"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 2 de julho de 2013

"CATARSE TEMPORÁRIA"

 
O marqueteiro João Santana atribui a queda de 27 pontos na popularidade de Dilma (sem contar os 8 pré-manifestações) a uma "catarse temporária", prevendo que a presidente renascerá das cinzas qual uma fênix e vencerá no primeiro turno em 2014. Possível quase tudo é, mas não será nada fácil.
 
Fernando Henrique e Lula também bateram no fundo do poço e voltaram à tona, em especial Lula, que afundou no mensalão em 2005, foi reeleito em 2006 e virou o presidente mais popular da história. Mas FHC tem inteligência política, Lula tem um faro extraordinário, e ambos tinham time. Faltam a Dilma bagagem, instrumental e equipe.
 
Não é com Mercadante na política, Mantega na economia e Gleisi na prateleira que a presidente vai pular a fogueira e superar a crise. Muito menos contrapondo o plebiscito da reforma política aos péssimos serviços à população e aos maus índices e presságios da economia.
 
O Datafolha confirma que o estrago não foi só em Dilma e pegou em cheio desde governadores, como o veterano Alckmin, a prefeitos, como o promissor Haddad, mas um dado sobressai: a pior avaliação dela é entre os mais jovens. Pode significar que eles estão jogando o PT no mesmo balaio dos demais partidos e de todo o resto. Fim do sonho.
 
Os maiores adversários de Dilma neste momento, aliás, são a perda do encanto e o pavor do PT e da base aliada diante da perspectiva de perda de poder --e de verbas, cargos, carros, viagens, secretárias...
 
E o maior aliado de Dilma é o tempo. Da "catarse temporária" até a eleição serão 15 meses, mais do que suficiente para reviravoltas, especialmente se nenhum candidato real, de carne e osso, ocupar o vácuo de liderança e de expectativas.
 
O tempo, porém, não é tudo. É preciso saber ocupá-lo. Há dúvidas se Dilma, convocando plebiscitos e reuniões ministeriais e compensando suas fragilidades com demonstrações de força, saberá.

02 de julho de 2013
Eliane Cantanhede, Folha de São Paulo

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