Os terroristas se infiltraram na imprensa.
Os terroristas se infiltraram em nossa razão.
Os terroristas se infiltraram em nossa generosidade.
Os terroristas que se infiltraram na imprensa não andam armados, é evidente! A não ser de palavras delinquentes, com as quais, no fundo, justificam o ato de Mohammed Merah. O sentido moral de seus textos é um só: enquanto não houver um estado palestino, esses horrores continuarão a acontecer. Merah, diga-se, diz que matou em nome das… “crianças palestinas”. Tratei deste assunto aqui anteontem. Fui acusado por alguns cretinos de desviar o foco e, uma vez mais, “proteger Israel”…
Os terroristas que se infiltraram na imprensa não defendem abertamente os ataques terroristas islâmicos, mas, ao explicar a sua gênese, os colocam como efeito e desdobramento de todos os erros cometidos pelo Ocidente, especialmente pelos Estados Unidos. Não fosse isso, aquelas “pobres vítimas” não estariam matando. E, no entanto, estariam porque suas concepções e visões de mundo são anteriores à própria fundação do Estado de Israel.
Os terroristas que se infiltraram na imprensa, sem qualquer motivo mais evidente para sustentá-lo, viam nos atentados da França a mão da extrema direita xenófoba — que é detestável, sim. A questão é distinguir o justo combate a esse tipo de delinquência do esforço sistemático de alguns grupos para que o terrorismo islâmico passe a ser encarado como um dado da equação política.
Os terroristas se infiltraram em nossa razão porque, hoje em dia, mesmo alguns analistas capazes de entender a complexidade do mundo, que não estão ligados à causa islâmica e não cultivam o ódio sistemático à democracia ocidental, entendem ser “preciso negociar com eles”. No dia em que Mohammed Merah matou três crianças e um professor numa escola judia, o Conselho de Direitos Humanos da ONU, como destaquei aqui, convidou para um encontro um alto representante do Hamas. Atenção! São os líderes do Fatah que acusam o Irã de estar financiando de novo o governo terrorista da Faixa da Gaza.
Os terroristas se infiltraram e nossa razão, e não poderia haver maior evidência disso do que a declaração criminosa da britânica Catherine Ashton, chefe da política externa da União Europeia. Ela afirmou:
“Quando pensamos no que ocorreu hoje em Toulouse, quando nos lembramos do que ocorreu na Noruega no ano passado, quando sabemos o que ocorre na Síria, quando vemos o que acontece em Gaza e em diferentes pontos do mundo, pensamos nos jovens e nas crianças que perdem suas vidas”.
Ela discursava, na segunda, numa conferência internacional sobre a realidade dos jovens palestinos, organizada em Bruxelas, na Bélgica, pela Agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês).
Os terroristas se infiltraram em nossa razão porque, ao ler o que vai acima, não se distingue um movimento organizado, que transforma o terror em instrumento de luta política — e que, portanto, pode ser empregado também em momentos de paz, como habitualmente é — de situações de guerra, inclusive civil. A morte é triste em qualquer caso, claro! A morte de crianças, ainda mais triste — em qualquer lugar. Mas dona Ashton, tomada pela lógica do terror, pretende ignorar aqueles que claramente usam crianças como escudo e oferecem seus próprios filhos ao sacrifício para que possam demonizar os inimigos.
Os terroristas se infiltraram em nossa generosidade porque tendemos — muitos de nós, ao menos — a deitar um olhar compassivo, compreensivo, para a ação desses facínoras, enxergando-os como vítimas das circunstâncias, não como militantes ativos da morte. Seriam apenas seres que reagem a uma situação de opressão — os mais ingênuos os querem psicopatas, movidos por alguma forma de loucura individual.
Os terroristas se infiltraram em nossa generosidade porque nos negamos a ver que são apenas o braço armado de um movimento organizado que não reconhece o direito do “outro” à existência; que não suporta a convivência com a diversidade; que tem a ambição de impor os seus valores particulares como regra universal, embora eles neguem, em essência, algumas das nossas melhores conquistas nos últimos 250 anos:
- as liberdades individuais:
- a liberdade religiosa;
- a liberdade de expressão;
- a igualdade de direitos entre homens e mulheres;
- a separação entre religião e estado.
Os terroristas se infiltraram em nossa generosidade porque eles acabaram convencendo muitos de nós — por meio de ameaças e da violência — que temos a obrigação moral de criticar os fundamentos da nossa própria civilização, tanto quanto devemos manter intocados e intocáveis os deles.
Os terroristas se infiltraram em nossa generosidade porque conseguiram fazer triunfar a ideia de que, em nome de nossas convicções, devemos aceitar seus valores particulares, embora eles, em nome das deles, decidam nos matar porque não suportam os nossos valores.
Encerro
Vai aqui uma dica para identificar um filoterrorista:
Qualquer articulista que flertar, ainda que de modo oblíquo, com uma suposta relação entre os atentados da França e a “violência de Gaza” é um justificador do terrorismo. Ele próprio, diga-se, só não é um terrorista porque consegue juntar à delinquência moral daquele a própria covardia. Prefere fazer especulações sobre as virtudes de matar com o traseiro confortavelmente instalado no sofá.
21 de março de 2012
Reinaldo Azevedo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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