A ÚNICA REFORMA VIÁVEL DA IGREJA
Toda vez que morre um papa, jornalista é o que não falta para depositar esperanças em uma renovação da Igreja. Santa ingenuidade. A Igreja Católica não pode renovar-se. Ela se fundamenta em dogmas. Verdade que não há dogma sobre o celibato clerical nem sobre o sacerdócio feminino, isto é questão de doutrina. Mas há aspectos da doutrina dos quais o Vaticano não abre mão, como se dogmas fossem. E estes estão entre eles.
Que é um dogma. Poste-se frente a uma igreja em um domingo e, na saída da missa, pergunte aos pios católicos que acabaram de comungar, quantos são os dogmas da Santa Madre. Nenhum – nem unzinho – saberá responder. Aliás, raros saberão o que seja dogma. Pretendem-se católicos, mas desconhecem a doutrina que professam.
Dogma, dizem os dicionários, é uma verdade absoluta, absoluta, definitiva, imutável, infalível, inquestionável e absolutamente segura sobre a qual não pode pairar nenhuma dúvida. Uma vez proclamado solenemente, nenhum dogma pode ser revogado ou negado, nem mesmo pelo papa ou por decisão conciliar. Constituem a base inalterável de toda a doutrina católica e qualquer católico é obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos dogmas de uma maneira irrevogável.
Cada vez que um papa ou concílio proclama um dogma, está aprisionando todos os papas futuros. E haja malabarismos dos teólogos para justificá-los. Mais ainda: quando havia polêmica sobre alguma destas verdades, o tema era discutido em concílios. Os perdedores do debate, mal proclamado o dogma, tinham de dar no pé imediatamente, para não serem proclamados hereges e eventualmente condenados às fogueira.
Os dogmas principais são 44. Versam sempre sobre matéria de fé: sobre Deus, sobre Cristo, sobre a criação do mundo, sobre o ser humano, Maria, o papa e a Igreja, sobre os sacramentos e as últimas coisas.
Os crentes, hoje, têm memória de quatro ou cinco: que Deus é um só, é eterno, criou o mundo do nada, que Pai, Filho e Espírito Santo são um só, que a Maria era é continuou sendo virgem mesmo após o parto, que Cristo ressuscitou, que céu, inferno e purgatório existem, que o Cristo vai voltar, que os mortos ressuscitarão e que haverá um juízo final. Mas nem sabem que se trata de dogma.
Na França, onde só um francês entre dois ainda se declara católico, só um católico entre dois crê em Deus. Esta foi a chamada de capa do "Le Monde des Religions", suplemento do jornal francês Le Monde, de janeiro-fevereiro de 2007. Estes dados são fruto de uma pesquisa levada a cabo pelo instituto de sondagens CSA. A conclusão é que se a imagem da Igreja e do papa continuam boas, a esmagadora maioria dos fiéis toma distância em relação ao dogma e permanece aberta ao diálogo com outras religiões. Que significa ser católico? Ir à missa? Ser batizado? Levar os filhos ao catecismo? A estas definições institucionais, os pesquisadores preferiram uma definição sociológica: é católico todo aquele que se declara como tal.
Ou seja, se católico já não crê nem em deus, não se pode esperar que creia no três-em-um ou em mãe-virgem. Imagine-se então o que ocorre nesta maior nação católica do mundo – como se pretende o Brasil, onde católico frequenta igreja e terreiro de umbanda. Transcrevo estes nove ou dez dogmas que ainda restam na memória coletiva.
- Não existe mais que um único Deus.
- Deus não tem princípio nem fim.
- A criação do mundo do nada, não apenas é uma verdade fundamental da revelação cristã, mas também que ao mesmo tempo chega a alcançá-la a razão com apenas suas forças naturais, baseando-se nos argumentos cosmológicos e sobretudo na argumento da contingência.
- Em Deus há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; e cada uma delas possui a essência divina que é numericamente a mesma. - A Santíssima Virgem Maria é virgem antes, durante e depois do parto de seu Divino Filho, sendo mantida assim por Deus até a sua gloriosa Assunção.
- No terceiro dia, Cristo ressuscitado por sua própria virtude, se levantou do sepulcro.
- As almas dos justos que no instante da morte se acham livres de toda culpa e pena de pecado entram no céu.
