É um exagero sugerir que o governo deflagrou a maratona do Bolsa Família nos últimos dias 18 e 19 unicamente para atribuir sua autoria à oposição, responsável por ela mediante a difusão de boatos.
O risco seria demasiado grande.
E se a movimentação inesperada de cerca de um milhão de pessoas em 13 Estados tivesse resultado em mortos e feridos? E se ao invés de um milhão tivessem sido quatro, cinco ou seis a se movimentarem?
Tudo bem, como adiantou Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência da República: o bicho vai pegar este ano, véspera da reeleição de Dilma ou de uma improvável derrota dela. Está pegando.
Faz-se o diabo para ganhar, disse a própria Dilma recentemente.
Mas ninguém em sã consciência rasga dinheiro. Vence quem erra menos. Ousadia em excesso é para quem está desesperado. Ou aloprou.
Em 2006, candidato à reeleição, Lula bateria fácil Geraldo Alckmin no primeiro turno.
Havia sobrevivido ao escândalo do mensalão graças ao erro de cálculo da oposição que, ao impeachment, preferiu esperar que ele sangrasse sozinho até a última gota. Mas aí funcionários da campanha de Lula alopraram, encomendando um falso dossiê contra Alckmin e José Serra.
Foi um lance com direito a mala abarrotada de dinheiro, batida da Polícia Federal em hotel no meio da noite e prisão do coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo e adversário de Serra.
Para não responder sobre os aloprados, Lula fugiu ao último debate dos candidatos a presidente promovido pela TV Globo. Sua vitória acabou adiada.
O caso dos aloprados ficou por isso mesmo. Ao do Bolsa Família parece reservado o mesmo destino.
Tudo indica que não estamos diante de um crime ardilosamente concebido.
O mais provável é que tenha ocorrido na Caixa um absurdo erro administrativo. E que em seguida se tenha tentado aproveitá-lo para desgastar a oposição. Nada de surpreendente, por suposto.
O presidente da Caixa afirmou que só soube de parte do que acontecera na segunda-feira 20.
Lorota: soube na tarde do sábado 18 que a Caixa adiantara na véspera o pagamento do benefício de maio de quase 700 mil pessoas.
Por fim, disse que precisou de cinco dias para se inteirar dos detalhes do desastre. Lorota: bastou o fim de semana, dispensado até um pulo ao prédio da Caixa para uma reunião de emergência.
De quantos dias precisaria a oposição para armar uma operação de telemarketing capaz de atingir um milhão de pessoas distribuídas por 13 Estados?
Vazou da Caixa o cadastro com os números de telefones de uma fatia dos clientes do Bolsa? Ou a empresa de telemarketing disparou telefonemas aleatórios, tendo a sorte de alcançar quem mais tarde disseminaria boca a boca o boato do fim do programa?
Há pontos obscuros de sobra a respeito do episódio.
Um jornal paulista cobrou do governo respostas para todos eles. Ouviu de volta: os esclarecimentos já foram dados. Ora, evidente que não foram.
Se a imprensa não existisse os governos seriam mais felizes. Em compensação, o distinto público seria mais enganado do que costuma ser - dia sim, outro não. Ou dia sim e outro também.
A dona do gatilho mais rápido do cerrado, a justiceira implacável que nada perdoa e cultiva o medo nos seus domínios, autorizou a publicação de uma nota em defesa da direção da Caixa.
Se assim não procedesse reconheceria que seu governo erra – e como erra! A cada dia erra mais.
O passo seguinte seria o de livrar-se de auxiliares tão descuidados.
Um deles, o presidente da Caixa, pediu desculpas aos brasileiros.
Dilma é quem deveria ter pedido.
03 de junho de 2013
Ricardo Noblat
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