No encontro previsto para hoje com os líderes da oposição, a presidente Dilma Rousseff repetirá que a reforma política por plebiscito é fundamental para governo e Congresso provarem que ouviram e entenderam a voz da rua.
E ela própria, se pelo menos uma vez deixar de lado o costume de fazer de suas audiências meros monólogos, relegando os seus convidados ao passivo papel de plateia, ouvirá críticas pesadas a essa sacada infeliz com que tentou passar a borracha sobre a mais desastrada de suas ideias desde que chegou ao Planalto - a convocação, mediante consulta popular, de uma Constituinte exclusiva para mudar as regras do sistema eleitoral e da atividade política.
Mesmo que seja escasso o tempo que ela lhes conceder na reunião, os deputados e senadores oposicionistas darão o troco em seguida, na entrevista coletiva de praxe em tais ocasiões, ainda em palácio. Será um replay das acres expressões de descontentamento transmitidas à imprensa pela maioria dos dirigentes sindicais chamados pela presidente na quinta-feira. Foi o primeiro grupo a desfrutar do duvidoso privilégio de ser instado a aderir ao plebiscito da reforma - na véspera, quando foi a vez da cúpula da OAB, a Constituinte exclusiva ainda não tinha recebido a extrema-unção.
A reação dos sindicalistas foi além do esperado, mesmo levando em conta que, sob Dilma, eles perderam a condição de interlocutores especiais a que foram alçados pelo antigo metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva e parcela substancial do espaço que detinham no aparelho do governo.
Contribuiu para isso o "estilo Dilma". Depois de falar sem interrupções durante 35 minutos - quando exortou os ouvintes a suspender a greve geral marcada para 11 de julho contra a inflação alta e o crescimento baixo -, deu os trâmites por findos, sem mais aquela, assim que os inscritos para falar opinaram sobre a situação nacional.
Diante dos jornalistas, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, a acusou de ter feito uma reunião para discorrer sobre os seus "planos mirabolantes".
Acrescentou que "saímos daqui como sempre saímos, sem encaminhamento das nossas reivindicações". Até aí, nada de mais: ele joga para a sua arquibancada. Mas o fato é que o defensor de Dilma, o presidente da CUT, Vagner Freitas, foi menos do que convincente ao retrucar que o encontro se destinara a tratar das demandas da rua e não da agenda sindicalista.
A verdade, quem diria, foi enunciada pelo mais radical dos presentes, o presidente do PSTU e coordenador do CSP-Conlutas, José Maria de Almeida. O plebiscito de Dilma, apontou, "é para desviar a atenção da crise de seu governo".
Tanto é manobra diversionista que o tema da reforma política foi mencionado por apenas 1% dos participantes dos protestos, em pesquisa do Datafolha na Avenida Paulista. (Contra a corrupção foram 50%; contra o aumento das passagens, 32%; e por transporte melhor, 19%.)
E tanto o governo está em crise que, para citar uns poucos exemplos, o PT não para de falar mal de sua condutora pelas costas; o PMDB está "por aqui" com o tratamento que ela lhe dispensa e que culminou com o anúncio da Constituinte exclusiva sem consulta prévia ao vice (e constitucionalista) Michel Temer; e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou nu - e só - diante de seus inimigos numa audiência, anteontem, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.
Estavam presentes apenas 6 dos seu 36 membros titulares, o que deu margem ao sarcasmo do deputado Rodrigo Maia, tão logo Mantega se acomodou. "Ou o ministro está muito fraco ou os deputados já foram embora", fustigou.
Depois de sua exposição previsivelmente otimista sobre "a nova matriz econômica", Mantega foi praticamente esfoliado pela oposição, que não se guardou de pedir a sua cabeça. "O ministro sofre de um surto psicótico", investiu ainda Maia.
"A crise de confiança (no governo) se chama Guido Mantega e equipe econômica." O seu companheiro de partido, Mendonça Filho, desdenhou da exposição do ministro chamando-a de "ficção científica". Juntou-se a eles, entre outros, o tucano Duarte Nogueira, para diagnosticar que o governo "está feito uma barata tonta". É uma descrição apropriada.
28 de junho de 2013
Editorial do Estadão
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