Três Histórias Eleitorais
Primeira história. Na entrada do Teatro Municipal do Rio, em 2006, para a opera Capuleti e Montechi, de Bellini, magnífico espetáculo com cantores, côro e orquestra do próprio teatro, sob a regência do maestro Silvio Barbato, duas elegantes mulheres conversavam a minha frente:
– Você já decidiu seus candidatos?
– Não, ainda está cedo. Só agora vou começar a prestar atenção neles, para escolher. Aliás, só tenho um, para deputado federal, o Álvaro Lins, aquele que foi chefe da Polícia Civil, um homem bonito, sério, capaz. Vou procurar o comitê dele, para pegar material, ver o numero certo.
– O comitê dele é longe, fica em Bangu, numa praça.
– O que? Lá em Bangu? Você tem certeza?
– Tenho, sim, um dia desses passei em frente, de carro. Comitê grande.
– Já perdeu meu voto. Você acha que eu votar em um candidato que tem comitê em Bangu, que deve ter vindo lá daquelas bandas? Vou procurar outro.
E foram ver a história eterna de Shakespeare, em que a disputa idiota de duas poderosas e granfinas famílias de Verona acabou levando Romeu e Julieta ao suicídio, bem antes e muito longe de Bangu e de Álvaro Lins, que foi eleito mas acabou cassado e preso, envolto em múltiplas irregularidades.
***
DIÁRIO DE PETRÓPOLIS
Segunda história, também em 2006, quando Lula se reelegeu. O jornal Diário de Petrópolis estava sem a capa, a página de fora, no fim de semana, na entrada da ecológica pousada Monte Imperial, em Petrópolis. Emanuele, simpática e competente recepcionista, jovem, linda e loura, como uma alemãzinha de Blumenau, me explicou:
– Sou eu que tiro a primeira folha, para os hospedes não perderem a paz, não se perturbarem com essas notícias políticas, todas muito ruins. Mas deixo o resto, a parte social, da cidade, de turismo, de viagens, e os classificados.
E continuou de consciência em paz, protegendo os hospedes.
***
COLA
Terceira história. Ainda em 2006, um paraibano, 50 anos, muito tempo de Rio, porteiro de edifício residencial, bom edifício, no coração do Leblon, me pergunta:
– Em quem o senhor vai votar para presidente?
– Então diga primeiro seu candidato.
– Não sei ainda, doutor. Não resolvi. Acho que vou votar no Cola.
– Cola? Quem é Cola?
– Aquele lá de Alagoas, que já foi presidente. Vou votar nele de novo.
Expliquei que Collor não era candidato, mas ele podia continuar votando em um candidato de Alagoas, a Heloísa Helena.
25 de janeiro de 2012
Sebastião Nery
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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