"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 6 de abril de 2013

DOIS FLAGRANTES DA IMPRENSA

Feliciano, a “Geni” do Brasil, e Genoino, o pensador garboso. Quem é mesmo o condenado?


Dois textos publicados em sites de grandes jornais chamaram a minha atenção nesta sexta. Um, do Globo Online, foi ao ar às 17h35 e tinha como protagonista o deputado Marco Feliciano (PSC-SP); o outro, da Folha Online, das 19h56, dava destaque ao deputado José Genoino (PT-SP). Vejam as imagens. Volto em seguida.
 
 
Voltei

Um estrangeiro que não soubesse nada sobre o Brasil e não lesse português certamente ficaria com a impressão de que é Feliciano, não Genoino, o homem público condenado pela Justiça por corrupção ativa e formação de quadrilha.
 
Escrevi ontem um longo texto — mais um! — sobre a imprensa, o adernamento politicamente correto do noticiário, o desprezo a alguns valores fundamentais da democracia e do estado de direito em favor de grupos militantes, a adesão à agenda oficialista, a impressão, em suma, que passa esse noticiário de que não existem divergências na sociedade brasileira — a não ser alguns homens maus, que merecem ser linchados.
 
O Globo reproduzia texto assinado por Baggio Talento, da agência de notícias “A Tarde”, da Bahia. O tom é pra lá de militante. Segue, em vermelho, um trecho da reportagem, conforme o site a publicou, com todas as vírgulas a mais e a menos…

Ele [Feliciano] esteve na sede da Igreja Batista Avivamento Profético, no bairro da Ribeira para participar de um culto que integrou o 20° Congresso do Poder Impacto Espírito Santo. Enfrentou manifestações contra e a favor no lado de fora do templo. Mas, a imagem marcante foi de Feliciano tentando esconder a cabeça com seu paletó para não ser reconhecido, com o objetivo de escapar do assédio de manifestantes ligados a grupos homossexuais e da imprensa, que o aguardavam no local.
 
Retomo

“Enfrentar manifestação a favor” é coisa inédita no mundo, mas o jornalismo brasileiro avança por caminhos ignotos, e isso deve querer dizer alguma coisa. Será mesmo que Feliciano cobriu o resto para não ser reconhecido? Que sentido faria? Naquelas circunstâncias, proteger-se com um paletó teria mesmo o objetivo de “escapar do assédio”? O mais provável é que procurasse se defender de agressão física mesmo. Se vocês lerem o texto, perceberão que resta evidente o esforço para ridicularizar o deputado.
 
Agora Genoino

Com Genoino, é diferente. Vejam lá como ele aparece garboso na foto. O texto informa que ele participou de um programa de televisão e, vejam que coisa nova e surpreendente!, negou que tivesse havido mensalão. Criticou ainda o julgamento havido no Supremo, pautado, segundo ele, por “maniqueísmo fundamentalista”.
 
O condenado pela Justiça tem, portanto, lições de moral a dar. E não! Não se informa que o homem, cujo mandato já foi cassado pelo Supremo — agora só faltam as formalidades —, é membro da comissão mais importante da Câmara: a de Constituição e Justiça.
 
No programa, Genoino também negou que dinheiro público tenha alimentado o mensalão. O redator achou desnecessário observar que, só no Banco do Brasil, houve um desvio de R$ 73 milhões. Até Ricardo Lewandowski condenou Henrique Pizzolato, ex-diretor da instituição, por peculato.
 
Aonde Feliciano vai, os baderneiros vão atrás, com ampla cobertura da imprensa. Já José Genoino, o condenado que é membro da CCJ, é tratado como excelência e como pensador. O texto com o pensamento original de Genoino foi publicado no dia em que Lula se tornou, oficialmente, mais um investigado do mensalão.
Assim são os tempos.
 
06 de abril de 2013
Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário