"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 2 de julho de 2013

"PLEBISCITO QUE O PT QUER É GOLPE!"

 
 
PLEBISCITO É GOLPE 
 
Carta ao Leitor de VEJA da edição que está nas bancas
 
O plebiscito proposto pelo governo e pelo PT é um golpismo por diversos motivos.
 
Primeiro porque, se nin­guém de bom-senso discorda da tese de que o Brasil precisa de uma reforma do sistema político, também não se encontra ninguém igualmente sensato que ache que isso deva ser feito via consulta popular.
Segundo, por­que a iniciativa é uma tentativa rasteira do PT e do governo de mudar de assunto, de lançar uma cortina de fumaça entre eles e os clamores populares. Se há uma coisa que os manifestantes têm demonstrado à exaustão é que os brasileiros estão cansados de golpes baixos e promessas vãs.
Terceiro, porque não se faz plebiscito para jogar nos ombros das pessoas o peso de decisões sobre o fun­cionamento de coisas complexas.
As pessoas não podem ser obrigadas a decidir exata­mente como as instituições devem funcio­nar. Elas querem simplesmente que as insti­tuições funcionem bem. que os funcionários públicos sejam honestos, imparciais e efi­cientes, que os políticos representem seus eleitores nas assembleias e no Congresso.
Uma reportagem da edição desta semana de VEJA revela que o PT e o governo não estão genuinamente interessados na consulta popular.
Eles querem mesmo é usar o tempo de televisão destinado à discussão das questões a ser propostas no plebiscito para colocar Lula fazendo propaganda da presidente Dilma Rousseff, a candidata do partido à reeleição em 2014.
Isso é inaceitável.
Os brasileiros foram às ruas exigir a re­forma dos políticos, não uma reforma políti­ca.
Com seus cânticos, suas faixas e carta­zes. as pessoas cobraram honestidade, trans­parência e eficiência dos políticos e das au­toridades de todos os níveis e partidos.
Elas exigiram, principalmente, o fim da corrup­ção.
Ora, não requer muito tirocínio concluir que esses anseios podem e precisam ser atendidos imediatamente, na vigência do atual sistema político.
Não há razão alguma para que os políticos e as autoridades não possam começar desde já a ser e parecer ho­nestos e funcionais.
É escárnio fingir que is­so só é possível depois de um plebiscito em que se vai exigir dos brasileiros uma opinião sobre tecnicalidades de funcionamento das engrenagens eleitorais.
Isso equivale a médi­cos perguntarem a familiares de um paciente de UTI se eles estão de acordo com os remé­dios perfundidos ou com a porcentagem de oxigênio no tubo traqueal.
Obviamente, eles não vão saber responder. Mas isso não toma menos justo seu direito de que o paciente tenha o tratamento adequado.
Assim deve ser em relação às institui­ções. Não se pode colocar como pré-requi­sito para a honestidade, eficiência e transpa­rência delas que as pessoas sejam experts em detalhes de seu funcionamento.
Exigir isso é iludir a plateia. E a plateia tem demonstrado com todo o vigor que se cansou de ser iludida.
 
02 de julho de 2013
Editorial da revista Veja
 

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