"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 20 de junho de 2013

DECIFRA-ME SE FORES CAPAZ


Não está sendo fácil identificar as causas e os objetivos das manifestações populares eclodidas simultaneamente na maioria das capitais brasileiras dois dias após a estrondosa vaia dirigida à presidente Roussef, no último sábado, por ocasião da cerimônia de abertura da Copa das Confederações transmitida pela televisão para o Brasil e para o mundo.
 
A população foi às ruas e os fatos estão aí, sem versões, sem “resgate da memória” e sem história reescrita, à semelhança de um tsunami a derrubar o que parecia sólido, sendo lícito imaginar que a data de 17 de junho passará a ser um marco da democracia e do desmonte pacífico (ou quase) da farsa de um governo que busca, pelo uso continuado da mentira e pela distribuição de benesses, dissimular a sua incapacidade de bem governar e de querer ser popular.

Seria miopia atribuir os acontecimentos em foco apenas a um protesto pelo aumento no preço do transporte público urbano, em verdade um estopim do extravasamento da insatisfação e do basta de um povo carente também de seus direitos constitucionais de saúde, educação e segurança e ciente de que para tanto não há falta de recursos financeiros, abundantes para a construção de estádios de futebol e para outras obras que tanto contribuem para a corrupção contumaz da vida pública nacional.

Só não vê quem não quer e parece chegada a hora da voz das ruas reclamar também da ausência de um estadista à frente dos destinos do país para substituir o governo da famosa “base aliada” capaz de viabilizar desmandos, justificar erros e legalizar ações criminosas. E o povo se fez ouvir!
 

Louvores à democracia certamente não faltarão, o que é bom, mas não se deve esquecer que é indispensável ao seu pleno exercício a presença de instituições fortes que assegurem à população o expurgo pronto e imediato de seus inimigos tais como os vândalos que mancharam as ordeiras e pacíficas marchas, afrontando a lei, a ordem e autoridades constituídas. Ser democrata não obriga ao medo de não reprimir e nem à covardia de assistir à distância o quase linchamento de um agente incumbido da proteção da cidadania e do patrimônio público.

A voz do povo é a voz de Deus! Que sejam poucos os ateus! Amém!
20 de junho de 2013
José Carlos Leite Filho é General de Exército na Reserva.

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