"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 27 de março de 2013

A BANCADA EVANGÉLICA E O PENSAMENTO REACIONARIO

 


Já era o momento de ver um ato público no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Centro do Rio. Marco Feliciano (PSC-SP) vem operando como epicentro da opinião pública brasileira, mobilizando justificadas preocupações.

No período da Abertura, o local era palco das lutas por redemocratização e também, pela equivocada bandeira da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita para torturadores e criminosos de lesa humanidade.

Agora, em 2013, grupos de minoria ativa, intelectuais e artistas novamente se reúnem para tentar barrar o avanço do pensamento autoritário, galvanizado no presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. O paradoxo é o seguinte: caso as massas sejam convocadas, a parte ativa vai empurrar para a direita.

Se o político e pregador paulista carrega em seu discurso a marca do grotesco, esse perfil não é exclusivo. O conjunto de tele-evangelistas a pregar diariamente, há mais de trinta anos, princípios de doutrina vinculados à Teologia da Prosperidade de fato vem acumulando poder e força social.

Hoje, esse setor é representativo, batendo quase trinta pontos de porcentagem eleitoral com o chamado “voto evangélico”. Tal clivagem se baseia em formulações obscuras, trazendo interpretações bíblicas ao pé da letra, reforçando os aspectos do pensamento conservador das classes baixas. Para o consumo suntuoso, é o melhor dos mundos. Para transformar a sociedade, estamos em maus lençóis.

Artistas se reúnem no Rio de Janeiro em ato contra Marco Feliciano

Em vários momentos da história, a classe trabalhadora melhorou sua condição de vida arrancando conquistas e direitos. Hoje, o ministro da Pesca e bispo licenciado da Igreja Universal, Marcelo Crivella (PRB-RJ) agradece a um ex-líder sindical (Lula) e uma ex-guerrilheira (Dilma) pela ampliação do crédito e do poder de compra do salário. Sua alegação chega a ser simplória. Com mais dinheiro em circulação, maior é o número e volume do dízimo pago pelos fieis. Se isso não é crise de paradigma, é o que?

A ironia é irresistível.

Nelson Rodrigues brigava contra o setor religioso mais à esquerda, a quem chamava de “padres de passeatas”.

O que diria o dramaturgo a respeito de políticos como Feliciano e Crivella, ambos na base volátil de um governo cujo passado e trajetória política se forja na ação de pastorais sociais?!

Certamente, nosso maior dramaturgo “era feliz e não sabia”. É preferível um pregador de batina dando sermão tentando alterar as relações sociais a um dublê de pastor, apresentador e político reforçando o preconceito e o pensamento reacionário.

27 de março de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político

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