PLEBISCITO É GOLPE
Carta ao Leitor de VEJA da edição que está nas bancas
O plebiscito proposto pelo governo e pelo PT é um golpismo por diversos motivos.
Primeiro porque, se ninguém de bom-senso discorda da tese de que o Brasil precisa de uma reforma do sistema político, também não se encontra ninguém igualmente sensato que ache que isso deva ser feito via consulta popular.
Segundo, porque a iniciativa é uma tentativa rasteira do PT e do governo de mudar de assunto, de lançar uma cortina de fumaça entre eles e os clamores populares. Se há uma coisa que os manifestantes têm demonstrado à exaustão é que os brasileiros estão cansados de golpes baixos e promessas vãs.
Terceiro, porque não se faz plebiscito para jogar nos ombros das pessoas o peso de decisões sobre o funcionamento de coisas complexas.
As pessoas não podem ser obrigadas a decidir exatamente como as instituições devem funcionar. Elas querem simplesmente que as instituições funcionem bem. que os funcionários públicos sejam honestos, imparciais e eficientes, que os políticos representem seus eleitores nas assembleias e no Congresso.
Uma reportagem da edição desta semana de VEJA revela que o PT e o governo não estão genuinamente interessados na consulta popular.
Eles querem mesmo é usar o tempo de televisão destinado à discussão das questões a ser propostas no plebiscito para colocar Lula fazendo propaganda da presidente Dilma Rousseff, a candidata do partido à reeleição em 2014.
Isso é inaceitável.
Os brasileiros foram às ruas exigir a reforma dos políticos, não uma reforma política.
Com seus cânticos, suas faixas e cartazes. as pessoas cobraram honestidade, transparência e eficiência dos políticos e das autoridades de todos os níveis e partidos.
Elas exigiram, principalmente, o fim da corrupção.
Ora, não requer muito tirocínio concluir que esses anseios podem e precisam ser atendidos imediatamente, na vigência do atual sistema político.
Não há razão alguma para que os políticos e as autoridades não possam começar desde já a ser e parecer honestos e funcionais.
É escárnio fingir que isso só é possível depois de um plebiscito em que se vai exigir dos brasileiros uma opinião sobre tecnicalidades de funcionamento das engrenagens eleitorais.
Isso equivale a médicos perguntarem a familiares de um paciente de UTI se eles estão de acordo com os remédios perfundidos ou com a porcentagem de oxigênio no tubo traqueal.
Obviamente, eles não vão saber responder. Mas isso não toma menos justo seu direito de que o paciente tenha o tratamento adequado.
Assim deve ser em relação às instituições. Não se pode colocar como pré-requisito para a honestidade, eficiência e transparência delas que as pessoas sejam experts em detalhes de seu funcionamento.
Exigir isso é iludir a plateia. E a plateia tem demonstrado com todo o vigor que se cansou de ser iludida.
02 de julho de 2013
Editorial da revista Veja
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