Se quiser derrotar Barack Obama, Mitt Romney tem alguns meses para aprender a destacar seus pontos fracos e mascarar suas desvantagens políticas
As primárias republicanas devem durar seis meses, permitindo que todos os 50 estados norte-americanos deem sua opinião na escolha do candidato que concorrerá contra Barack Obama em novembro. Surpreendentemente, elas podem chegar ao fim poucos dias depois de terem começado.
No dia 10 de janeiro, uma semana após sua vitória no conservador estado de Iowa, Mitt Romney derrotou seus seis oponentes no liberal estado de New Hampshire, conseguindo quase o dobro de votos do segundo candidato. As pesquisas preveem uma vitória para Romney na Carolina do Sul no dia 21 de janeiro, e outra na Flórida no dia 31. Ainda que a disputa se estenda além disso, ele conseguiu mais doações e montou uma organização maior que a de todos os outros candidatos juntos. Salvo por uma surpresa, Romney deve conseguir a indicação. As pesquisas também indicam que, caso seja o indicado, ele tem uma chance real de derrotar um presidente que vive momentos complicados, tendo se aproximado cada vez mais do centrismo político.
Mas Romney tem muito a fazer. No momento, muitos norte-americanos o consideram um enigma: ele é inconsistente em algumas questões importantes, pouco carismático em público, e um membro compromissado de uma das religiões mais controversas do planeta. Nenhuma dessas críticas é exatamente injusta, mas elas são exageradas e incompletas. Na melhor das hipóteses, Romney deve conseguir dar aos Estados Unidos uma competente alternativa de centro-direita a Barack Obama. Mas ele tem que fazer um trabalho melhor do que o que fez até agora para realçar suas vantagens e diminuir suas fraquezas.
O lado positivo de Romney
A principal vantagem de Romney é o fato de ele ser um homem não-ideológico que fez algo que os Estados Unidos precisam. Em 2002, ele foi eleito para governar Massachussets, um tradicional reduto democrata, e aprovou uma versão da reforma da saúde, que é, ao mesmo tempo, seu maior feito e seu maior risco. Na época, um sistema baseado na ideia de que todos seriam obrigados a comprar seguros de saúde era uma ideia conservadora, e Romney fez um belo trabalho para conseguir que ele fosse aprovado (hoje, seu partido se opõe veementemente à reforma de saúde de Barack Obama, que foi baseada na reforma de Romney. Assim são as reviravoltas da política). Ele também revigorou as finanças do estado, e precisa fazer como que esses sucessos tenham mais destaque do que tiveram até agora. Assim que as primárias tenham terminado, e os independentes – e não os republicanos – se tornarem o eleitorado a ser conquistado, ele pode ter sérias chances de conseguir fazer isso.
Romney tem algo que o presidente e seus rivais republicanos não têm: experiência no mundo dos negócios. Por 25 anos ele tornou companhias mais eficientes, o que muitas vezes significa demitir muita gente, mas que também significa impulsionar o crescimento econômico. Romney afirma ter criado 100 mil empregos durante sua passagem pela consultora Bain. Esses números são impossíveis de serem provados, mas ele poderia ir mais longe para provar que os benefícios superam os custos. Sua tarefa também não foi ajudada pelos desastrosos ataques de seus colegas contra a reestruturação corporativa.
Por fim, Romney parece ser um homem firme. É difícil destacar algum tropeço em sua campanha. Ele pode ser pouco carismático, mas nenhum escândalo foi ligado a ele. Sua família é impecavelmente monogâmica. Aqueles que trabalharam com ele o admiram. E nas questões econômicas e de política externa, ele já reuniu equipes impressionantes, e moderadas.
O outro lado
Seus feitos são impressionantes, sem dúvida, mas e o lado negativo de Mitt Romney? Seu pragmatismo cria uma característica inconveniente: ninguém tem certeza sobre suas posições. A base republicana não o considera confiável em questões como os direitos dos homossexuais e o aborto. Isso não fará tanta diferença para os independentes (que certamente partirão do princípio de que todo candidato republicano deve dizer alguns absurdos para conseguir uma indicação). Mas o povo deve confiar em seu presidente nas questões principais, e, apesar de ter publicado um longo manifesto econômico, Romney se mantém vago sobre o quanto de seu manifesto será conquistado.
Não está exatamente claro como ele reformará os terrivelmente caros sistemas de saúde e pensões dos Estados Unidos. Suas visões sobre o que fazer com os 12 milhões de imigrantes ilegais do país também são um mistério. E nos pontos em que foi claro, ele, por muitas vezes, esteve errado: sua insistência em afirmar que no primeiro dia de seu mandato, irá denunciar a manipulação monetária da China, representa uma aproximação perigosa do populismo. Sua promessa de cortar os gastos federais para menos de 20% do PIB, um agrado aos extremistas fiscais do partido, também será um risco se for colocada em prática tão rapidamente quanto ele gostaria.
Romney terá outros problemas para seduzir o eleitorado. Ele será o candidato mais rico a conseguir a indicação, e carrega consigo a mácula da elite privilegiada. Seu pai também foi governador, e ele estudou direito em Harvard. Por outro lado, Obama também é um milionário, e também estudou direito em Harvard. Sua falta de carisma é um problema, mas talvez os Estados Unidos queiram menos discursos brilhantes e mais planos de reestruturação pragmáticos.
A última dificuldade de Romney é uma que, na verdade, não é problema algum: ele é um mórmon e, apesar dos protestos de seus correligionários,1/3 dos norte-americanos não os consideram cristãos. Não há muito que Romney possa fazer a respeito. Ele poderia falar sobre o extraordinário trabalho missionário dos mórmons, mas dificilmente dirá algo mais impressionante do que se disser que Deus revelou seus planos a um homem no estado de Nova York em 1820, assim como fizera na Palestina no início da era cristã. É importante lembrar que os Estados Unidos passaram décadas sem “ainda estar prontos” para um presidente católico ou um presidente negro. Eventualmente, a população passou por cima disso. O preconceito seria uma razão estúpida para que os republicanos rejeitassem um homem que lhes ofereceu a melhor chance de derrotar Barack Obama.
opinião e notícia
14 de janeiro de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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