Artigos - Movimento Revolucionário
Se toda a gente está de acordo em tudo, e de forma unânime com a psicose gnóstica, o debate público em torno de questões fundamentais vai sendo evitado e mesmo proibido.
Com a contemporaneidade, e principalmente com o pós-modernismo a partir do princípio da década de 1960, a Europa entrou numa Idade das Trevas que clama por um novo Renascimento.
Essa Idade das Trevas é marcada por um obscurecimento intencional da história, promovida pelas elites, em nome da utopia. Ao contrário dos bárbaros que invadiram o império romano, os novos bárbaros habitam intramuros; e através do apagamento da história ou da sua desconstrução, por um lado, e por outro lado mediante a redução coerciva do vocabulário e da restrição inquisidora da linguagem, os novos bárbaros acreditam que podem alterar o fundamento da natureza humana e submeter os povos da Europa a engenharias sociais que legitimem um pensamento único que é, por sua própria natureza, totalitário.
A esses novos bárbaros chamamos de “novos gnósticos”.
Uma nova estirpe do gnosticismo, adequada ao nosso tempo, triunfou e domina a Europa que vive hoje uma nova Idade das Trevas. E assim como Renascimento do século XIV foi a redescoberta europeia do Classicismo, um novo Renascimento será a redescoberta e a revalorização, por parte dos povos da Europa, da suas respectivas histórias; será a redescoberta da verdadeira liberdade que é aquela que situa plenamente o cidadão de um país na sua História.
Uma sociedade sem passado não tem futuro.
E o que os novos gnósticos pretendem é destruir, nos povos, qualquer esperança de futuro, e em nome de uma utopia que recusa a realidade da natureza e das coisas; constroem uma “segunda realidade” que justapõem à realidade em si mesma, afirmando a necessidade de uma unanimidade total (e totalitária) em relação à primeira, e recusando a segunda.
O fenômeno político, social e cultural do contemporâneo gnosticismo na Europa é esquizofrênico.
As coisas já não são conforme a natureza as definiu, mas antes são aquilo que os novos gnósticos querem que sejam. Já se perdeu a noção, na cultura intelectual, daquilo que pode ser alterado, por um lado, daquilo que, por outro lado e por sua própria natureza, não é passível de qualquer alteração senão por ilusão psicótica.
A sociedade entrou numa psicose coletiva, e uma grande parte das pessoas vive num mundo virtual, em que as palavras e os atos assumem sentidos diferentes e abstratos como se toda a realidade fizesse parte de um qualquer jogo no Facebook.
O papel da censura gnóstica é desempenhado pela comunicação social.
A nova censura me®diática humilha os relapsos e instala um medo difuso na sociedade. Para que a realidade e a natureza das coisas seja alterada radicalmente, os novos gnósticos necessitam de uma total unanimidade de opinião — porque de nada serve à elite gnóstica dizer que “uma pedra é um pau”, se não estiver toda a gente de acordo: basta que alguém discorde para que o povo veja que, afinal, “a pedra não é um pau” e que “o rei vai nu”. Os novos gnósticos exigem a unanimidade absoluta.
E para garantir o unanimismo que legitima a psicose coletiva, a comunicação social (vulgo, me®dia) transformou-se no instrumento da nova censura (a nova Inquisição) que pune os refratários através da humilhação pública (à semelhança dos julgamentos públicos de Mao Tsé-Tung e de Stálin) e do achincalhamento insultuoso na praça pública. Os me®dia são o braço armado da atual revolução psicótica e gnóstica.
O debate público torna-se perigoso e mesmo proibido pelos novos gnósticos.
Se toda a gente está de acordo em tudo, e de forma unânime com a psicose gnóstica, o debate público em torno de questões fundamentais vai sendo evitado e mesmo proibido. O debate público é, assim, reduzido a questiúnculas pessoais entre pessoas do jet set, ou reduzido a discussões político-partidárias de “lavagem de roupa suja” e sem qualquer substância, e todas as questões realmente importantes para a sociedade e para o seu futuro passam a ser evitadas ou proibidas pelos me®dia. E quem se atreve a fugir ao paradigma do normativo politicamente correto, imposto pela psicose gnóstica, recebe a etiqueta pública de “maluquinho”.
O novo Renascimento na Europa, que extinga a atual Idade das Trevas, passa pela coragem e por um trabalho de resistência, muitas vezes anônimo mas persistente; passa pela demonstração das consequências políticas e sociais negativas e nefastas decorrentes da ação psicótica dos novos gnósticos; e pela adopção de uma linguagem adequada a uma “lei natural” que entre os estóicos era sinónimo de “lei racional”; e passa sobretudo pela criação de novas formas de comunidade que não se reduzam ao sistema político partidário que temos e que se assenta precisamente na promoção sociocultural de uma psicose coletiva.
08 de abril de 2013
Orlando Braga
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