Digamos que proceda a desconfiança disseminada pelo governo cubano de que a blogueira Yoani Sánchez é, sim, agente da CIA, a agência de espionagem americana.
Por sinal, estão em cartaz dois filmes, merecedores do Oscar, que destacam a eficiência da CIA: "A hora mais escura", sobre a captura e morte de Bin Laden, e "Argo", que trata do resgate de um grupo de americanos reféns do regime iraniano.
O que a CIA esperava da passagem de Yoani pelo Brasil?
Que ela tivesse oportunidades para falar mal de Cuba, há mais de 50 anos sob o controle dos irmãos Castro (Fidel e Raul). E que a imprensa, ocupada com os assuntos internos do país, dedicasse à blogueira um mínimo de atenção.
Ela viajou ao Brasil a convite do jornal O Estado de S. Paulo. Ali, certamente, teria espaço garantido, como teve.
Com o quê a CIA não contava?
Com a adesão entusiástica aos seus planos dos partidos brasileiros de esquerda.
Por toda sua vida, a esquerda batalhou para chegar ao poder. E a CIA, e os serviços de espionagem que a antecederam, sempre atrapalharam.
A esquerda tentou chegar pela primeira vez em 1935 ao deflagrar a Intentona Comunista. O movimento fracassou em menos de 72 horas. Um vexame. Limitou-se à tomada de alguns quartéis.
A renúncia em 1961 de Jânio Quadros permitiu que o vice João Goulart ascendesse à presidência da República. A esquerda imaginou que se o manobrasse com apuro e arte, o poder acabaria ao alcance de suas mãos.
Os militares derrubaram Goulart e empolgaram o poder durante 21 anos. Depois se passaram três eleições para que na quarta, cavalgando o ex-metalúrgico Lula, a esquerda finalmente chegasse lá.
Uma esquerda dócil, é bem verdade, que renunciara à maioria dos seus dogmas. A esquerda possível, haja visto que seu principal líder nunca foi de esquerda.
Embora atraente devido às suas miçangas, o penoso exercício do poder desfigurou a esquerda por completo, a ponto de forçá-la a sentar no banco dos réus.
Nem por isso se pensou que pudesse tê-la despojado de inteligência. Foi o que aconteceu, a se levar em conta dezenas de episódios.
Faltará ao governo cubano a energia do passado?
Não me refiro ao "paredon" como instrumento de castigo para os que contrariam os interesses do regime.
O "paredon" saiu de moda. Mas entre ele e uma reles admoestação deve haver um meio termo para se punir o desastrado embaixador que pediu a ajuda de ativistas políticos tão espertos quanto ele.
Resultado: transformaram a vilegiatura de Yoani em um baita sucesso de audiência.
Não o debitem, porém, apenas à ignorância das seções juvenis de partidos e de organizações que ainda pregam a implantação do comunismo no país.
Por que as direções de partidos como o PT e o PC B não desautorizaram os atos de hostilidade dos seus militantes contra a blogueira cubana?
Ora, porque estavam de acordo com eles. Sabiam quem os encomendara. Calaram por conveniência.
Nem assim conseguiram esconder suas impressões digitais deixadas em cada um dos atos.
Yoani foi à Câmara falar em uma comissão técnica. Deputados do PT, em desespero, convenceram Henrique Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, a convocar uma sessão extraordinária.
Evitariam assim que a TV Câmara transmitisse a exposição de Yoani.
Realizou-se a sessão. Mas Yoani foi até lá confraternizar com seus algozes. Ou seus cúmplices.
A verdade é que a semana que passou não teve para ninguém - nem para Dilma, lançada candidata à reeleição, nem para Lula que a lançou, nem para Aécio que discursou no Senado.
Só deu Yoani.
Comovida, a CIA agradece aos seus agentes voluntários.
25 de fevereiro de 2013
ricardo noblat
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