"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 27 de março de 2013

O PREÇO DOS ALIMENTOS E A POPULARIDADE DO GOVERNO

 
A elevação brutal dos preços dos alimentos básicos nos últimos 12 meses, a começar do arroz, do feijão e da farinha de mandioca, retratada na reportagem de Márcia de Chiara, no Estado de segunda-feira, seria suficiente para desgastar os índices de popularidade de qualquer governo. Mas não deste governo, como mostraram as pesquisas eleitorais dos últimos dias. O que provavelmente ocorre é que a população não identifica o governo Dilma Rousseff como responsável - total ou parcialmente - pela alta dos preços de alimentos, embora boa parte da culpa pelo que está acontecendo com os preços seja de fato do governo.
Entre março de 2012 e março de 2013, a inflação medida pelo IPCA-15 foi de 6,43%, mas os preços da farinha de mandioca subiram 140,57%; do tomate, 105,87%; da batata, 86,51%; da cebola, 58,83%; do arroz, 31,56%; e do feijão, 25,27%.
Há, de fato, muitas explicações para a alta, do clima que afetou os preços de frutas, verduras e legumes (+33,36%) à elevação do custo dos transportes, em decorrência dos reajustes do óleo diesel e da legislação que rege o trabalho dos caminhoneiros, e à elevação real das rendas, sem a qual os consumidores não poderiam aceitar a alta de preços.
Como notaram os especialistas da USP Heron do Carmo e Jackson Rosalino, alguns preços dependem das condições climáticas. Mas, além disso, o governo não fez o que deveria fazer, enfatizou Heron: "Falta política agrícola e de abastecimento de longo prazo para esses produtos. Há um descuido com essa parte dos alimentos de consumo doméstico". Os maiores problemas, em resumo, são a falta de áreas de estocagem para alimentos mais perecíveis do que soja e milho e políticas de formação de estoques reguladores para os grãos. Além, é claro, da crise logística.
Mesmo sem a adoção das melhores políticas para os alimentos, os preços cederão, nos próximos meses, não por obra do governo, mas dada a produtividade do setor privado - o grande responsável pela supersafra de 185 milhões de toneladas de grãos.
Nos últimos dias, os preços dos alimentos comercializados no atacado já refletem o aumento da oferta de grãos, mas há demora no repasse das quedas para o consumidor e os preços dos alimentos têm subido além do padrão sazonal, notou o economista Elson Teles, do Itaú. A desoneração de tributos sobre a cesta básica também provocará algum alívio nos preços. Mas é melhor que o Banco Central continue disposto a agir para impedir a alta da inflação, como afirmou seu presidente, Alexandre Tombini, na sexta-feira.
27 de março de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
 

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