Quem usa dólar em suas viagens talvez nunca tenha percebido que na cédula de US$ 10 há uma foto de Alexander Hamilton. Se tiver curiosidade em conhecer a notável história desse homem não vejo melhor caminho do que ler sua biografia, “Os Fundadores e as Finanças”, escrita por Thomas K. McCrow.
O livro permite entender como os EUA nasceram e se transformaram, a partir de um conjunto de colônias da Inglaterra, em um único país com uma economia unificada e independente e em uma potência alguns séculos depois.
Diferente de outros Fundadores, Hamilton defendia uma nação unificada, industrializada e considerava a escravidão como algo abominável moralmente e ineficiente economicamente. Para um economista de hoje, interessado em política econômica, o livro é muito instrutivo e também delicioso de ler.
Porém, o mais fascinante é a vida de Hamilton.
Nascido no Caribe, em uma pequena ilha, filho ilegítimo, órfão muito cedo de uma mãe com vida duvidosa do ponto de vista moral, aos quinze anos, sozinho, sem nada, salvo alguma leitura, emigra para uma das colônias inglesas que existiam no norte da América.
Logo depois, se envolve na guerra da independência e vai auxiliar George Washington. Apesar de ser auxiliar direto do comandante, exigiu participar de batalhas, e foi um dos heróis.
Vencida a independência, foi o mais importante polemista entre todos os Fundadores. Escreveu centenas de artigos e ensaios sobre como imaginava o futuro da nova nação, como ela deveria se organizar e como deveria ser sua economia.
Foi escolhido secretário do Tesouro e nos anos que esteve no cargo forjou de maneira definitiva o que viria a ser a economia norte-americana. Para isso usou não apenas sua grande competência, como também sua formidável capacidade de articulação política.
Apesar de pobre, imigrante, casou-se com a herdeira de uma das famílias mais tradicionais e ricas do novo país, com quem teve diversos filhos. Como se não bastasse esta vida ativa ainda encontrou tempo para um rumoroso caso amoroso que, ao se tornar público, o obrigou a reconhecer o fato para defender sua honestidade de homem público. “Adultério sim, corrupto não”, disse ele para eliminar dúvidas sobre se teria usado sua influência para beneficiar a namorada e o marido dela.
Como se sua biografia não fosse suficientemente agitada, sua vida ainda terminou antes dos 50 anos, em um duelo contra ninguém menos que o então vice-presidente dos EUA, Aaron Burr. Duelo motivado por suas posições polêmicas em artigos na imprensa.
25 de fevereiro de 2013
Cristovam Buarque é Professor da UnB e Senador pelo PDT-DF
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