"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

COM O APOIO DE LULA, DILMA, DIRCEU, COLLOR... RENAN É ELEITO PRESIDENTE DO SENADO

Renan Calheiros é eleito presidente do Senado com larga vantagem. Ele recebeu 56 votos contra 18 de Pedro Taques (PDT- MT). Parlamentar foi denunciado por três crimes e pode pegar até 23 anos de cadeia



O senador Renan Calheiros (PDMB-AL) foi eleito presidente do Senado por larga vantagem
Foto: Gustavo Miranda / O Globo

O senador Renan Calheiros (PDMB-AL) foi eleito presidente do Senado por larga vantagem Gustavo Miranda / O Globo

 
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito nesta sexta-feira o novo presidente do Senado, no biênio 2013-2014, ao vencer o rival Pedro Taques (PDT-MT) por 56 votos a 18 votos, sendo dois deles em branco e outros dois anulados, no total de 78 senadores votantes. Ele sucede a José Sarney, que deixa o comando da Casa pela quarta vez.

O apoio do PT e do Palácio do Planalto foi fundamental para a vitória. Renan só teve sua candidatura formalizada a menos de 24 horas da eleição. Há cinco anos, Calheiros renunciava ao mesmo cargo para evitar a cassação por denúncias de uso de laranjas para comprar empresas e uso de lobista para pagar despesas particulares.

Logo após a proclamação do resultado por Sarney, Renan fez um rápido pronunciamento ao assumir o cargo e agradeceu aos que nele depositaram confiança, aos parlamentares do PMDB e fez um agradecimentoespecial a Sarney

— Foi ele (Sarney) que nos conduziu da escuridão da ditadura para a liberdade democrática — afirmou.

A sessão para a escolha do novo presidente do Senado foi aberta na manhã desta sexta-feira pelo ex-presidenteJosé Sarney (PMDB-AP). O bloco dos senadores que fizeram oposição à candidatura do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) optou por discursos comedidos, evitando citar as acusações contra o favorito à Presidência do Senado. O clima no plenário nas horas que antecederam a votação para a escolha do novo presidente foi de moderação, atitude adotada por parlamentares que já sabiam, de antemão, que teriam Renan à frente da Casa pelos próximos dois anos.
No mesmo dia da eleição em que Renan saiu vencedor, a Revista ‘Época’ revelou que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou o senador ao Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato (desvio de dinheiro público, 2 a 12 anos de cadeia), falsidade ideológica (1 a 5 anos) e uso de documento falso (2 a 6 anos).
O conteúdo da denúncia ainda não havia sido divulgado.

- Se fizermos um exame de consciência, podemos ver que temos o sentimento de uma necessidade de renovação – afirmou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que defendeu que essa renovação estava na candidatura do senador Pedro Taques (PDT-MT).

Pedro Simon (PMDB-RS) disse que o senador Renan Calheiros deveria renunciar à candidatura. Ele destacou que a posição do peemedebista dificultava a decisão dos senadores, já que ele está sendo denunciado.

- O procurador fez uma denúncia ao STF. E está na mão do presidente do STF denunciar o presidente do Senado por uma série de crimes. Seria o caso de suspender essa sessão? Esse confronto de o Senado eleger um ilustre senador que está sendo processado. Ele se elege hoje e na quarta ou quinta-feira o presidente do Supremo aceita a denúncia e começa um processo. E automaticamente ele será processado aqui e se começa tudo de novo – afirmou Simon, relembrando a renúncia de Renan em 2007, à presidência do Senado.

- Não tenho intimidade com Renan, temos estilos diferentes. Se eu tivesse intimidade com Renan, eu diria “não te mete nessa”, é muito mais importante para ti ficar na liderança – disse Simon.

Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que havia apresentado candidatura para a presidência do Senado e abriu mão em favor de Taques, destacou que havia pleiteado concorrer ao cargo em protesto.

Defesa por Renan

Por outro lado, a candidatura de Renan foi defendida enfaticamente por Lobão Filho (PMDB-MA) e Fernando Collor (PTB-AL). Lobão Filho criticou a Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmando que o órgão deixou para fazer uma denúncia contra o peemedebista na semana em que se elege o presidente do Senado. Ele também defendeu a proporcionalidade e o “direito” do partido de ter o cargo da presidência da Casa.

- Eu acho que nosso partido fez a escolha correta. O PMDB não está usurpando o direito de ninguém. É um direito do PMDB – disse Lobão Filho.

No discurso mais raivoso em defensa do conterrâneo e ex integrante da chamada "Turma de Alagoas", o senador Fernando Collor chamou, da tribuna do Senado, o procurador-geral da República de "chantagista" e "prevaricador". Na sua cruzada contra o procurador, Collor aproveitou a sessão para pedir celeridade na tramitação da representação que apresentou contra Gurgel, acusando-o de prevaricação.

Ao falar da denúncia pedida por Gurgel contra Renan, Collor disse que ele não tem autoridade moral para apresentar denúncia contra qualquer parlamentar.

- Esse senhor (Gurgel) é um prevaricador, um chantagista, sem autoridade moral para colocar um senador numa situação constrangedora - discursou Collor bastante irado.

Ele reclamou do fato de Gurgel ter apresentado a denúncia contra Renan num sábado, véspera da eleição de Renan.

- Alguma orquestração está por trás disso tudo - reclamou, completando: - Como tem autoridade moral para apresentar denúncia contra um senador que já foi julgado e absolvido pelo Senado Federal?

Já o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) elogiou Sarney, a quem ele atribui melhorias na transparência na Casa. Ele também exaltou seu partido e defendeu que, pelo tamanho da legenda, em respeito à proporcionalidade, Renan deve ser o escolhido:

- Meu companheiro, meu amigo, dileto e fraternal senador – disse Rêgo sobre Renan.

Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que seu partido apoiará a candidatura de Taques. Ontem, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tentou lançar a candidatura de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), mas depois abriu mão e anunciou apoio a Taques.

- Temos uma posição unânime, vamos votar no Pedro Taques, pois entendemos que ele é quem representa as aspirações do povo brasileiro – afirmou Rollemberg.

Também do PSB, João Capiberibe (AP) levou à tribuna denúncias contra Renan.

- Temos dois candidatos, um velho, desgastado, com telhado de vidro. E outro que representa a mudança e oxigenação do Senado – disse.

A votação é secreta; será eleito quem obtiver maioria simples (metade mais um dos presentes). Como 78 senadores devem votar, a expectativa do grupo de Renan é conseguir até 60 votos. A eleição ocorrerá em turno único, e só haverá nova votação no caso de se registrar um empate entre dois ou mais candidatos. Uma vez concluída a eleição, o novo presidente será imediatamente chamado a ocupar a Mesa e poderá, mais uma vez, fazer uso da palavra.

Em seguida, o presidente eleito promoverá uma segunda reunião preparatória, para a eleição dos demais membros da Mesa. Serão escolhidos dois vice-presidentes, quatro secretários e igual número de suplentes para a Comissão Diretora. Concluída essa segunda parte da eleição, será convocada a primeira sessão deste ano do Congresso Nacional, marcada para a segunda-feira, a partir das 16h

Força de Renan Calheiros

No mesmo palco em que os senadores ignoraram as denúncias que envolvem Renan Calheiros reconduzindo-o à presidência do Senado, há cinco anos o senador alagoano jogou a toalha: acossado por denúncias de uso de laranjas para comprar empresas e uso de lobista para pagar despesas particulares, renunciou á presidência do Senado durante sessão de julgamento para perda de seu mandato. Entregou a presidência e salvou o mandato com a derrubada do parecer do falecido senador Jefferson Péres (PDT-AM) que pedia sua cassação. Desde então, trabalhou dia após dia costurando acordos para retomar o posto.

Passados esse cinco anos, Renan volta com força total, com apoio da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula, dos partidos da base governista e até de José Dirceu, condenado como chefe da quadrilha do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como agora, em que enfrenta três inquéritos para apurar uso de notas frias e crime contra o meio ambiente, no dia 04 de dezembro de 2007 Renan encerrou quase três anos de duas eleições consecutivas para presidir o Senado. No ato da renúncia, disse que saia sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida.

- Não adotei este gesto antes pois poderia sugerir, naquele momento, uma aceitação das infâmias e inverdades. Desculpem-me se essa interpretação não pareceu a mais conveniente, mas agi de acordo com a minha consciência, convicto de que era a conduta mais correta. Meu pensamento, nesta hora difícil de minha vida, volta-se para o povo de Alagoas, que, com sua confiança e soberania, me investiu do mandato de Senador da República, de que tanto me orgulho - disse Renan em sua despedida do cargo.

O anúncio de sua candidatura de Renan foi feito ontem pelo presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que negou constrangimento por Renan correr o risco de virar réu em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele afirmou que Renan é um “líder nato”.



01 de fevereiro de 2013
Fernanda Krakovics, Maria Lima e Júnia Gama - O Globo

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