Nos dois últimos anos, a política econômica se organizou em torno de dois eixos: de um lado tentou-se apressar o crescimento econômico via expansão do investimento público, inclusive, das estatais. Por outro lado, colocou-se grande fé na hipótese que uma queda de juros e uma desvalorização do real levariam a uma expansão do investimento privado.
Ambas as hipóteses, pelo menos até aqui, fracassaram, resultando no modesto crescimento deste período.
Os projetos de investimento direto do governo, como se sabe fartamente, não acontecem. Grandes atrasos e explosões de custos têm sido a norma.
Pior ainda, os fatos recentes estão mostrando que também nas maiores estatais, Petrobrás e Eletrobrás, as coisas não andam bem: essas companhias estão enfrentando muitas dificuldades, expressas mais do que tudo nas pobres perspectivas de seus fluxos de caixa.
Como colocou Adriano Pires aqui no Estado, “o ano de 2012 para a Petrobrás deve ser registrado para não ser repetido. A produção de petróleo caiu 2,3%; o lucro, 36%; o Ebitda, 14%; e a empresa chegou a registrar prejuízo de R$ 1,35 bilhão no segundo trimestre”.
Poderíamos acrescentar o veloz aumento do endividamento, a perda de eficiência da companhia, a crescente dependência da importação de derivados, a brutal elevação de custos dos projetos das novas refinarias, a necessidade de continuar a reconhecer grandes valores, devido a poços secos e outras coisas mais.
Essa situação é o resultado da utilização da companhia para fins políticos e partidários e de uma regulação tão ambiciosa quanto infactível.
De fato, pede-se que a empresa, execute o maior programa de investimentos do mundo, apresente crescimento rápido da produção numa área difícil, com custos razoáveis, com a utilização de 60% de conteúdo nacional e com controles de preços.
É evidentemente uma coisa impossível, que estressou a companhia em todas as áreas e derrubou suas cotações, com prejuízo para seus acionistas.
A empresa também tem atrasado pagamentos para fornecedores, o que está levando muitos deles a uma situação difícil. Alguns fornecedores e prestadores de serviços, como GDK e Conduto, pediram recuperação judicial.
Lupatech está de novo em situação muito complicada. O crédito para fornecedores e prestadores de serviço tem se tornado mais difícil, abortando inclusive colocações de bônus no exterior.
Finalmente, muitos fundos de recebíveis exclusivos de Petro estão enfrentando inadimplência. Como toda companhia muito grande, a recolocação da Petrobrás num rumo mais adequado demandará pelo menos três anos.
A Eletrobrás, por sua vez, foi fortemente sacrificada na nova regulação do setor elétrico, uma vez que foi obrigada a aceitar integralmente a antecipação da renovação das suas concessões, passando a receber uma tarifa muito menor do que a anterior.
Embora vá receber neste ano uma grande quantia (aproximadamente R$ 12 bilhões) a título de indenização, por ativos ainda não totalmente amortizados, os seus resultados correntes sofrerão muito.
Estima-se que em 2013 sua geração de caixa (Ebitda) vai se reduzir pelo menos 40% e o lucro líquido cairá pelo menos 80%. Se lembrarmos que é uma empresa com grande contingente de pessoal, especialmente no centro corporativo, e que carrega várias subsidiárias amplamente deficitadas, fica claro sua incapacidade futura de operar adequadamente.
A companhia deveria reduzir drasticamente seu contingente de funcionários, além de realizar outros ajustes.
Numa empresa particular, a abrupta redução de resultados, da ordem dos descritos acima, já seria extremamente desafiante; numa empresa capturada por interesses políticos há muitos anos, estas dificuldades serão gigantescas. Prejuízos garantidos para acionistas e fortes dificuldades a fornecedores em geral.
Não deixa de ser curioso que o governo mais adepto do Estado forte desde Geisel tenha produzido uma regulação que enfraqueceu tanto suas principais companhias.
O investimento privado continua fraco neste início de ano. Já se comentou muitas vezes que isto pode ser explicado em parte pela elevada incerteza quanto à direção e oscilações da política econômica, inclusive regulação.
No período recente, a questão cambial tem sido um grande exemplo: tradicionalmente, o mês de dezembro é de pressão no mercado, dado o aumento de remessas antes da virada do ano.
A cotação do dólar, que estava um pouco abaixo de R$ 2,05, começou a se elevar. Neste momento, as lideranças industriais voltaram aos jornais, pedindo uma maior desvalorização do real para compensar a fraquíssima atividade do ano passado (de fato, a produção industrial caiu 2,7% em 2012), o que reforçou a alta, levando a cotação da moeda americana a ultrapassar R$ 2,10.
Mesmo assim, as autoridades fazendárias fizeram questão de dizer que a moeda brasileira se mantinha muito valorizada, o que impulsionou as cotações até próximo de R$ 2,15 por dólar, reforçando as expectativas altistas.
Com essas expectativas, muitas empresas com passivo em dólar buscaram proteção, fazendo operações de hedge na ponta de compra.
Entretanto, ainda em dezembro, o Banco Central fez uma primeira intervenção no mercado, trazendo a cotação do dólar muito rapidamente para próximo de R$ 2,05, seguida neste início de ano por outra intervenção que reduziu o dólar até o valor de R$ 1,96, observado nesta semana.
Essa forte oscilação trouxe muito prejuízo para as companhias (atenção: não são especuladores!) que buscaram proteção contra a desvalorização do real, que tem contribuído para a forte piora do ambiente de negócios deste início de ano.
Trouxe também, outra grande dúvida: será que o dólar vai ser, mais uma vez, utilizado como arma contra a inflação? Não me parece ser o caso, mas a incerteza está firmemente plantada nas pessoas.
Prejuízos no caixa, inflação elevada, grandes flutuações em variável chave como o dólar e piora na qualidade regulatória não contribuem para a melhora do ambiente de negócios e a retomada dos investimentos.
17 de fevereiro de 2013
José Roberto Mendonça de Barros, O Estado de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário