"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 9 de junho de 2013

PIORA ESTRUTURAL

 

Foi uma semana ruim para a economia brasileira. O Banco Central reconheceu que a inflação está alta e deve subir mais os juros; a S&P colocou a nota do país em viés negativo; o IPCA voltou ao limite da meta.

As notícias reforçam sinais dados por outros indicadores que vêm piorando há um bom tempo. O PIB desacelerou, a balança comercial encolheu, as taxas de poupança e de investimento caíram.

A bolsa não reage e continua longe do recorde de 73 mil pontos. Caiu ontem a 51 mil. A indústria continua 1,8% abaixo de maio de 2011. O déficit em conta corrente chegou a 3% do PIB e já não é mais inteiramente financiado pelo Investimento Estrangeiro. Voltamos a depender de capital especulativo.

Vários setores ficaram muito tempo travados. Aconteceu com o petróleo e ainda acontece com a mineração. O setor de energia mudou o marco regulatório em tempo recorde e gerou insegurança.

O estímulo ao consumo elevou as dívidas, e a inadimplência subiu no melhor momento do mercado de trabalho. A inflação tem tirado o ímpeto do consumo. Não são poucos os sinais de que algo está fora do lugar.

O economista Mário Mesquita, ex-diretor do BC e sócio do banco de investimentos Brasil Plural, avalia que, de tudo, a política fiscal foi a que mais perdeu credibilidade. Mesquita lembra que hoje é preciso expurgar números para se saber qual é o superávit primário e explica que a dívida líquida deixou de ser referência:

— Houve abalos ao tripé macroeconômico sem que se tenha colocado nada no lugar. Enquanto a dívida líquida descontava as reservas, era uma coisa. Agora, descontam-se empréstimos a entidades públicas. Começou em 2010. O governo vai usar bônus do pré-sal para ajudar no primário. Vamos queimar poupança para financiar gasto corrente. As contas estaduais, pouco a pouco, estão perdendo as amarras.

Pelo lado positivo, ele cita que melhoraram as reservas cambiais, a taxa de desemprego, e a confiança dos consumidores tem se sustentado. Mas, no conjunto, há muito mais indicadores que ficaram piores nos últimos anos.

— A política monetária deu sinais de que está preocupada com a credibilidade. Mas, no lado fiscal, ainda não há nenhuma indicação disso.

09 de junho de 2013
Alvaro Gribel e Valéria Maniero, O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário