Com recuperação nos EUA e indícios promissores na Europa, emergentes precisam mostrar boa condução da economia para atrair capitais
Tornou-se clichê, nos últimos anos, afirmar que os países emergentes seriam a fonte do crescimento econômico mundial. Estados Unidos, Europa e Japão, por seu turno, estariam presos a amarras estruturais, como a demografia desfavorável, e ao endividamento público que restou da crise.
Ainda que não existam motivos para revisar a tendência de longo prazo, os últimos meses revelaram sobressaltos nesse caminho. O cenário é de recuperação dos países desenvolvidos, EUA à frente.
Espera-se que o crescimento americano se aproxime de 2% neste ano e supere 3% em 2014. Os preços de imóveis começam a subir, o que reanima boa parte do sistema financeiro. O país também passa por um choque de produtividade e redução de custos, inclusive com energia mais barata.
Embora os problemas sejam maiores na Europa, as notícias recentes também têm sido favoráveis. Na semana passada, houve avanços para implantar uma supervisão financeira única. Abre-se o caminho, com isso, para uma união bancária maior, passo decisivo para superar a desconfiança no euro.
Há evidências, ainda, de tênue recuperação nos países mais afetados pela crise, como Espanha, Irlanda, Itália e Portugal. Depois de quase um ano de recessão, a previsão é de alguma expansão do PIB europeu no segundo semestre.
Parece estar chegando ao fim o pior momento da crise no mundo rico. Em si, trata-se de evidente boa notícia. O crescimento global será maior, supõe-se, o que beneficia a todos. Os estímulos que aumentaram a oferta de capitais tornam-se menos necessários. Como consequência, os juros, hoje perto de zero, voltarão a subir.
O desafio dos emergentes, beneficiários da fuga de capitais dos países ricos, é se ajustar à nova realidade. Brasil, Índia e China passam por um período de crescimento menor do que o esperado.
Em um ambiente de relativa escassez de recursos, bons fundamentos econômicos (como inflação baixa e contas públicas equilibradas) e coerência nas ações internas serão ainda mais essenciais.
Quanto a esses aspectos, o Brasil não atravessa bom momento. Reflexo disso, a aprovação da gestão econômica caiu, em menos de um mês, de 49% para 27%, segundo o Datafolha --e, para 44%, o desemprego vai crescer, ante 36% na pesquisa anterior. A avaliação é pior do que a do conjunto do governo da presidente Dilma Rousseff, que recuou de 57% para 30%.
No mesmo ponto de seu mandato, em junho de 2005, Lula tinha 36% de aprovação na área econômica --apesar de taxa de juros, desemprego e inflação mais elevados.
Para reverter esse quadro, é preciso restaurar a confiança na política econômica, o que demanda coragem para reavaliar a estratégia dos últimos anos. A insatisfação que se manifestou nas ruas oferece boa ocasião também para isso.
02 de julho de 2013
Editorial da Folha
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