- O inferno é uma possibilidade graças a nossa liberdade. Deus nos fez livres para amá-lo ou para rejeitá-lo. Se o céu pode ser representado como uma grande ciranda onde todos vivem em plena comunhão entre si e com Deus, o inferno pode ser visto como solidão, divisão e ausência do amor que gera e mantém a vida. Deve-se salientar que a vontade de Deus é a vida e não a morte de quem quer que seja. Jesus veio para salvar e não para condenar. No limite, Deus não condena ninguém ao inferno. É a nossa opção fundamental, que vai se formando ao longo de toda vida, pelas nossos pensamentos, atos e omissões, que confirma ou não o desejo de estar com Deus para sempre. De qualquer forma, não se pode usar o inferno para convencer as pessoas a acreditar em Deus ou a viver a fé. Isso favorece a criação de uma religiosidade infantil e puramente exterior. Deve-se privilegiar o amor e não o temor. Só o amor move os corações e nos faz adorar a Deus e amar o próximo em espirito e vida.
- As almas dos justos que no instante da morte estão agravadas por pecados veniais ou por penas temporais devidas pelo pecado vão ao purgatório. O purgatório é estado de purificação.
- No fim do mundo, Cristo, rodeado de majestade, virá de novo para julgar os homens.
- Aos que crêem em Jesus e comem de Seu corpo e bebem de Seu sangue, Ele lhes promete a ressurreição.
- Cristo, depois de seu retorno, julgará a todos os homens.
A Igreja não pode abrir mão dessas – e das demais - crenças mágicas que a embasam. Reforma da Igreja mesmo, só se o futuro papa soltasse o verbo nalguma encíclica:
Carissimi,
Isso aí da virgindade da Maria, pode soar estranho aos ouvidos contemporâneos. Acontece que no universo das religiões, como em toda a história, nada se cria, tudo se copia. O cristianismo é um pot pourri de várias crenças. As mães virgens já existiam na China, Tibete e Índia, 2 mil ou 3 mil anos antes do Cristo. Buda e Zoroastro, Orus no Egito, Baco, em Roma, todos nasceram de concepção virginal. Por que Cristo seria diferente? Se o universo nasce do nada, o mesmo não acontece com as religiões. A bem da verdade, andaram até correndo uns boatos que ela teve um caso com um soldado romano. Como já nem os católicos acreditam nessa virgindade, esse dogma bem que podemos deixar de lado.
Isso de deus único foi coisa dos judeus. Aliás, não foram muito originais. Muito antes, no Egito, Akenaton se proclamou o único. Os judeus até que dormiram nas palhas. Meus primeiros livrinhos estão coalhados de deuses. Foi o Isaías que, numa aposta de futuro incerto, promoveu o deus tribal de Israel a único. Se colar, colou. Acabou colando. Em um mundo saturado de deuses, seria muita arrogância de parte da Santa Madre pretender-se detentora do único. Desse também largamos mão.
Aquilo da trindade foi um besteirol do Constantino. Ele sentiu a necessidade de um deus poderoso para consolidar seu império e apostou no dos judeus. Acontece que politeísmo não tem cura. Os cristãos já andavam falando em três, o Pai, do Filho e o Espírito Santo. O Constantino, para não ferir suscetibilidades, nem renunciar à idéia do deus único, tomou uma decisão genial para a época: os três são um só. O Atanásio, duro de queixo como uma mula, aderiu ao achado do Constantino e de nada adiantou o Arius proclamar que Cristo era um ser criado. O bom Jeová, distante desses arabescos colaterais, até esqueceu que tinha um filho que era seu par, e só o anunciou três ou quatro milênios mais tarde. Hoje, três-em-um só o da Gradiente, e assim mesmo há horas saiu do mercado. Esse, damos de graça.
Natal também é balela. Nos dias do Constantino, o povão andava cultuando o sol no solstício de inverno. Ninguém sabe quando nasceu o judeu aquele. Celebramos a data no 25 de dezembro para tapar o culto ao Sol Invictus. E transferimos a coroa solar para a cabeça de nossos santos, como aureóla, para não fugir de todo ao antigo culto.
Aquela história do pão e vinho, corpo e sangue, foi porre do Cristo. Os vinhos da Galiléia pegam forte. Esqueçam o que ele disse.
O judeu aquele não era lá muito católico. De fato, teve um rolo com a madalena. Mas depois do que se viu na Igreja, seu pecadilho nada teve de original. Café pequeno.
Isso de céu, inferno e purgatório são cantigas para ninar pardais. Se a vida de muitos irmãos já é um inferno aqui na terra, para que condená-los a mais um depois da morte? Céu? Depois do Galileu, não há planeta para abrigá-lo. Purgatório foi apenas um achado, em época em que a Igreja andava mal das pernas, para juntar alguns trocados para a obra divina. Tudo o mais é negociável.
E antes que me esqueça: Deus não existe.
