Na ditadura militar, dizia-se que "o que é bom para os EUA é bom para o Brasil". Adaptando-se aos novos tempos, temos hoje que "o que é bom para os EUA pode ser muito ruim para o Brasil".
Enquanto os EUA saem da crise devagar e sempre, o Brasil vive uma montanha-russa que foi particularmente estonteante do início ao fim da semana passada. Na sexta, a Bovespa caiu para 51 mil pontos e o dólar subiu para R$ 2,13.
Em boa parte, dizem os experts, isso é resultado da recuperação norte-americana. O dólar resgata seu velho vigor e os EUA voltam a ser atrativos para investidores de diferentes gostos e regiões do planeta.
No Brasil, que se preparou para uma longa crise norte-americana, a reversão de expectativas corresponde a: 1) o dólar subindo ameaça ainda mais a inflação, já no teto de 6,5%; 2) o Banco Central não tem alternativa senão manter a alta dos juros, para tristeza e irritação tanto da presidente quanto da candidata Dilma, franca favorita em 2014.
Como pano de fundo, há a nítida aproximação política entre Brasília e Washington, com troca de amabilidades, visitas para cá e para lá, promessas de lado a lado, programas de cooperação e boas perspectivas comerciais bilaterais.
É nesse contexto que a nova embaixadora Liliana Ayalde chega a Brasília e o craque Paulo Vannuchi é eleito para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, preparando terreno para a normalização da relação do Brasil com a OEA, que une os países latino-americanos aos EUA.
Quem determinou a retirada do embaixador na OEA foi Dilma, mas o processo de esvaziamento do organismo e de substituição pela Unasul começou com Lula. Pode estar sendo interrompido.
Afinal, o Brasil não parece ser mais o queridinho de potências e emergentes, e os EUA dão mostras, na economia e com a ofensiva "Big Brother" em plena era Obama, de que o império não vai ruir tão cedo.
09 de junho de 2013
Eliane Cantanhede, Folha de São Paulo
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