Soberana que acelerar a aceleração desacelerada do crescimento…
Vejam bem…
O PAC, como sabe qualquer pessoa razoável, nunca existiu. Trata-se de uma etiqueta, de uma marca-fantasia, que se colocou num conjunto de obras. E se chama àquilo “Programa de Aceleração do Crescimento”. Quando a economia mundial ia bem, antes da quebradeira, acelerava; no segundo mergulho da crise, que pegou a Europa em cheio, aí o mundo sentiu o baque. E o acelerado Brasil cresceu 2,7% em 2011, menos que a maioria dos países da América Latina e do que a Alemanha em crise: 3%. De sorte que a “aceleração do crescimento”, que parecia obra da engenharia econômica nativa, depende dos humores da economia mundial. Os juros continuaram nos cornos da lua, sim, senhores, mas “estímulo”, à moda como se dá por aqui — com juros subsidiados do BNDES e desonerações tributárias — não faltou.
O PAC foi perdendo a força de marca-fantasia. Então é preciso criar alguma outra coisa, mover os tanques, dar a impressão de que algo grande pode acontecer. Que tal uma espécie de “PAC do PAC”? Vamos acelerar o Programa de Aceleração do Crescimento!!! Leiam o que informa Valdo Cruz e Flávia Foreque, na Folha. Volto em seguida:
*
Numa tentativa de mudar o foco do governo para uma agenda positiva, a presidente Dilma Rousseff faz amanhã uma reunião com um grupo de 27 grandes empresários e banqueiros do país para cobrar mais investimentos no setor produtivo. A reunião foi convocada num momento em que o Palácio do Planalto enfrenta uma fase de turbulência política em suas relações com o Congresso e o principal partido da base aliada, o PMDB. Segundo assessores, Dilma quer mostrar que a crise política não imobilizou sua administração e que sua prioridade continua ser fazer a economia crescer pelo menos 4% em 2012, depois de um crescimento de apenas 2,7% no primeiro ano de sua gestão. Dilma vai pedir aos participantes do encontro que invistam mais para acelerar o ritmo de crescimento.
Segundo o IBGE, os investimentos ficaram praticamente estagnados no segundo semestre do ano passado.
A intenção da presidente, disse um assessor, é despertar o “espírito animal” dos empresários, expressão que o ex-ministro Delfim Netto, conselheiro de Dilma, costuma usar para salientar a influência que as expectativas criadas pelo Planalto têm nas decisões dos investidores. A relação dos 27 pesos-pesados da economia chamados pelo governo é encabeçada pelo empresário Jorge Gerdau, do setor siderúrgico, que assessora a presidente na área de gestão e competitividade e ajudou-a a elaborar a lista. Também foram convidados Lázaro Brandão (Bradesco), Roberto Setúbal (Itáu), Emílio e Marcelo Odebrecht, Sérgio Andrade (Andrade Gutierrez), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Murilo Ferreira (Vale), José Roberto Ermírio de Moraes e Frederico Curado (Embraer).
Se os empresários repetirem em público o que dizem em conversas reservadas, Dilma ouvirá que a bola do jogo está nas mãos do governo, que teria que melhorar as condições da economia para que eles se sintam encorajados para voltar a investir. Nos encontros com assessores presidenciais, a principal reclamação do setor é que o próprio governo incentiva a direcionar parte do caixa para aplicações financeiras ao não agir contra os elevados custos tributários e logísticos.
(…)
Voltei
Entendo que o tal “lado animal” do empresariado compreende investir para obter lucros, né? Essa turma, felizmente, costuma gostar desse negócio — embora boa parte da publicidade das empresas sugira, hoje em dia, que as empresas brasileiras só pensam em produzir cidadania e preservar o verde para não deixar a Marina Silva chateada. Vivo esperando o momento em que os bancos, por exemplo, vão lançar o spread ecológico.
Sim, claro!, é melhor um governo que dialogue com o empresariado do que um que não converse e o mande plantar batatas. Em si, a coisa é bacana e tal. Mas qual é a pauta? Ninguém sabe, e eu ousaria dizer que ela não existe. Essa é uma reunião decidida pelo marketing, não por uma postura madura, uma estratégica decidida, com uma agenda definida a ser cumprida.
Ninguém reúne todo esse pibão aí para “bater uma DR”, para “discutir a relação”. Não que eu desconfie da competência da presidente Dilma para dar aula de capitalismo ao empresariado. Ela já deu aula, na juventude, consta, até de marxismo — que é coisa bem mais complicada. Mas vai dizer o quê? Vai fazer como técnico de vôlei quando pede tempo para interromper uma sequência de pontos do adversário: “Vamos lá, pô, os caras tão pegando a gente! Tem de ter mais garra!”? Estaria faltando adrenalina àquela linha de ataque?
Farei uma pergunta que se refere a Dilma e para os oito anos de governo Lula, tão apreciado, consta, pela turma: qual foi mesmo a grande mudança ou grande avanço da gestão petista, que independesse dos humores da economia mundial, além de juros subsidiados e desoneração tributária ad hoc? Alguém aí é capaz de citar uma ao menos, que tenha se integrado como patrimônio permanente?
Como é preciso lutar pela tal agenda positiva, lá vamos nós. Esse PAC do PAC vai render aos menos uns dois meses de noticiário…
21 de março de 2012
Por Reinaldo Azevedo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
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