"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 14 de março de 2013

O PAÍS DA INDIGNAÇÃO SELETIVA SÓ NÃO ACEITA PASTORES DO PRIMITIVISMO. O RESTO PODE.

 
 
Têm razão os inconformados com a escolha do deputado Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Uma cabeça estacionada no século 19, constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, não saberá lidar com questões do século 21. Feita a ressalva, não custa perguntar aos manifestantes por que só agora lhes bateu a ideia de sair às ruas com um nariz de palhaço, cartazes com inscrições indignadas e a expressão transida de horror. Feliciano merece. Mas há gente que merece isso tudo e muito mais.

Fernando Collor, por exemplo, pediu e levou a presidência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, há poucos anos, sem que se vislumbrasse uma única exclamação de espanto. Enquanto o chefe da bancada do cangaço sorria na festa de posse, o deputado João Paulo Cunha arreganhava os dentes para os fotógfrafos que registraram a instalação do mensaleiro juramentado na presidência da Comissão de Constituição e Justiça. O mandato terminou, mas o gatuno condenado à gaiola pelo Supremo Tribunal Federal continua por lá. É um dos representantes do PT. Outro é José Genoíno, companheiro de partido e, em breve, vizinho de cela.

Onde estavam os manifestantes deste março março quando o comando da Comissão de Meio Ambiente foi entregue ao senador Blairo Maggi, do PR de Mato Grosso? Qualquer remanescente de espécies em extinção sabe que, pelo que andou fazendo na Amazônia, o Marechal da Motosserra é mesmo capaz de plantar soja até nos Andes. Mas a afronta foi engolida sem engasgos por brasileiros que só não aceitam o pastor acorrentado a preconceitos medievais. Só o parlamentar do PSC paulista não pode.

Renan Calheiros na presidência do Senado? Pode. Henrique Alves na presidência da Câmara? Pode. Gabriel Chalita na Comissão de Educação? Pode. Isso para ficarmos nas fronteiras do Congresso. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, tudo é permitido. Dilma Rousseff pode fingir que pensa disfarçada de presidente da República. E pode fazer o que quiser. Até presentear com ministérios 39 patetas que escolheu para ajudá-la a complicar o país.

14 de março de 2013
Por Augusto Nunes - Veja Online

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