Morrendo na praia – A quinta edição da cúpula do grupo dos Brics – formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – chegou ao fim nesta quarta-feira (27) em Durban, na África do Sul.
E uma das principais expectativas antes do encontro, que seria a criação de um banco de desenvolvimento, ficou limitada a promessas e ainda não saiu de fato do papel.
O futuro banco de desenvolvimento do Brics está no relatório final do encontro, porém permanece indefinido como será a capitalização, mandato, seleção dos projetos a serem financiados, assim como a sede da instituição. E assim o grupo perdeu mais uma oportunidade de enviar um sinal ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para além da mera retórica.
“Não é uma tentativa de oposição a esses órgãos internacionais, mas sim de criar um instrumento adicional ao FMI para socorrer os países dos Brics. É medida preventiva e chega no momento em que nenhum desses países está precisando de socorro e tem caixa para realizar o aporte financeiro”, opina Celso Grisi, professor de economia da Fundação Instituto de Administração (FIA).
O banco – que segundo especialistas deve demorar alguns anos para sair do papel – será provavelmente nos moldes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, em princípio, terá como objetivo financiar projetos de infraestrutura dos países-membros e de outras nações em desenvolvimento.
Mais dificuldades à vista
Para isso, a ideia inicial é que cada país contribua com 10 bilhões de dólares – totalizando, assim, um capital inicial de 50 bilhões de dólares. O aporte inicial é considerado pouco pelos especialistas, mas, ao decorrer do tempo, poderia ser multiplicado. Além disso, um sistema parecido com o do FMI pode ser usado. Nele, os países que fazem os maiores aportes financeiros têm, automaticamente, maior poder de decisão.
“É um banco talhado para as nossas necessidades. Temos de estreitar laços e criar mecanismos de apoio mútuos. É um mecanismo de estabilidade que pode criar linhas recíprocas de crédito, fortalecendo a solidez do mercado internacional”, destacou a presidente Dilma Rousseff.
A criação de um banco depende de know-how para aprovar a liberação de créditos e avaliar os riscos dos projetos a serem financiados. Por essa razão, o Banco Mundial já afirmou que vai colaborar com a futura instituição dos Brics. Ao mesmo tempo, informou indiretamente que não existirá concorrência entre as instituições.
Para Thomas Matussek, diretor da Sociedade Alfred Herrhausen – uma organização do banco alemão Deutsche Bank – os países deveriam investir energias políticas em uma verdadeira reforma das atuais estruturas existentes, como FMI e Banco Mundial, em vez de criar um banco. “Eles deveriam colocar em prática as reformas, e não fazer concorrência entre as instituições”, frisou.
A sinalização da criação do banco não representa muito, de acordo com Grisi. Para ele, a integração é ainda muito duvidosa: “A relação comercial do Brasil com a África do Sul não é muito extensa, a relação com a Rússia é marcada por conflitos protecionistas. Já a relação entre China e Rússia não é das mais felizes.”
Fundo anticrise emperra
Também não foi adiante o projeto de criação de um fundo comum anticrise, voltado para a superação de turbulências financeiras, em especial em países de moeda fraca como a África do Sul. Além disso, no futuro Brasil e China utilizarão mais suas próprias moedas no comércio biltateral, em vez do dólar americano. O volume anual dos negócios em reais e iuanes foi fixado no equivalente a 30 bilhões de dólares.
O maior avanço da cúpula em Durban foi a criação de um conselho econômico conjunto com 25 membros, para “agilizar a cooperação econômica e parcerias entre empresas e os países-membros”, como anunciou o presidente sul-africano, Jacob Zuma, durante o lançamento oficial do projeto.
Um dos focos das atenções em Durban foi o novo presidente chinês, Xi Jinping, que escolheu a África para sua primeira viagem oficial no cargo. Antes de participar da cúpula, ele visitou a Tanzânia, onde prometeu linhas de crédito para o continente no valor de 15 bilhões de euros e, ao mesmo tempo, procurou reduzir os temores dos africanos de supostas intenções hegemônicas por parte da China. Essa viagem é avaliada por diversos observadores como um sinal do recente interesse estratégico de Pequim pela África.
Após a decepcionante conclusão da conferência, peritos e analistas exigem passos concretos. Ruchir Sharma, especialista em Brics do Morgan Stanley Bank, criticou o “grau considerável de paciência” dos líderes do grupo, diante dos déficits de crescimento em alguns dos países-membros. “Sinto falta de um espírito de urgência, no sentido de ‘precisamos voltar a impulsionar o crescimento’”, comentou.
Jabu Mabusa, do Conselho Econômico Sul-Africano, bateu na mesma tecla. “Precisamos ser agora inovadores e perceber a urgência, de modo a traduzir possibilidades em termos de desenvolvimento real e campos de negócios reais”. E Glenn Ho, especialista em assuntos chineses da rede internacional de firmas de auditoria e assessoramento econômico KPMG, reivindicou que as reservas de divisas dos países do Brics, em especial da China, sejam agora direcionadas “ao fomento de pequenas e médias empresas”.
A cúpula se encerrou nesta quarta-feira com um encontro entre os líderes dos Brics e representantes da União Africana e chefes de Estado africanos, com o fim de deliberar sobre medidas voltadas para a infraestrutura e industrialização. Mas um plano conjunto, ainda não concretizado, de países que ainda têm uma série de diferenças a resolver. (Do Deutsche Welle)
27 de março de 2013
Ucho.info
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