"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

DATA FOLHA EXPLICA: DILMA ROUSSEFF 59%, LULA 50%, FHC 16%


A pesquisa do Datafolha, comentada brilhantemente por Bernardo Mello Franco, Folha de São Paulo domingo 22, explica claramente as razões da popularidade que Dilma Rousseff herdou de seu antecessor e sua ampla aprovação no final do primeiro ano de mandato.

Nada menos que 59% consideram seu governo entre ótimo e bom. Trinta e três por cento regular, o que a meu ver significa abstenção, neutralidade. Apenas 6% acham seu desempenho ruim e péssimo. Fração muito pequena. Dividindo-se o maior pelo menor, afastando-se o neutro, nos deparamos com um coeficiente dos mais altos. Superior a 9 pontos.

As razões estão contidas nos números que, a exemplo de Freud em tantas questões e citações, esclarecem possíveis dúvidas. As respostas convergem para um plano de percepção.

No final do segundo mandato, a aprovação de Fernando Henrique Cardoso foi de somente 16 pontos. No mesmo período em cotejo, a de Lula atingia 50%. Mais de 3 vezes do que o presidente que o havia derrotado duas vezes. Tem que haver alguma razão lógica, já que sem lógica não se faz nada, não se conclui por coisa alguma concreta.

A meu ver, encontra-se na política salarial e,na oferta de emprego. No período FHC, os salários perderam feio para a inflação. No governo Lula, empataram, sendo que o mínimo ganhou disparado do IBGE. O desemprego com FHC – dados da memória do IBGE – atingiu 10%. Com Lula, baixou para 6,1%. Cada ponto vale 900 mil pessoas, já que a mão de obra ativa brasileira é de 92 milhões de pessoas.
Dilma Rousseff manteve o patamar e passa à população o empenho de ampliar o mercado de trabalho. Daí sua popularidade.

E não é só na baixa renda. Ao contrário. O Datafolha publicou estes números, Bernardo Mello Franco os destacou na reportagem. A aprovação da atual presidente atinge 59% entre os que possuem nível superior. Mais do que entre os de nível médio, 57%. Cresce nos de nível fundamental, 61 pontos.

Vamos ver, agora, por renda mensal: 53 pontos entre os que ganham acima de dez salários mínimos. Entre osque percebem de 5 a 10 SM, o ponteiro do Datafolha aponta 61%. Entre os que têm remuneração de 1 a 5 SM, a aprovação fica em 59%. Nesta faixa, em certos casos, existe a dificuldade de as pessoas se definirem.
Mas isso não é fator importante.

Fator importante, decisivo até, está no confronto entre duas perguntas que completam o levantamento. Para 36%, o desemprego vai diminuir, contra 32% que pensam o contrário. Agora vejam bem: para 46%, a inflação vai aumentar. Apenas diminuirá, este ano, na percepção de 16%. Para 35%, fica como está. O que se deduz? Que o emprego é mais importante, na visão existencial da maioria, do que a taxa do IBGE.
O endividamento tampouco angustia.

O que angustia é não ter salário para cumprir os compromissos assumidos.
O povo revelou, com estas respostas, um sentido moral bem mais elevado do que aqueles que pressionam os preços em demasia. Identificou em Lula e identifica em Dilma aliados. E, no lado tucano, a presença de adversários.
Se não desfizer essa nuvem, a oposição não vencerá nas urnas de 2014.

X X X X X X

Um outro assunto.

A presidente DilmaRousseff, como os jornais anunciaram, resolveu demitir Sérgio Gabrielli da presidência da Petrobrás. Está claro. Ele havia inclusive anunciado que não seria candidato às eleições deste ano. O Globo, na segunda-feira, informou que Maria das Graças Foster, diretora de Energia e Gás, assume a 13 de fevereiro.Vale lembrar que Gabrielli, meses atrás, como revelou a revista Veja, visitou José Dirceu no escritório político que ele mantinha (ou mantém) no Hotel Naoum,em Brasília. Fica claro no desfecho que a rota José Dirceu não é a melhor para chegar ao Palácio do Planalto.

25 de janeiro de 2012
Pedro do Coutto

NOTA AO PÉ DO TEXTO

E os bolsões Norte/nordeste onde se concentra a maior distribuição do Bolsa família? Onde entra essa multidão na pesquisa Datafolha? E os aposentados, que sofrem uma política de restrição e descaso? E há, ainda, outros segmentos que não são apontados na pesquisa, e que poderíamos incluir, por exemplo, o pessoal das filas intermináveis do SUS, ou das famílias que têm seus parentes acomodados no chão dos hospitais, ou aquela turma que marca uma consulta com prazo de meses para ser atendido? E a estudantada do ENEM?
Como explicar a pontuação de 59% dessa turma de nível superior, que assistiu nada menos que seis ministros defenestrados por corrupção em apenas um ano de governo? E os demais escândalos que pipocam por todo lado?
Como é possível uma pontuação 59 por pessoas que assistem um governo com uma base fisiológica, chamada eufemisticamente de "coalização"?
Ela também não sabia de nada, como o padrinho?!
Os pontos apresentados são relevantes, mas deixam na sombra os que habitam os fracassos importantes e decisivos do governo.
m.americo

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