Muda o clima político no país; governo Dilma não tem respostas para inflação nem para saúde, educação, segurança e transportes
No fim de semana em que teve início a Copa das Confederações, a programação de TV foi tomada por anúncios do programa Minha Casa Melhor, investida da presidente Dilma Rousseff para estancar a popularidade em queda. Trata-se de linha de crédito subsidiado, de até R$ 18,7 bilhões, para incentivar a compra de eletrodomésticos.
O benefício só está disponível para os mutuários do programa Minha Casa Minha Vida em dia com as prestações, num universo de 3,75 milhões de moradias já erguidas ou com construção prevista. Serão até R$ 5 mil por família para adquirir móveis, geladeiras, computadores e outros aparelhos.
Em quatro dias, 12 mil famílias assinaram contratos. Centenas de milhares se seguirão, com bons motivos para aplaudir o Planalto.
Todos os outros brasileiros, em contraste, veem sua capacidade de consumo estreitar-se de forma acelerada, sob o golpe duplo do aumento da inflação (que já corrói os salários) e dos juros (que deve onerar as compras a prazo). A errática política econômica do governo federal prejudica mais gente do que os favorecidos por suas iniciativas de transferência de renda.
Decerto as vaias recebidas pela presidente no estádio Mané Garrincha, sábado, não têm relação direta só com a deterioração das expectativas econômicas. Sempre haverá espectadores de futebol dispostos a apupar uma autoridade.
Dilma Rousseff resvalará para o autoengano, porém, se desconsiderar que as vaias vieram na semana em que se espalharam pelo país protestos contra altas de preços (tarifas de transportes) e contra o que alguns percebem como mau emprego de verbas públicas (nos eventos esportivos, entre outros).
É fato que, no terceiro ano de seu governo, são fortes os sinais de que se rompe a bolha de otimismo que levou Dilma ao Planalto.
A reação habitual da presidente tem sido aumentar a aposta, como no caso do Minha Casa Melhor. Estima-se que o programa possa exigir subsídio de até R$ 1 bilhão ao ano. Para custeá-lo, o governo recorrerá a mais endividamento público, com transferência de R$ 8 bilhões à Caixa Econômica Federal, a fundo perdido.
O total de crédito bancário para aquisição de bens (excluídos automóveis), hoje, está próximo a R$ 10 bilhões. Num passe de mágica, o programa quase triplica o valor. É um despropósito, num momento em que fomentar o consumo não parece mais capaz de estimular a atividade econômica de forma duradoura. Será apenas um alívio temporário para os setores contemplados, à custa de maior endividamento das famílias.
O que aflige os brasileiros é a perda de poder aquisitivo, com a inflação, e a incapacidade do Estado de apresentar soluções concretas para a crise nas áreas vitais de saúde, educação, segurança e transportes. Mais consumo e mais futebol não resolvem nada disso.
18 de junho de 2013
Editorial Folha de S. Paulo
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