"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 4 de abril de 2013

O TOMBO DO GIGANTE

Lucro da Petrobras em 2012 recua 36%, para R$ 21,18 bi, o pior resultado em oito anos

Defasagem nos preços da gasolina e do diesel, aumento das importações de combustíveis, alta do dólar, queda de 2% na produção e poços secos. Estas são as causas que explicam o menor resultado registrado pela Petrobras nos últimos oito anos. A estatal obteve um lucro líquido no ano passado de R$ 21,18 bilhões, uma queda de 36% em comparação aos R$ 33,3 bilhões do ano anterior.

Foi menor lucro da estatal desde 2004, quando registrou ganho de R$ 17,8 bilhões. Considerando os valores nominais, ou seja, com a inflação do período embutida nos números, a queda percentual é a maior desde a registrada em 1995 (48,7%), ano seguinte à implementação do Plano Real, que estabilizou a moeda. Os números são da base de dados da consultoria Economatica.

No quarto trimestre do ano passado, o resultado de R$ 7,7 bilhões foi 39% maior do que os R$ 5,5 bilhões do trimestre anterior. Os reajustes de 7,83% dado à gasolina e de 3,94% para o diesel em junho, seguidos de mais 6% para o diesel no mês seguinte, contribuíram para a melhoria do resultado da companhia no último trimestre do ano.

No comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirma que o resultado se deveu principalmente ao aumento das importações de derivados a preços mais elevados em relação aos de venda no mercado interno e à desvalorização cambial, que impactou tanto os resultados da companhia como seus custos operacionais. Graça Foster explica ainda que o resultado também foi influenciado por despesas extraordinárias, como a baixa de poços secos, além da queda de 2% na produção de petróleo em 2%, que ficou em 1,98 milhão de barris por dia.

O resultado do quarto trimestre veio um pouco acima do esperado pelo mercado. Segundo Leonardo Alves, analista da corretora Safra, a Petrobras surpreendeu graças à venda de títulos públicos e à economia com impostos, que contribuíram com R$ 2,78 bilhões para o lucro líquido nos três últimos meses do ano.

- São resultados que não se repetem. É um dinheiro que entrou no caixa da companhia no trimestre passado, mas que não entra mais no futuro - afirma Alves. - Descontado isso, os números de produção vieram dentro do que era esperado pelo mercado.

Alves diz que o dado negativo ficou por conta da relação entre o endividamento e o lucro antes dos impostos (Ebitda) da companhia, que chegou a 2,77 vezes. Segundo ele, um número acima de 2,5 vezes coloca em risco o grau de investimento da Petrobras, o que significa que pode ficar mais caro para a empresa tomar dinheiro emprestado no mercado:

- Mas não quer dizer que a nota de classificação de risco da Petrobras será imediatamente cortada. Só que é algo que se precisa acompanhar.

No ano passado, a Petrobras importou 433 mil barris diários de combustíveis, principalmente gasolina e diesel, volume 12% maior do que os 387 mil barris diários no ano anterior. Isso porque o consumo de combustíveis no país cresceu 8%. A demanda por gasolina aumentou 17%. Ao todo, incluindo petróleo, as importações totalizaram 779 mil barris diários, 4% a mais em relação aos 749 mil barris diários do ano anterior. A área de Abastecimento teve um prejuízo em 2012 de R$ 34,5 bilhões, por causa da defasagem dos preços dos combustíveis, representando um aumento de 136% em relação ao prejuízo de R$ 14,5 bilhões no ano anterior.

Já as exportações de petróleo e derivados caíram 13%, totalizando 548 mil barris diários, contra 631 mil barris diários no ano anterior.

No ano passado, a Petrobras investiu R$ 84,1 bilhões, um aumento de 16% em relação aos R$ 72,5 bilhões do ano anterior. Para este ano a companhia prevê investimentos de R$ 97,7 bilhões.
Segundo Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, o resultado reflete em parte as intervenções do governo na companhia. Segundo ele, somente num cenário de desaceleração da inflação a Petrobras vai conseguir um novo reajuste no preço dos combustíveis.

- O governo não tem deixado a Petrobras atuar como uma empresa voltada ao lucro. Está difícil para a empresa equilibrar assim a necessidade de fazer investimentos gigantes - afirma.

Ontem, as ações da Petrobras fecharam em queda na Bovespa. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) chegaram a recuar 3,09%, antes de fechar em baixa de 2,49%, cotadas a R$ 18. As ações ordinárias (ON, com voto) caíram 2,79%, a R$ 18,10. O Ibovespa fechou em queda de 1,29%.
Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora, diz que, além das expectativa sobre o resultado, a Petrobras foi afetada ontem na Bolsa pela queda de 4,9% da produção de petróleo em dezembro, como informou a ANP.
- No longo prazo, a defasagem dos combustíveis segue pesando.

04 de abril de 2013
Bruno Villas Bôas
O Globo - 05/02/2013

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