O senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência da República, conseguiu o apoio do governador paulista Geraldo Alckmin para presidir o partido e teve amplas promessas de apoio da liderança tucana de São Paulo.
Saiu consagrado – desde que a gente acredite naquilo que os políticos dizem.
Aécio, de maneira ostensiva, não participou das campanhas presidenciais de Serra e de Alckmin. Na última campanha de Serra, fez duros ataques aos paulistas que tentavam obrigar os mineiros a participar da chapa (Serra o queria para vice).
No segundo turno, depois de prometer empenhar-se na campanha tucana, deixou seu reduto, Minas, onde tem forte influência, e foi pedir votos no Norte e Nordeste, onde era menos conhecido do que plural em discurso de Lula. Deixou mágoas. As vítimas da época podem ficar a seus pés, mas na condição de calos.
Eduardo Campos trabalha em condições melhores. Tem bom relacionamento com Alckmin, Serra e Kassab; está formando uma frente pernambucana da qual só ficam de fora o PT de Dilma, e PSOL, PCdoB, PSTU, PCO e outros campeões de votos. Sua candidatura interessa ao PSDB, pois facilita a realização do segundo turno.
E o PT é obrigado a fazer-lhe declarações de amor, sempre correspondidas – sabe-se lá o que o futuro lhes reserva? Mas tanto o PT quanto o PSB iriam ao enterro político um do outro com grande prazer, mantendo embora a tristeza no rosto besuntado de óleo de peroba.
Como não dizia o escritor francês Stendhal, a palavra foi dada aos políticos para esconder seu pensamento.
Quem deita rola
Claro que nenhum candidato, nenhum de seus aliados e nenhum de seus estrategistas está perdendo tempo com planos de Governo, projetos para o país, essas bobagens: o foco é exclusivamente ganhar a eleição.
Não se surpreenda, portanto, se Serra mudar de partido e se candidatar ao Governo paulista, com Kassab para o Senado e Eduardo Campos para presidente. Ou, se Kassab ficar com Dilma, Alckmin para a reeleição, Serra para o Senado e Eduardo Campos para presidente.
E que tal o Partido dos Trabalhadores com Paulo Skaf, presidente da Fiesp, o patrão dos patrões, na vice de Aloízio Mercadante ou do ministro Padilha?
O tempo passa…
O julgamento do Mensalão foi concluído em 17 de dezembro de 2012. Três meses e dez dias depois, ainda não foi publicado o acórdão – basicamente, o texto da decisão. Após a publicação do acórdão, abre-se o prazo para os embargos da defesa; há a decisão dos ministros sobre esses embargos; só então a sentença se torna definitiva e se inicia o cumprimento da pena. O processo é imenso, envolve muita gente – mas mais de três meses para uma redação não é meio muito?
…o tempo voa
A Operação Porto Seguro, aquela que revelou Rosemary Póvoa de Noronha, ocorreu em 23 de novembro de 2012. De lá para cá, um retumbante, trovejante, ruidosíssimo silêncio – até mesmo do presidente Lula, sempre feliz ao dar entrevistas e desde então privado desta sua alegria.
São pouco mais de quatro meses. É preciso resolver logo o caso, pensando até na citada senhora. Perdeu o cargo, está afastada do amigo. Nem para as viagens empreiterais tem sido convidada!
A missa da Poderosa
Para as vítimas de Petrópolis, nada: as verbas sumiram, as casa prometidas não surgiram, as encostas desprotegidas de novo caíram. Para as vítimas de Petrópolis, nem missa.
O agente da Polícia Civil Paulo Roberto Filgueras fez sua parte, heroicamente; morreu salvando vítimas da tragédia de Petrópolis.
E sua família – viúva, mãe, irmão – foi impedida de entrar na Catedral Metropolitana porque quem nada sofreu com a tragédia, Sua Excelência a Presidenta Dilma Rousseff, estava lá, cercada por sua tropa de seguranças. Dilma fez todo mundo esperar: a missa estava marcada para as 17h, e ela só chegou às 18h30, quando enfim as orações começaram.
A família da vítima não pôde entrar: quem aquelas pessoas de luto pensavam que eram para ficar no mesmo recinto da Presidenta?
Crime em alta
Lembra da farta propaganda dos êxitos do Governo tucano de São Paulo na luta contra a criminalidade? Aquela propaganda que continuou sendo feita enquanto o crime organizado caçava e matava policiais e o secretário da Segurança tinha ido a Buenos Aires para assistir a um jogo de futebol?
Pois é: a criminalidade em São Paulo está crescendo rapidamente. O número de latrocínios (roubo com assassínio) cresceu 114% em janeiro e fevereiro, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Os homicídios dolosos cresceram 15,4%. O número de estupros aumentou 29%.
Todos os números são oficiais, divulgados pela Secretaria da Segurança. Este colunista só não entende uma coisa: há dezenas de anos os secretários da Segurança são militares, ou desembargadores, ou advogados, ou juristas, ou promotores. Por que não policiais, que trabalham no ramo?
Quem os protege?
A Guarda Civil Metropolitana de São Paulo tomou os cobertores dos moradores de rua da zona central da cidade, sabe-se lá por que. Silêncio ensurdecedor. Alô, prefeito Fernando Haddad! É assim que se trata gente pobre e desabrigada?
27 de março de 2013
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.
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