13 de março de 2013
janer cristaldo
Toda vez que morre um papa, jornalista é o que não falta para depositar esperanças em uma renovação da Igreja. Santa ingenuidade. A Igreja Católica não pode renovar-se. Ela se fundamenta em dogmas. Verdade que não há dogma sobre o celibato clerical nem sobre o sacerdócio feminino, isto é questão de doutrina. Mas há aspectos da doutrina dos quais o Vaticano não abre mão, como se dogmas fossem. E estes estão entre eles.
Que é um dogma. Poste-se frente a uma igreja em um domingo e, na saída da missa, pergunte aos pios católicos que acabaram de comungar, quantos são os dogmas da Santa Madre. Nenhum – nem unzinho – saberá responder. Aliás, raros saberão o que seja dogma. Pretendem-se católicos, mas desconhecem a doutrina que professam.
Dogma, dizem os dicionários, é uma verdade absoluta, absoluta, definitiva, imutável, infalível, inquestionável e absolutamente segura sobre a qual não pode pairar nenhuma dúvida. Uma vez proclamado solenemente, nenhum dogma pode ser revogado ou negado, nem mesmo pelo papa ou por decisão conciliar. Constituem a base inalterável de toda a doutrina católica e qualquer católico é obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos dogmas de uma maneira irrevogável.
Cada vez que um papa ou concílio proclama um dogma, está aprisionando todos os papas futuros. E haja malabarismos dos teólogos para justificá-los. Mais ainda: quando havia polêmica sobre alguma destas verdades, o tema era discutido em concílios. Os perdedores do debate, mal proclamado o dogma, tinham de dar no pé imediatamente, para não serem proclamados hereges e eventualmente condenados às fogueira.
Os dogmas principais são 44. Versam sempre sobre matéria de fé: sobre Deus, sobre Cristo, sobre a criação do mundo, sobre o ser humano, Maria, o papa e a Igreja, sobre os sacramentos e as últimas coisas.
Os crentes, hoje, têm memória de quatro ou cinco: que Deus é um só, é eterno, criou o mundo do nada, que Pai, Filho e Espírito Santo são um só, que a Maria era é continuou sendo virgem mesmo após o parto, que Cristo ressuscitou, que céu, inferno e purgatório existem, que o Cristo vai voltar, que os mortos ressuscitarão e que haverá um juízo final. Mas nem sabem que se trata de dogma.
Na França, onde só um francês entre dois ainda se declara católico, só um católico entre dois crê em Deus. Esta foi a chamada de capa do "Le Monde des Religions", suplemento do jornal francês Le Monde, de janeiro-fevereiro de 2007. Estes dados são fruto de uma pesquisa levada a cabo pelo instituto de sondagens CSA. A conclusão é que se a imagem da Igreja e do papa continuam boas, a esmagadora maioria dos fiéis toma distância em relação ao dogma e permanece aberta ao diálogo com outras religiões. Que significa ser católico? Ir à missa? Ser batizado? Levar os filhos ao catecismo? A estas definições institucionais, os pesquisadores preferiram uma definição sociológica: é católico todo aquele que se declara como tal.
Ou seja, se católico já não crê nem em deus, não se pode esperar que creia no três-em-um ou em mãe-virgem. Imagine-se então o que ocorre nesta maior nação católica do mundo – como se pretende o Brasil, onde católico frequenta igreja e terreiro de umbanda. Transcrevo estes nove ou dez dogmas que ainda restam na memória coletiva.
- Não existe mais que um único Deus.
- Deus não tem princípio nem fim.
- A criação do mundo do nada, não apenas é uma verdade fundamental da revelação cristã, mas também que ao mesmo tempo chega a alcançá-la a razão com apenas suas forças naturais, baseando-se nos argumentos cosmológicos e sobretudo na argumento da contingência.
- Em Deus há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; e cada uma delas possui a essência divina que é numericamente a mesma. - A Santíssima Virgem Maria é virgem antes, durante e depois do parto de seu Divino Filho, sendo mantida assim por Deus até a sua gloriosa Assunção.
- No terceiro dia, Cristo ressuscitado por sua própria virtude, se levantou do sepulcro.
- As almas dos justos que no instante da morte se acham livres de toda culpa e pena de pecado entram no céu.
