Já era o momento de ver um ato público no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Centro do Rio. Marco Feliciano (PSC-SP) vem operando como epicentro da opinião pública brasileira, mobilizando justificadas preocupações.
No período da Abertura, o local era palco das lutas por redemocratização e também, pela equivocada bandeira da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita para torturadores e criminosos de lesa humanidade.
Agora, em 2013, grupos de minoria ativa, intelectuais e artistas novamente se reúnem para tentar barrar o avanço do pensamento autoritário, galvanizado no presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. O paradoxo é o seguinte: caso as massas sejam convocadas, a parte ativa vai empurrar para a direita.
Se o político e pregador paulista carrega em seu discurso a marca do grotesco, esse perfil não é exclusivo. O conjunto de tele-evangelistas a pregar diariamente, há mais de trinta anos, princípios de doutrina vinculados à Teologia da Prosperidade de fato vem acumulando poder e força social.
Hoje, esse setor é representativo, batendo quase trinta pontos de porcentagem eleitoral com o chamado “voto evangélico”. Tal clivagem se baseia em formulações obscuras, trazendo interpretações bíblicas ao pé da letra, reforçando os aspectos do pensamento conservador das classes baixas. Para o consumo suntuoso, é o melhor dos mundos. Para transformar a sociedade, estamos em maus lençóis.
Em vários momentos da história, a classe trabalhadora melhorou sua condição de vida arrancando conquistas e direitos. Hoje, o ministro da Pesca e bispo licenciado da Igreja Universal, Marcelo Crivella (PRB-RJ) agradece a um ex-líder sindical (Lula) e uma ex-guerrilheira (Dilma) pela ampliação do crédito e do poder de compra do salário. Sua alegação chega a ser simplória. Com mais dinheiro em circulação, maior é o número e volume do dízimo pago pelos fieis. Se isso não é crise de paradigma, é o que?
A ironia é irresistível.
Nelson Rodrigues brigava contra o setor religioso mais à esquerda, a quem chamava de “padres de passeatas”.
O que diria o dramaturgo a respeito de políticos como Feliciano e Crivella, ambos na base volátil de um governo cujo passado e trajetória política se forja na ação de pastorais sociais?!
Certamente, nosso maior dramaturgo “era feliz e não sabia”. É preferível um pregador de batina dando sermão tentando alterar as relações sociais a um dublê de pastor, apresentador e político reforçando o preconceito e o pensamento reacionário.
27 de março de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político
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