"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"O BRASIL É UM ENORME GARRANCHO"

“O Brasil é um enorme garrancho”

Roque Sponholz-Professor de planejamento urbano e desenho técnico na Universidade Estadual de Ponta Grossa
 


 
Paranaense de Imbituva, Roque Sponholz é conhecido por ter sido um crítico visceral do Governo Lula e do Partido dos Trabalhadores.
 
Com a presidenta Dilma Rousseff não tem sido diferente. Sempre atento ao ir e vir da política nacional e também dos fatos internacionais, com uma visão muito analítica do contexto do país, o chargista possui um acervo de charges das mais contundentes, grande parte da pimenta reservada ao “presiMente”, como o artista define o ex-torneiro mecânico que se tornou presidente da República no começo da década.
 
Sponholz é arquiteto e urbanista formado na Universidade Federal do Paraná, e atualmente é professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde leciona planejamento urbano e desenho técnico, talvez a atividade que lhe dê mais prazer, mas que deve deixar de executar no próximo ano, já que solicitará sua aposentadoria.
 
Já foi vereador, mas atualmente participa da Política sem mandato, como chargista dos que pegam no pé, com contundência, agressividade e talento inquestionáveis.
 
Em sua opinião, o que é uma charge?
“Charge sem crítica, seja ela aos costumes, ao meio ambiente, ao esporte, ao cotidiano, aos governos, aos santos, diabos e tiranos, etc, não é charge; é piada de salão”; respondeu sem titubear a uma jornalista. 
 
Como em toda profissão, sempre existe os dois lados da moeda. Se de um lado muitos atestam que o mesmo é um gênio, um figura exótica e marcante (vista o seu famoso bigodão) e um dos poucos artistas que não se “venderam” ao governo petista, do outro, alguns o atacam violentamente, como o famoso chargista Bira, que afirmou em uma certa ocasião, que o que Roque faz não é charge, e sim uma baixaria pela baixaria, dizendo que falta discurso do opositor. 
 
Na entrevista que realizamos com o mesmo, ele destaca pontos da arquitetura e do urbanismo atual como a tão falada e às vezes famigerada mobilidade urbana, além de dar uma cutucada nada sútil na atual mandatária do país, chamando-a de marionete.
 
Panorama Mercantil - Como o senhor enxerga o planejamento urbano das cidades brasileiras de uma forma geral?
 
Roque Sponholz - Infelizmente planos diretores viraram intrumentos politiqueiros quando deveriam ser essencialmentes e unicamentes técnicos. As boas soluções para os problemas urbanos estão jogadas e esquecidas dentro de gavetas.
 
Panorama - O senhor sempre se mostrou favorável ao transporte público eficiente, mas como criar essa consciência em um país onde ter um carro mesmo que seja em 48 prestações se tornou uma obsessão?
 
Sponholz - Só com um governo sério e competente. Com o governo que temos, não criaremos essa consciência nunca.
 
Panorama - Quando os políticos brasileiros dizem com a boca cheia sobre problemas de mobilidade urbana, o senhor acredita que eles realmente sabem do que estão falando?
 
Sponholz - Este governinho salafrário que entupiu e ainda entope nossas artérias de automóveis, é pródigo em criar rótulos novos para velhos problemas como essa “mobilidade urbana”, substituindo o que sempre chamamos de “circulação” que nada mais é do que o “ir e vir”.
O que esses pilantras querem é faturar em cima de concorrências fajutas para fajutos trens-balas, veículos leves sobre trilhos e outras picaretagens do gênero.
 
Panorama - Como está vendo a polêmica do banheiro público transparente do Conservatório de Música da sua cidade, que está tendo uma grande repercussão internacional?
 
Sponholz - Visivelmente uma prova do dinheiro público indo para o ralo, para a cloaca.
 
Panorama - A política é mais feia do que se parece quando está lá dentro, ou ela é realmente o que se mostra para o público geral, já que o senhor teve a experiência de ser vereador?
 
Sponholz - A política exercida com ética e com objetivo de atender aos justos anseios de um povo é nobre. Tudo que for ao contrário disto, é pobre.
 
Panorama - O senhor disse que era lamentável um país ter como presidente um senhor que não sabia dirigir ao menos um carrinho de pipocas. Então posso deduzir que pela sua ótica, Lula foi péssimo para o país?
 
Sponholz-Seus oito anos de “governo” só vieram provar que eu estava certo. A sua marionete vai completar o serviço quebrando o carrinho.
 
Panorama - Dilma Rousseff é mesmo um poste como muitos a descrevem, ou o senhor encontra alguma qualidade na mesma?
 
Sponholz - Resposta na pergunta anterior.
 
Panorama - Como vê a oposição do país nesse momento?
 
Sponholz - Vergonhosamente ajoelhando-se cada vez mais a este desgoverno. Lamentável.
 
Panorama - A imprensa é mesmo o quarto poder?
 
Sponholz - Sem dúvida ! A preocupação do partido corrupto que nos governa em querer controlá-la é prova disso.
 
Panorama - O senhor afirma que uma charge sem crítica não é charge, é piada de salão. Existe muita piada de salão nas publicações nacionais?
 
Sponholz - Principalmente naquelas que sobrevivem graças a verbas publicitárias do Governo.
 
Panorama - Em uma certa vez, alguém lhe perguntou se o Brasil era um rascunho ou uma arte final, o senhor respondeu sem titubear que era um garrancho. O Brasil ainda é um garrancho?
 
Sponholz - Um enorme garrancho cada vez mais difícil de apagar.
 
Panorama - É verdade que o trabalho mais prazeroso para o senhor não é charge, muito menos um novo projeto arquitêtonico, mas sim o diálogo que tem com o seus alunos sobre planejamento urbano. Nos fale mais sobre isso?
 
Sponholz - Infelizmente estou deixando esse convívio prazeroso e profícuo. Este ano solicito minha aposentadoria.
 
Panorama - Pretende ser criativo, criador de brigas e confusões, e não fugir delas até quando?
 
Sponholz - Até quando a saúde me permitir.
 
25 de fevereiro de 2013
Colaboração de Eder Fonseca, Diretor-executivo do portal Panorama Mercantil
 
NOTA AO PÉ DO TEXTO

Considero Sponholz uma das inteligências mais atiladas e agudas nesta era da mediocridade que atravessamos.
Seu discurso político manifestado em charges de críticas impagáveis, dispensa o palanque escrito e exibe, melhor do que as críticas e comentários dos nossos cronistas, não diria o calcanhar de Aquiles, mas a perna inteira do grupelho que se apossou do poder, com a gana e a gula dos que pretendem ali permanecer para sempre.
Se reunidos num livro, seguindo a ordem cronológica dos acontecimentos retratados nas charges geniais, teríamos não uma história exibida pelo ângulo acadêmico dos historiadores, mas a história colocada em 'tiras' em que se poderia apreender o lado cômico do mandonismo petralha, seus equívocos e incongruências, sua demagogia e despreparo, seu poder fraudulento, numa narrativa dominada pelo humor à brasileira.
A charge - segundo cada observador - se desdobra em múltiplas informações, desvelando o conteúdo das ações políticas, ao exibir o lado oculto da realidade.
Até mesmo o traço sutil retratando personagens políticas, ganha um dado revelador e debochado, ao ressaltar particularidades das fisionomias, em caricaturas imperdoáveis.
Compreende-se o esforço do petismo em tentar sufocar pela censura, o humor. Arma das mais poderosas, capaz de demolir pelo riso, a seriedade do discurso impostor e demagógico.
O humor é o grande delator dos pés do pavão. É o grande olho crítico que aponta a nudez do rei.
E Sponholz é um mestre nesta arte.
m.americo
 
 

Um comentário:

  1. Volta e meia não resisto e utilizo charges de Sponholz para ilustrar textos em meu blog. Ele é demais!

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