Tudo para fazer a quarta disputa “FHC X Lula”
Na sexta-feira, escrevi aqui um post em que afirmava o que me parecia e me parece ainda óbvio: o PSDB havia caído numa espécie de truque do PT — que tem Lula como protagonista —, aceitando uma disputa sobre o passado que só pode ser prejudicial aos tucanos. Não porque eles tenham feito pouco ou menos pelo país, mas porque o PT está no poder há dez anos, detém a máquina e pode, assim, mentir à vontade. Está lá:
“Os petistas decidiram escolher ‘o’ adversário com dois anos de antecedência — o PSDB — e o candidato desse adversário; no caso, Aécio Neves (nem ele próprio se atribui ainda tal condição, que eu saiba). Trata-se de uma tentativa de criar desde já aquele que se lhes afigura o melhor cenário. O pior é outro, que contasse com as candidaturas de Dilma, Eduardo Campos, Marina, Aécio e, como o mundo é dinâmico, J. Pinto Fernandes, ‘o que não havia entrado na história’, como no poema de Drummond.” Manchete do Estadão deste domingo anunciava: “FHC entra na campanha de Aécio para neutralizar Lula”.
Todo leitor sabe, sem precisar recorrer a arquivo, que considero que o tucano foi um presidente muito mais importante para o Brasil do que o petista. E daí? Não elejo presidente — é mesmo uma pena… DISPUTAR A QUARTA ELEIÇÃO COM FHC É TUDO O QUE LULA QUER.
O tal livreto do partido, cheio de picaretagens e mentiras contadas a partir de verdades parciais, deixa isso claro. Eu não sei onde os tucanos aprenderam a fazer política assim. Sei que não é um bom método. Deixar-se pautar pelos adversários nunca é um caminho virtuoso.
Mas, até aqui, nestes dois parágrafos, fiz só uma curta memória. Meu ponto é outro. Lula já está em ação para tentar inviabilizar as demais candidaturas. Do Ceará, já foi disparado outro tiro: o alvo, agora, é Eduardo Campos, e quem puxou o gatilho da pistola foi Ciro Gomes.
O que disse o irmão do governador do Cid Gomes, que é do PSB? Desqualificou todos os possíveis candidatos à Presidência em 2014, exceção feita, é evidente, à presidente Diilma Rousseff. Em entrevista concedida no sábado à rádio Verdes Mares, informa a Folha Online, disse:
“O Eduardo não tem estrada ainda. Não conhece o Brasil. O Aécio não conhece o Brasil. A Marina Silva representa uma negação ética, uma negação desses maus costumes, mas não representa a afirmação de rigorosamente nada”.
O “Eduardo”, no caso, é Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que vem tentando pavimentar a sua candidatura à Presidência da República. É isto mesmo: Ciro está dizendo que o mais importante líder do seu partido não tem condições de disputar o cargo.
Notem: nem se trata aqui de entrar no mérito do juízo que Ciro faz de cada candidatura. Para ser franco, eu também não sei o que cada um deles propõe — aliás, não sei nem o que Dilma propõe a não ser “mais do mesmo”, que, visivelmente, não está funcionando. Mas o ponto não é esse.
Ciro está — e agora volto ao meu texto de sexta-feira — tentando evitar o cenário realmente temido pelo PT: uma disputa com vários candidatos que são, vá lá, mais ou menos fortes ou que têm potencial para levar uma disputa para o segundo turno.
No arranjo dos sonhos do petismo, Dilma faz com Aécio um segundo turno já no primeiro: PT (e todas as outras legendas) contra PSDB (com PPS e DEM). Aí seria barbada, aposta o partido: leva a eleição no primeiro turno.
Com a economia crescendo 1% (ou um tiquinho mais), a popularidade de Dilma está na casa dos 70%. Neste ano, vai crescer mais do que isso; se ficar na mediocridade dos 3%, por exemplo, já é bastante mais, não é? Se passar disso, então, aí é foguetório. E pode acontecer. Os estoques estão baixos, já foram desovados. A economia pode esquentar mesmo com eventual elevação da taxa de juros.
Caso consiga viabilizar seu partido, Marina Silva, com aquela conversa esquisita, tem potencial para arrebanhar votos que tenderiam a ir para o PT. O partido não tem muito o que fazer com ela. Havendo as condições técnicas, disputará a eleição.
Num eventual segundo turno, seu eleitorado volta às origens e vota em Dilma — a maioria ao menos. Ainda que, com efeito, Eduardo Campos tenha muito mais presença na imprensa do que no eleitorado — exceção feita a Pernambuco —, é certo que pode crescer.
A presidente perdeu prestígio no Nordeste. Aécio, caso vá mesmo para a disputa, terá a maioria esmagadora de Minas, mas as pesquisas indicam que ainda precisa acontecer fora do estado. Se for o nome da oposição, avança. A questão é saber até onde.
Não são poucos os analistas que entendem que o petismo tomou de tal sorte conta da agenda política e construiu tal hegemonia que só será apeado do poder se o bloco hegemônico que lidera for fraturado.
Cumpre lembrar que esse foi o episódio inaugural da derrota do PSDB em 2002: o fim da aliança com o PFL. Não estou escrevendo que tal episódio, sozinho, determinou a derrota. O fato é que as coisas começaram a desandar ali…
O dedo que puxou o gatilho da fala de Ciro Gomes é de Lula, do Planalto. Ciro é um político que fala pelos cotovelos. Querem ver que curioso? Em 2010, ele queria se candidatar à Presidência pelo PSB, mas Campos obstou-lhe o caminho. O ex-governador do Ceará mandou brasa sobre Lula e Dilma:
“Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior, ninguém chega para ele e diz: ‘Presidente, tenha calma!’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz”.
No dia 6 de julho de 2002, o então candidato da “Frente Trabalhista” à Presidência, Ciro Gomes, afirmou o seguinte sobre Luiz Inácio Lula da Silva:
“Ele tem talento e força política, e poderia ter sido o que quisesse, mas não quis fazer nada e agora quer, como primeira experiência, governar o país.”
Como viram, segundo Ciro, Lula e Dilma não tinham experiência… Agora, tenta colar a mesma pecha em Eduardo Campos.
Encerro
O PT sabe que a multiplicação de candidaturas, especialmente se uma delas sair de uma fratura do atual bloco liderado pelo partido, lhe é o pior cenário. O partido quer continuar a dançar o minueto com os tucanos, especialmente numa narrativa em que ele dita a forma e o conteúdo.
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