Artigos - Movimento Revolucionário
E eu não sei quem é mais burro.
“Marx não era contra a religião ou filosofia religiosa em si, mas contra as instituições religiosas aliadas à classe dirigente europeia”. — ‘Sou marxista’, diz Dalai Lama a estudantes chineses.
O Dalai-lama teria que ler alguns livros de Karl Marx para não dizer asneiras. Normalmente dizemos asneiras mesmo lendo (errar é humano), mas quando a gente não sabe do que fala, então insultamos amiúde a inteligência dos outros.
Karl Marx não era só contra a religião: era também contra a filosofia.
“Feuerbach parte do fato da auto-alienação do homem, do desdobramento do mundo em um mundo religioso e um mundo terreno (1). O seu trabalho (de Feuerbach) consiste em reduzir o mundo religioso ao seu fundamento terreno. Mas o fato de que o fundamento terreno se separe de si próprio para se plasmar como um reino independente que flutua nas nuvens, é algo que só pode explicar-se pelo próprio afastamento e contradição deste fundamento terreno consigo mesmo.
Portanto, é necessário tanto compreendê-lo na sua própria contradição como revolucioná-lo praticamente. Assim, pois, por exemplo, depois de descobrir a família terrena como o segredo da família sagrada, há que destruir teórica e praticamente a primeira.”
(Karl Marx, Manuscritos Económicos-Filosóficos, Porto, 1971.)
Neste trecho, Karl Marx não só nega qualquer metafísica (o que é, em si mesmo, uma forma de metafísica), como defende abertamente a destruição prática e teórica da família — que é o que está a acontecer atualmente na Europa e nos Estados Unidos.
“Feuerbach resolve a essência religiosa na crença humana. Mas a essência religiosa não é alguma coisa que seja abstrata e imanente a cada indivíduo. É, na sua realidade, o conjunto de relações sociais.
(…)
Feuerbach, não vê, por conseguinte, que o “sentimento religioso” é, por sua vez, um produto social e que o indivíduo abstrato que ele (Feuerbach) analisa pertence a uma determinada forma de sociedade.” (ibidem).
Em primeiro lugar, Karl Marx confunde “comunidade religiosa”, por um lado, com “religiosidade humana”, por outro lado. A comunidade religiosa é a que decorre da intersubjetividade ou daquilo a que Karl Marx chama de “relações sociais”. Mas a religiosidade é inerente à natureza fundamental do ser humano entendido como indivíduo e pessoa, e independente de este pertencer a uma comunidade religiosa ou não.
Em segundo lugar, Karl Marx não se dá conta ou não reconhece a sua (dele) própria religiosidade (imanente e monista), ou seja, incorre em uma contradição em termos. Em terceiro lugar, é impossível erradicar o “sentimento religioso” inerente à natureza humana, a não ser substituindo a religiosidade natural e trascendental do ser humano (cosmovisão e cosmogonia) por uma religião política totalitária, imanente e monista, idêntica ou semelhante à que prevalece hoje, por exemplo, na Coreia do Norte ou na Alemanha nazi.
“Toda a vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios induzem à teoria do misticismo encontram a sua solução racional na prática humana e na compreensão desta prática.” (ibidem)
Em primeiro lugar, Karl Marx reduz todo o universo e a sua existência, à prática humana, o que é irracional. Em segundo lugar, Karl Marx nega a ciência, porque também existem mistérios em ciência que induzem a uma espécie de misticismo científico — porque “a maior fé é a do cientista, porque é inconfessável” (Roland Omnès). Um exemplo de um mistério científico é o bóson de Higgs; ou a complexidade irredutível (não se tratam de enigmas, porque estes podem ser resolvidos pela razão). Por fim, a ciência não se reduz à prática, porque do empirismo só podemos esperar resultados empíricos; e neste sentido podemos dizer que Karl Marx é anti-científico.
“Os filósofos limitaram-se até agora a interpretar o mundo de diferentes modos; do que se trata é de o transformar.” (ibidem)
E transformando o mundo, o marxismo foi responsável por mais de 100 milhões de vítimas inocentes diretas; só na China estima-se que tenham morrido mais de 50 milhões de pessoas às mãos de Mao Tsé Tung. A transformação do mundo, segundo o marxismo, é a materialização do apocalipse. E é nisto que o Dalai-lama acredita; e eu não sei quem é mais burro: se Marx, se o Dalai-lama.
Nota:
(1) Refere-se à doutrina de S. Agostinho das “duas igrejas”, a terrena e a celestial.
29 de abril de 2013
Orlando Braga
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