"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 14 de março de 2013

GUERRA URBANA, O ACASO E OUTROS ASSUNTOS

 

No domingo, Ferreira Gullar escreveu sobre o acaso nos esportes, assunto de que gosto, mas não consigo dizer com a mesma sensibilidade do poeta. “A função do técnico é tornar a ação dos jogadores inteiramente previsível, do seu e do time adversário, ou seja, anular o acaso. Mas, isso, nem Deus consegue”.
A estratégia dos treinadores serve também de repressão e sublimação. É um aviso aos atletas de que eles não podem ultrapassar certos limites nem colocar a ambição individual acima da coletiva. Se todos fizerem o que desejam, sem regras, será o caos. O mesmo ocorre na vida.

Paga-se também um preço por isso. Se a repressão e a sublimação forem muito intensas, diminuem a espontaneidade e a criatividade. Zico disse que uma das dificuldades que teve como técnico da disciplinada e previsível seleção do Japão era convencer os jogadores de que eles podiam e deviam improvisar.

BOTAFOGO

Mudo de assunto. Parabéns ao Botafogo pelo título da Taça Guanabara. O clube precisa de confiança, de gostar, de se acostumar com conquistas e de deixar de ser um time azarado. Para isso, o Botafogo já tem um símbolo, uma liderança, o “garoto” Seedorf, único campeão da Europa por três times diferentes (Ajax, Real Madrid e duas vezes pelo Milan).

Apesar da classe de Seedorf, os clássicos entre Botafogo e Vasco e, principalmente, entre São Paulo e Palmeiras foram de pouquíssima qualidade técnica. Muitos gostaram. Estou sem paciência para ver jogos ruins ou a maioria se contenta com pouco e acha que está tudo ótimo. Devem ser as duas coisas. Há também os que falam bem para levantar o futebol, ainda mais próximo da Copa no Brasil. Futebol é negócio.

É a mesma visão da violência. As pessoas foram se acostumando e, só agora, perceberam o óbvio, o caos, a guerra urbana que existe hoje no futebol e em toda a sociedade. Todos sabem as causas. Não há nada de acaso. Chega de discussões e de blá-blá-blá. Os responsáveis precisam agir, com rigor e rápido.

LUGAR CERTO

Mesmo com Pedro, o Barcelona jogou com muito talento e com uma enorme alma e goleou o Milan por 4 a 0. A volta da marcação por pressão, muito benfeita, foi também fundamental. As duas derrotas contra o Real Madrid e a diante do Milan, na primeira partida, devolveram ao time a postura de que, contra grandes rivais, é necessário um grande esforço, fazer algo mais, que vai além da rotina. É muito mais que estar ou não motivado. É um sentimento que não dá para ser medido.

O Barcelona está no lugar certo, ao lado de Real Madrid e Bayern, que deve confirmar hoje sua vaga. São as três melhores equipes do mundo. Não há favorito entre as três. Era a mesma situação do ano passado, mas o Chelsea foi campeão. É o futebol.
14 de março de 2013
Tostão (O Tempo)

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