB indicasse outro nome.
Acabou ganhando pontos entre os senadores do PT. O discurso predominante na bancada era que votar no peemedebista fazia parte do ônus de ser governo.
— Mesmo o Suplicy e o (Paulo) Paim, que têm mandatos muito ideológicos, entenderam a importância de respeitarmos a proporcionalidade e apoiar o candidato indicado pelo PMDB — disse o senador Jorge Viana (PT-AC), eleito 2º vice-presidente do Senado.
Sobre sua presença no evento de Dirceu, Suplicy disse que não foi lá para dar apoio, mas para ouvir do colega sua versão dos fatos. Além dele, o único senador do PT que compareceu foi o apagado Aníbal Diniz (AC), suplente de Tião Viana, que renunciou ao ser eleito governador.
Com 71 anos, Suplicy está no Senado desde 1991, tendo sido por muitos anos o único senador do PT. Ele refuta a versão de que abandonou a independência para garantir a vaga e disputar novamente o Senado.
Em conversa com O GLOBO, Suplicy disse que não gostou de algumas coisas que ouviu no discurso de defesa de Dirceu, no evento em Brasília, principalmente a acusação feita pelo ex-ministro de que a oposição faria caixa dois. Para Suplicy, os petistas teriam que fazer um mea-culpa. Ele não concorda com a versão de que o mensalão é uma invenção da mídia e da “direita”.
— Seria apropriado que assumíssemos o compromisso de não mais usá-lo (caixa dois). O (ex-tesoureiro) Delúbio (Soares) reconheceu em depoimento que usou recursos não contabilizados.
Mesmo assim, Suplicy defendeu que os petistas condenados — Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha — cumprissem penas alternativas, como dar aulas de alfabetização ou História:
— Eu visitei o (jornalista) Pimenta Neves em Tremembé (presídio) e ele pediu que eu avisasse ao Zé Dirceu que lá não é como ele imagina, que não dá para usar computador para estudar como ele quer. Mas que a biblioteca é boa.
Senador quer prévias para definir vagas em 2014
Ao mesmo tempo em que se empenha para não criar constrangimentos para o PT, Suplicy não pretende dar sossego à cúpula do partido. Com a mesma persistência que defende há anos a ideia do programa Renda Básica de Cidadania, o senador pretende brigar com unhas e dentes pela vaga para disputar a reeleição em 2014.
Popular entre a militância, ele pretende comparecer na próxima reunião da Executiva Nacional, em março, para defender a realização de prévias. E já avisou que só abre mão da vaga em uma hipótese: se o ex-presidente Lula for o candidato. O senador sabe que isso é improvável.
Suplicy chegou a sofrer retaliações dos dirigentes do PT em 2005, ao assinar o requerimento de criação da CPI dos Correios, que começou investigando um escândalo de corrupção na empresa e desaguou no mensalão. Ele foi retirado da chapa que reelegeria José Genoino para a presidência do partido — e se deu bem.
Cúpula reclama de senador
Em novembro passado, durante reunião da bancada de senadores do PT, Suplicy cobrou o presidente do partido, Rui Falcão, por ter dito em entrevista que cederia sua vaga. Queria que Falcão tivesse conversado com ele pessoalmente antes. O presidente do PT retrucou, afirmando que também tinha sabido pelo jornal que Suplicy queria concorrer para o governo de São Paulo. Diante da perspectiva de perder a vaga no Senado, Suplicy diz que já deixou de lado essa ideia de disputar o mandato de governador.
Indagado pelo GLOBO sobre o plano de deixar Suplicy a ver navios, Falcão preferiu colocar panos quentes e desconversar.
— Não há nenhuma discussão a esse respeito. Além disso, é muito cedo para discutir chapa em São Paulo — disse Falcão, a despeito de o ex-presidente Lula já estar até negociando apoiar um nome do PMDB para o governo de São Paulo, em troca de o partido abrir mão da vice-presidência da República.
Suplicy não é bem-visto na cúpula do PT, que o acusa de se preocupar mais em ser midiático do que em defender os interesses do partido. Em 2009, em meio ao escândalo dos atos secretos do Senado, Suplicy deu um cartão vermelho, da tribuna, para o então presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), aliado de primeira hora dos governos Lula e Dilma Rousseff.
No afã midiático, Suplicy já meteu os pés pelas mãos. Por pouco ele não enfrentou um processo por quebra de decoro, em 2009, por desfilar pelo Senado vestindo uma sunga vermelha por cima do terno, a pedido do programa “Pânico na TV!”.
17 de fevereiro de 2013
Fernanda Krakovics - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário