O melhor argumento do senador Renan Calheiros para o retorno à presidência do Senado, sete anos depois do escândalo que o apeou do mesmo cargo, era que já havia sido absolvido pelo Conselho de Étic e que nenhuma denúncia da época havia prosperado, por falta de base. Era inocente, portanto, e tinha o caminho livre para reassumir o cargo que lhe fora tirado indevidamente.
Essa conversa ainda poderia prosperar até que o Procurador-Geral da República o denunciasse criminalmente, poucos dias atrás, justamente pelas provas que apresentou para justificar a capacidade de pagamento de uma pensão alimentícia de um filho fora do casamento.
Com essas notas de vendas de gado, que estão sendo apontadas como frias, Calheiros queria provar que não precisava pedir a um lobista amigo ligado à empreiteira Mendes Junior para pagar a pensão de seu filho, conforme a acusação original.
Estamos, portanto, de volta à estaca zero. As mesmas denúncias que levaram o senador alagoano a renunciar à presidência do Senado poderão transformá-lo em réu de uma ação criminal, o que virtualmente o impediria de continuar presidindo a Casa. Pelo menos nunca houve um caso desses para se contar.
Até ser denunciado pelo Procurador-Geral da República, Renan Calheiros tinha um discurso bem montado, que previa superar as desconfianças generalizadas fazendo uma administração “transparente” no Senado. No entanto, com as acusações contra ele retornando ao centro do cenário político, o mais difícil para ele será ser “transparente”.
Tanto que até hoje, dia da votação, não anunciou oficialmente que é candidato, embora tenha negociado com os partidos, por baixo dos panos, a composição da Mesa Diretora. E teve que recorrer a um expediente restritivo para impedir que seus pares se pronunciassem na hora da votação. Apenas os candidatos poderão fazer discursos, e os senadores dissidentes pretendem se anunciar candidatos para terem possibilidade de registrar seus protestos. Na internet, no entanto, já são quase 300 mil assinaturas contra sua indicação.
Mesmo que aleguem que o regimento interno determina que a eleição ocorra desta maneira, não é tradição do Senado impedir que qualquer de seus membros se pronuncie, o que prenuncia uma administração que começa tendo que se utilizar de métodos autoritários para poder se impor.
Dificilmente o senador Renan Calheiros terminará seu mandato novamente, pois no decorrer das investigações – se o STF aceitar a denúncia do Procurador-Geral – surgirão fatos novos que o colocarão permanentemente em primeiro plano, e não por motivos nobres.
Ao mesmo tempo, sua candidatura deu à oposição a oportunidade de exercer sua função, mesmo que aparentemente a contragosto. O PSDB viu-se acuado pela opinião pública a se mover em direção oposta à candidatura oficial, apoiando a dissidente do senador Pedro Taques, do PDT. Mas o fez principalmente para se igualar ao PSB, que saiu da candidatura oficial da base como mais um passo para criar um espaço próprio de atuação.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou a fazer críticas diretas à preponderância do PMDB na coligação oficial, dando a impressão de que disputa com ele essa posição, realçada pela vice-presidência da República. Mas o governador deixa claro com quem conversa que não está em busca de um cargo, mas de uma posição política mais independente.
Da mesma maneira trata a candidatura dissidente na Câmara do socialista Júlio Delgado, que não tem chance de vencer, mas serve para marcar uma posição também na Câmara. Os primeiros movimentos para a sucessão presidencial foram feitos pela presidente Dilma Rousseff, que se adiantou não apenas para controlar os que, dentro do PT, querem a volta de Lula, como para constranger seus aliados, especialmente o PSB.
Mas o efeito foi contrário, e Campos sentiu-se desimpedido para colocar-se em campo, sem ainda ter oficializado sua candidatura, mas cada vez construindo-a com mais afinco. Atribui-se ao ex-presidente Lula uma manobra que colocaria Eduardo Campos na vice da chapa de Dilma, e daria ao PMDB a chance de concorrer ao governo de São Paulo com o PT na vice. É uma armação política engenhosa, que testará a real intenção do governador de Pernambuco.
Ouça comentário na CBN
01 de fevereiro de 2013
Merval Pereira1
Essa conversa ainda poderia prosperar até que o Procurador-Geral da República o denunciasse criminalmente, poucos dias atrás, justamente pelas provas que apresentou para justificar a capacidade de pagamento de uma pensão alimentícia de um filho fora do casamento.
Com essas notas de vendas de gado, que estão sendo apontadas como frias, Calheiros queria provar que não precisava pedir a um lobista amigo ligado à empreiteira Mendes Junior para pagar a pensão de seu filho, conforme a acusação original.
Estamos, portanto, de volta à estaca zero. As mesmas denúncias que levaram o senador alagoano a renunciar à presidência do Senado poderão transformá-lo em réu de uma ação criminal, o que virtualmente o impediria de continuar presidindo a Casa. Pelo menos nunca houve um caso desses para se contar.
Até ser denunciado pelo Procurador-Geral da República, Renan Calheiros tinha um discurso bem montado, que previa superar as desconfianças generalizadas fazendo uma administração “transparente” no Senado. No entanto, com as acusações contra ele retornando ao centro do cenário político, o mais difícil para ele será ser “transparente”.
Tanto que até hoje, dia da votação, não anunciou oficialmente que é candidato, embora tenha negociado com os partidos, por baixo dos panos, a composição da Mesa Diretora. E teve que recorrer a um expediente restritivo para impedir que seus pares se pronunciassem na hora da votação. Apenas os candidatos poderão fazer discursos, e os senadores dissidentes pretendem se anunciar candidatos para terem possibilidade de registrar seus protestos. Na internet, no entanto, já são quase 300 mil assinaturas contra sua indicação.
Mesmo que aleguem que o regimento interno determina que a eleição ocorra desta maneira, não é tradição do Senado impedir que qualquer de seus membros se pronuncie, o que prenuncia uma administração que começa tendo que se utilizar de métodos autoritários para poder se impor.
Dificilmente o senador Renan Calheiros terminará seu mandato novamente, pois no decorrer das investigações – se o STF aceitar a denúncia do Procurador-Geral – surgirão fatos novos que o colocarão permanentemente em primeiro plano, e não por motivos nobres.
Ao mesmo tempo, sua candidatura deu à oposição a oportunidade de exercer sua função, mesmo que aparentemente a contragosto. O PSDB viu-se acuado pela opinião pública a se mover em direção oposta à candidatura oficial, apoiando a dissidente do senador Pedro Taques, do PDT. Mas o fez principalmente para se igualar ao PSB, que saiu da candidatura oficial da base como mais um passo para criar um espaço próprio de atuação.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou a fazer críticas diretas à preponderância do PMDB na coligação oficial, dando a impressão de que disputa com ele essa posição, realçada pela vice-presidência da República. Mas o governador deixa claro com quem conversa que não está em busca de um cargo, mas de uma posição política mais independente.
Da mesma maneira trata a candidatura dissidente na Câmara do socialista Júlio Delgado, que não tem chance de vencer, mas serve para marcar uma posição também na Câmara. Os primeiros movimentos para a sucessão presidencial foram feitos pela presidente Dilma Rousseff, que se adiantou não apenas para controlar os que, dentro do PT, querem a volta de Lula, como para constranger seus aliados, especialmente o PSB.
Mas o efeito foi contrário, e Campos sentiu-se desimpedido para colocar-se em campo, sem ainda ter oficializado sua candidatura, mas cada vez construindo-a com mais afinco. Atribui-se ao ex-presidente Lula uma manobra que colocaria Eduardo Campos na vice da chapa de Dilma, e daria ao PMDB a chance de concorrer ao governo de São Paulo com o PT na vice. É uma armação política engenhosa, que testará a real intenção do governador de Pernambuco.
Ouça comentário na CBN
01 de fevereiro de 2013
Merval Pereira1
Nenhum comentário:
Postar um comentário