- O inferno é uma possibilidade graças a nossa liberdade. Deus nos fez livres para amá-lo ou para rejeitá-lo. Se o céu pode ser representado como uma grande ciranda onde todos vivem em plena comunhão entre si e com Deus, o inferno pode ser visto como solidão, divisão e ausência do amor que gera e mantém a vida. Deve-se salientar que a vontade de Deus é a vida e não a morte de quem quer que seja. Jesus veio para salvar e não para condenar. No limite, Deus não condena ninguém ao inferno. É a nossa opção fundamental, que vai se formando ao longo de toda vida, pelas nossos pensamentos, atos e omissões, que confirma ou não o desejo de estar com Deus para sempre. De qualquer forma, não se pode usar o inferno para convencer as pessoas a acreditar em Deus ou a viver a fé. Isso favorece a criação de uma religiosidade infantil e puramente exterior. Deve-se privilegiar o amor e não o temor. Só o amor move os corações e nos faz adorar a Deus e amar o próximo em espirito e vida.
- As almas dos justos que no instante da morte estão agravadas por pecados veniais ou por penas temporais devidas pelo pecado vão ao purgatório. O purgatório é estado de purificação.
- No fim do mundo, Cristo, rodeado de majestade, virá de novo para julgar os homens.
- Aos que crêem em Jesus e comem de Seu corpo e bebem de Seu sangue, Ele lhes promete a ressurreição.
- Cristo, depois de seu retorno, julgará a todos os homens.
A Igreja não pode abrir mão dessas – e das demais - crenças mágicas que a embasam. Reforma da Igreja mesmo, só se o futuro papa soltasse o verbo nalguma encíclica:
Carissimi,
Isso aí da virgindade da Maria, pode soar estranho aos ouvidos contemporâneos. Acontece que no universo das religiões, como em toda a história, nada se cria, tudo se copia. O cristianismo é um pot pourri de várias crenças. As mães virgens já existiam na China, Tibete e Índia, 2 mil ou 3 mil anos antes do Cristo. Buda e Zoroastro, Orus no Egito, Baco, em Roma, todos nasceram de concepção virginal. Por que Cristo seria diferente? Se o universo nasce do nada, o mesmo não acontece com as religiões. A bem da verdade, andaram até correndo uns boatos que ela teve um caso com um soldado romano. Como já nem os católicos acreditam nessa virgindade, esse dogma bem que podemos deixar de lado.
Isso de deus único foi coisa dos judeus. Aliás, não foram muito originais. Muito antes, no Egito, Akenaton se proclamou o único. Os judeus até que dormiram nas palhas. Meus primeiros livrinhos estão coalhados de deuses. Foi o Isaías que, numa aposta de futuro incerto, promoveu o deus tribal de Israel a único. Se colar, colou. Acabou colando. Em um mundo saturado de deuses, seria muita arrogância de parte da Santa Madre pretender-se detentora do único. Desse também largamos mão.
Aquilo da trindade foi um besteirol do Constantino. Ele sentiu a necessidade de um deus poderoso para consolidar seu império e apostou no dos judeus. Acontece que politeísmo não tem cura. Os cristãos já andavam falando em três, o Pai, do Filho e o Espírito Santo. O Constantino, para não ferir suscetibilidades, nem renunciar à idéia do deus único, tomou uma decisão genial para a época: os três são um só. O Atanásio, duro de queixo como uma mula, aderiu ao achado do Constantino e de nada adiantou o Arius proclamar que Cristo era um ser criado. O bom Jeová, distante desses arabescos colaterais, até esqueceu que tinha um filho que era seu par, e só o anunciou três ou quatro milênios mais tarde. Hoje, três-em-um só o da Gradiente, e assim mesmo há horas saiu do mercado. Esse, damos de graça.
Natal também é balela. Nos dias do Constantino, o povão andava cultuando o sol no solstício de inverno. Ninguém sabe quando nasceu o judeu aquele. Celebramos a data no 25 de dezembro para tapar o culto ao Sol Invictus. E transferimos a coroa solar para a cabeça de nossos santos, como aureóla, para não fugir de todo ao antigo culto.
Aquela história do pão e vinho, corpo e sangue, foi porre do Cristo. Os vinhos da Galiléia pegam forte. Esqueçam o que ele disse.
O judeu aquele não era lá muito católico. De fato, teve um rolo com a madalena. Mas depois do que se viu na Igreja, seu pecadilho nada teve de original. Café pequeno.
Isso de céu, inferno e purgatório são cantigas para ninar pardais. Se a vida de muitos irmãos já é um inferno aqui na terra, para que condená-los a mais um depois da morte? Céu? Depois do Galileu, não há planeta para abrigá-lo. Purgatório foi apenas um achado, em época em que a Igreja andava mal das pernas, para juntar alguns trocados para a obra divina. Tudo o mais é negociável.
E antes que me esqueça: Deus não existe.
13 de março de 2013
janer cristaldo
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