"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 20 de junho de 2013

A PALAVRA É DE VOCES

 

Eu poderia contar quais são as opiniões da imprensa francesa sobre as manifestações no Brasil. Eu poderia explicar a surpresa dos franceses ao ver o país do futebol se manifestar contra a realização de uma Copa do Mundo. Eu poderia também me aventurar a analisar as possíveis e pouco prováveis relações entre a primavera árabe e o caso brasileiro.

Ou, ainda melhor, poderia comparar as manifestações com o movimento de Maio de 68, ou com os protestos em Paris em 2005, quando tantos carros foram queimados. Também poderia falar da apropriação indevida do discurso por certos grupos. Eu poderia comparar a atuação da polícia brasileira com a da polícia francesa em casos de manifestações.

Eu também poderia falar da manifestação que está sendo organizada pela comunidade brasileira em Paris no próximo sábado e de sua legitimidade. Eu também poderia contar que os brasileiros que moram na França não deixaram de debater, se posicionar e apoiar todos os protestos, desde que começaram. Poderia estudar a impressionante movimentação nas redes sociais.



Também poderia me referir ao preço da passagem de ônibus na França ou elogiar o sistema de transporte público do país, só para fazer uma aproximação do tema.

Poderia contar que quantas vezes, cafés e bistrôs parisienses viram debates acalorados de brasileiros, nômades ou imigrantes, sobre a necessidade de uma mobilização. Poderia dizer que agora estamos nos perguntando o que vai acontecer depois.

Se fosse centrada em meus próprios problemas, poderia falar de minha incapacidade de me interessar, durante esta semana, por outros temas. Também poderia dizer que quando vivemos longe de nosso país de origem, alguns acontecimentos nos trazem de volta a nossa realidade de desterrados. Poderia dizer que esta semana, senti vontade de estar no Brasil por uma razão diferente das habituais.

Eu poderia até dizer que eu queria ver de perto as manifestações e, num rompante de indiscrição, poderia dividir com vocês minha frustração.

Mas desta vez, eu quero só observar, desde o ponto de vista que tenho em meu posto parisiense. A palavra agora é de vocês.

20 de junho de 2013
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV.

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