Não existe razão para pensar que famílias do mesmo sexo prejudicam crianças
Os defensores do casamento tradicional dizem que o argumento contra o casamento gay gira em torno, principalmente, do bem-estar das crianças. Então, vamos falar sobre as crianças.
Os riscos para as crianças neste debate caem em duas categorias. Uma delas é legal: uma série de leis e benefícios criados para manter crianças seguras e amadas é negada a crianças que crescem com pais do mesmo sexo. Isso pode ser resolvido sem permitirmos que casais homossexuais sejam reconhecidos como tais perante a lei?
A outra é social: pesquisadores tentaram determinar se crianças que crescem com duas mães ou dois pais têm desempenhos diferentes de crianças crescendo com um pai e uma mãe.
Existe alguma razão para pensar que famílias do mesmo sexo são ruins para as crianças? Se assim for, líderes políticos devem legislar com mais cuidado?
A maioria dos países continua a negar a crianças de pais homossexuais muitas salvaguardas que protegem as crianças de casais heterossexuais. A história está repleta de casos de crianças que passam por desgostos e traumas porque seus pais não são reconhecidos como pais. Há casos de mães e pais afastados do leito de hospital de seus filhos sob o argumento de que "não são família".
Há casos de adultos negados direitos de visitação depois de um rompimento. Muitos países restringem a capacidade de um pai gay de adotar ou responder à emergência médica de seu filho. As leis do divórcio foram criadas em grande parte para assegurar que crianças recebam apoio financeiro e emocional quando casamentos acabam: no casamento ou no divórcio, a proibição ao casamento gay garante que algumas crianças não contarão com esse apoio.
O estigma de ser tratado como se sua família não fosse uma família "real" equivale a uma autorização oficial para a intimidação e humilhação. As crianças compreendem e interiorizam a sensação de que algo está errado com suas famílias e que elas deveriam se envergonhar.
O que nos traz à questão social.
Pesquisas não mostraram nenhuma desvantagem significativa associada ao fato de uma criança ser criada por mães lésbicas e pais gays — não no desempenho acadêmico, não na saúde psicológica, não no desenvolvimento social ou sexual, não no comportamento violento ou no abuso de substâncias.
E as pesquisas não deixam dúvidas de que a estabilidade de se ter uma família com dois pais (de qualquer sexo) oferece uma chance maior de que as famílias terão estabilidade financeira, serão mais atentas à educação dos filhos e mais seguras do que famílias com apenas um pai ou mãe.
Mesmo se as pesquisas mostrassem que os filhos de casais homossexuais se tornam adultos menos bem ajustados que os filhos de casais “normais”, deveria o governo realmente intervir? Afinal, há pesquisas que mostram que crianças cujos pais são de diferentes etnias têm mais dificuldades, em média, do que as crianças com pais da mesma cor.
Mas nenhuma pessoa séria sugere voltarmos ao passado no que se refere ao casamento interracial.
*Trechos selecionados do artigo de Bill Keller para o New York Times
08 de abril de 2013
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