"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 13 de março de 2013

CARTAS DE BERLIM: RICHARD WAGNER, UM ANARQUISTA

 

Já começaram a pipocar as comemorações aos 200 anos do nascimento de Richard Wagner, compositor clássico, teatrólogo, poeta. Só não era programador porque não manjava de CSS. 2013 será o “Wagner Jahr” por essas bandas.

Morar aqui na Saxônia me fez despertar a fã de Wagner que existia dentro de mim e eu não sabia. Ou: a partir do momento em que você fica sabendo que o baixinho Richard era o Don Juan da vila, a coisa começa a ficar interessante.

Ok, falando sério, cada esquina por onde esse homem, natural de Leipzig, pisou é motivo de placas e brasões que registrem o momento histórico “Wagner pisou aqui” em questão. Como eu moro em Dresden, é interessante comentar sobre esse recorte de tempo na vida de Wagner.

O compositor passou sua infância e parte da adolescência na capital da Saxônia, um lugar então borbulhando de cultura e modernidade. Dresden era uma das cidades europeias mais desenvolvidas economicamente.

A criativa cidade barroca era “o” lugar para se estar no século 17, e artistas de todas as partes do mundo passavam temporadas por lá porque era muito cool - como uma São Francisco de outrora.


Richard Wagner

Depois de morar em outras cidades, Wagner retorna a Dresden aos 29 anos, em 1842, e se posiciona criticamente contra a festança. Seu nacionalismo se mostra evidente. O momento histórico é tenso.

Aproxima-se de teóricos radicais, revolucionários, anarquistas. O então exilado russo Mikhail Bakunin vira seu companheiro de caminhadas e “parceiro de discussões”. Participa de barricadas e protestos em Dresden durante as revoluções de 1848 nos Estados alemães. Wagner luta pelas liberdades civis, pela liberdade de imprensa e é procurado pelas autoridades.

Wagner é político, coisa rara entre seus contemporâneos, como notou um jornalista e revolucionário alemão chamado Ludwig Pfau: “Todos os intelectuais e artistas alemães de hoje são reacionários. De Grimm, Dahlmann, Humboldt até Strauss e Vischer”, escreveu em 1850.

E aí? Aposto que esse lado de Richard Wagner você não conhecia. E 2013 só está começando.

13 de março de 2013
Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim.

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